Haddad: não há tempo para governo mudar meta fiscal de 2024 para um déficit de até 0,75% do PIB
Segundo o ministro, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) foi fechado com Lula antes da viagem para África do Sul
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 29 de agosto de 2023 às 15h25.
Última atualização em 29 de agosto de 2023 às 16h05.
Uma semana após o Congresso aprovar o novo arcabouço fiscal com a previsão de o governo zerar o déficit público em 2024, ministros da ala política do governo têm sinalizado disposição emalterar a meta fiscal para um rombo nas contas de até 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. Apesar desse debate, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) foi fechado com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da viagem para a África do Sul.
"Nem teria tempo de mudar o orçamento. Está pronto há 15 dias. Dia 31 a gente apresenta os parâmetros, os dados e as medidas fiscais. O orçamento está indo [para o Congresso] equilibrado. Equilibrado significa que as receitas primárias são iguais as despesas primárias. O orçamento está pronto há 15 dias. Não tem nem como mudar o orçamento. Estão fechando os últimos atos, exposição de motivos. O orçamento foi fechado com o presidente antes da viagem para a África. Nem sei da onde saiu [essa notícia]", disse.
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Técnicos da Fazenda ouvidos pela EXAME também afirmaram que que pasta mantém a posição prevista na nova lei, que ainda precisa ser sancionada por Lula.
Mudança de meta afetaria queda de juros
Os auxiliares de Haddad ainda relembraram que o novo arcabouço já possui uma banda de tolerância que admite um déficit de até 0,25% do PIB no próximo ano.Eles foram categóricos ao afirmar que a mudança da meta fiscal de 2024 não está em discussão na Pasta.
"Sabemos que essa mudança traria diversos prejuízos para o trabalho que temos feito para dar credibilidade ao país. Mudar a meta uma semana após a aprovação do arcabouço fiscal seria péssimo e colocaria em risco até o processo de queda de juros que está em curso", disse um técnico da equipe econômica.
Outro técnico do governo afirmou que a discussão sobre a mudança da meta fiscal partiu de ministros da ala política, preocupados com a queda da arrecadação e com a necessidade de encontrar recursos para bancar projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Entretanto, o mesmo técnico afirmou que o martelo ainda não foi batido sobre uma eventual mudança da meta.
Mercado reage mal a eventual mudança de déficit
A eventual mudança da meta fiscal de 2024 supreendeu negativamente o mercado. Investidores estrangeiros ouvidos reservadamente pela EXAME afirmaram que a sinalização do governo tem potencial para implodir a pouca credibilidade construída por Haddad nos oito primeiros meses da gestão petista.
"Ninguém no mercado acredita que o governo vai zerar o déficit público no próximo ano. Muita gente espera um déficit mais perto de 0,8% do PIB. Mas o Haddad tem sinalizado disposição em enfrentar esse problema e contar o ímpeto gastador do PT. Isso é bom. Se a economia crescer em 2024, esse déficit de 0,8% pode cair para 0,5% ou para menos. Isso seria uma vitória. Mas alterar a meta agora seria uma sinalização péssima e o BC teria argumentos para frear a queda de juros. As expectativas ficariam mais mais desancoradas", disse um gestor de um fundo estrangeiro.