Trump: o presidente americano deve anunciar sua decisão sobre o acordo nuclear do Irã (Kevin Lamarque/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de maio de 2018 às 14h30.
Uma reimposição das sanções americanas ao Irã certamente afetaria sua economia, que já está sofrendo há meses com a incerteza do presidente Donald Trump sobre o acordo nuclear iraniano e com seus próprios problemas internos.
Trump deve anunciar nesta terça se seu país continua no acordo alcançado em 2015 e se restabelecerá as sanções contra o Irã.
No domingo, o salão internacional petroleiro anual de Teerã teve início em um ambiente "sombrio", disse uma assistente à AFP. "Havia menos estrangeiros, os estandes eram menores, foi deprimente", acrescentou a consultora.
Segundo o jornal iraniano Hamshari, os organizadores do salão anunciaram uma redução na taxa de comparecimento de um terço em relação a 2017.
Desde o levantamento de uma parte das sanções internacionais pelo acordo nuclear de Viena, o Irã assinou apenas um acordo importante em 2017 no campo petrolífero, com a francesa Total, associada à chinesa CNPC, para um investimento de 5 bilhões de dólares.
A Total voltou ao Irã, mas continuar lá depende em grande medida do anúncio de Trump, muito hostil ao acordo de 2015, que quer um levantamento gradual e condicional das sanções internacionais em troca da garantia de que o Irã não vai se equipar com a arma atômica.
Devido à manutenção das sanções americanas contra o Irã - não relacionadas com a energia nuclear - os bancos europeus permanecem em espera diante da perspectiva de facilitar transações com a República Islâmica, mesmo quando são estimulados pelos seus governos a fazê-lo.
"Fomos ao Ministério da Economia francês e eles nos deram uma lista de todos os bancos que concordariam em trabalhar com o Irã. Quando ligamos para eles, todos disseram não", contou o empresário francês Amaury de la Serre - que abriu um restaurante japonês de luxo em Teerã no ano passado.
Após a assinatura do acordo nuclear, o Irã colecionou promessas de investimentos. Mas, segundo o Banco Mundo, o montante líquido de investimentos diretos estrangeiros no país foi de 3,4 bilhões de dólares em 2016. O presidente Hasan Rohani mirava em 50 bilhões.
Para os iranianos, o acordo é uma "verdadeira frustração", disse Ardavan Amir Aslani, advogado franco-iraniano, cofundador do escritório francês Cohen Amir-Aslani, representado em Teerã desde 2016.
"Eles puderam vender seu petróleo, ok, apenas suficiente para pagar os funcionários e manter as estruturas, mas não atraiu nem uma fração dos investimentos necessários", explicou.
As dificuldades persistentes da economia influenciam na cotação do rial, e a incerteza criada por Trump produziu uma forte especulação contra a moeda iraniana que, em pouco mais de seis meses, perdeu cerca de 40% de seu valor em relação ao dólar.
Isso provocou uma forte inflação e levou as autoridades a darem fim à livre flutuação da moeda nacional.
É impossível verificar os dados, mas vários analistas e autoridades falam de uma fuga de capitais de entre 10 bilhões e 30 bilhões de dólares em apenas alguns meses.
Contudo, nem todas as dificuldades econômicas iranianas estão ligadas a Trump.
A crise do sistema bancário, a debilidade do setor privado em uma economia muito estatizada e o desemprego juvenil maciço não são novidades.