Impostos sobre grandes fortunas ganham apoio na América Latina
Região mais desigual do mundo, América Latina vê iniciativas que visam ampliar a taxação de fortunas e empresas ganharem apoio e avançarem
Bloomberg
Publicado em 10 de abril de 2021 às 21h57.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 10h09.
Iniciativas para tributar os ricos têm ganhado apoio em toda a América Latina, a região mais desigual do mundo, enquanto tenta se recuperar da pior recessão em dois séculos.
Nos últimos meses, parlamentares do Chile e do México propuseram impostos com base no patrimônio líquido de um indivíduo, assim como um dos favoritos na corrida presidencial do Peru. O Ministério da Fazenda da Colômbia enviará proposta de um novo imposto sobre fortunas ao Congresso nos próximos dias, enquanto Argentina e Bolívia já aprovaram medidas semelhantes.
A dívida pública aumentou para 79% do PIB da região no ano passado, o nível mais alto em décadas, depois que a pandemia provocou uma recessão profunda e encolheu a receita tributária. Nessas circunstâncias, a ideia de fazer os ricos cobrirem os custos da Covid-19 ganha força em alguns círculos políticos.
A região não está sozinha: o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que um imposto sobre ricos e empresas é “uma das opções na mesa.” O estado de Nova York, sede do centro financeiro mundial, tem planos de aumentar temporariamente impostos sobre milionários.
Os impostos sobre patrimônio cresceram em popularidade desde que o economista francês Thomas Piketty descreveu o aumento da desigualdade em seu best-seller de 2014 “O Capital no Século XXI” e defendeu um imposto anual progressivo sobre o capital para reduzir a lacuna.
De acordo com o novo imposto da Argentina, qualquer indivíduo com ativos acima de 2,2 milhões de dólares (12,5 milhões de reais) deve pagar uma “contribuição extraordinária” única até 16 de abril. A alíquota varia de 2,25% a 5,25%, dependendo do tamanho da fortuna e se os ativos são mantidos localmente ou no exterior.
Ainda assim, resultados iniciais mostram que tributar os ricos é mais fácil de falar do que fazer: até março, o governo havia arrecadado apenas 6,1 bilhões de pesos (66 milhões de dólares, ou 375 milhões de reais) de argentinos ricos, bem abaixo dos 300 bilhões projetados por parlamentares quando o imposto foi aprovado pelo Congresso no final do ano passado.
A autoridade tributária da Argentina adiou o prazo para que indivíduos ricos enviem os cheques e teve que ajustar as regras, oferecendo planos de pagamento. Um executivo argentino de tecnologia conseguiu uma decisão favorável de um juiz e não terá que pagar o imposto. Câmaras empresariais alertam que o imposto pode desincentivar investimentos e contratações.
No entanto, impostos sobre patrimônio bem planejados, como os da Noruega e da Suíça, podem aumentar a receita tributária e reduzir a desigualdade sem ameaçar empregos e investimentos, de acordo com Fernando Velayos, consultor de política tributária na Espanha e ex-pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento.