Governo aposta em três projetos que somam R$ 56 bilhões para destravar investimentos verdes
Projetos para fábrica de hidrogênio verde no Ceará, biorrefinaria na Bahia e planta industrial para produção de fertilizantes verdes em Minas Gerais são acompanhados com lupa pelo Executivo
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 11 de setembro de 2024 às 11h42.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 14h57.
O desenrolar de três grandes projetos em andamento no Brasil são acompanhados com lupa pelo governo e podem significar uma nova fronteira de investimentos verdes para reduzir a emissão de carbono, afirmaram à EXAME técnicos da equipe econômica. São esperados aportes de US$ 10 bilhões para viabilizar os empreendimentos, mais de R$ 56 bilhões na cotação atual.
São eles:
- Uma fábrica de hidrogênio verde no porto de Pecém, no Ceará, que será construída pela mineradora australiana Fortescue;
- Uma biorrefinaria para produzir, a partir da macaúba, diesel renovável e combustível sustentável de aviação em São Francisco do Conde, na Bahia, que será construída pela Acelen Renováveis; e
- Uma fábrica de fertilizantes verdes em Uberaba, em Minas Gerais, que deve ser construída pela suíça Atlas Agro.
"Esses três projetos destravam o pipeline e sinalizam o compromisso do Brasil com as novas tecnologias", disse um assessor da equipe econômica. A ideia do governo é que os três projetos sejam financiados com recursos de bancos privados, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de investimentos.
Enquanto os Estados Unidos têm liderado a atração de investimentos verdes com fortes subsídios financeiros, no Brasil o ambiente é de restrição fiscal. Entretanto, a matriz energética brasileira, que já é limpa, o agronegócio pujante, a incidência solar e o volume de ventos privilegiados, além da energia barata, são fatores importantes na atração de investimentos, afirmou um técnico do governo.
Um exemplo disso é que a Atlas Agro deve investir US$ 1,5 bilhão em uma fábrica de fertilizantes verdes nos Estados Unidos, iniciar a produção em 2027 e aplicar outros US$ 1 bilhão no Brasil em uma planta industrial semelhante, que deve começar a produzir em 2028. A fase de pré-engenharia do projeto já foi concluída e a decisão final de investimento deve ser tomada no próximo ano.
“Estamos 100% comprometidos com o Brasil, que é um país estratégico por ser um dos grandes produtores de alimentos do mundo, com grande consumo de fertilizantes. Entretanto, pouco fertilizante é produzido aqui e quase tudo é importado. A fábrica de Uberaba é o primeiro projeto e vemos espaço mais plantas”, afirmou o diretor de Operações da Atlas Agro, Rodrigo Santana.
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Hidrogênio verde no Ceará
No Ceará, a Fortescue já recebeu a primeira licença prévia e iniciou as obras de terraplanagem na área de 100 hectares. O plano prevê a produção 837 toneladas de hidrogênio verde por dia, a partir de 2027. Para isso, planeja um consumo de 2,1 GW de energia renovável.
Em julho, a empresa anunciou adecisão antecipada de investimento do conselho de administração. Com isso, o projeto está a um passo da decisão final de investimento, que deve ocorrer em 2025. São esperados investimentos de US$ 6 bilhões.
Procurada, a Fortescue não se manifestou até a publicação da matéria, mas a EXAME apurou que a expectativa no governo federal é alta na execução do projeto.
Combustíveis verdes na Bahia
A Acelen Renováveis deve iniciar em dezembro o investimento de US$ 3 bilhões na biorrefinaria de São Francisco do Conde, na Bahia. A empresa planeja plantar macaúba em 180 mil hectares de terras degradadas para produzir o óleo vegetal que será misturado ao diesel, para criar o diesel verde, e ao querosene de aviação (QAV), para gerar combustível sustentável de aviação.
A expectativa da Acelen é produzir 1 bilhão de litros por ano, movimentar US$ 17 bilhões na economia, contribuir para geração de 90.000 postos de trabalho diretos e indiretos e reduzir em até 80% as emissões de CO2 com a substituição do combustível fóssil.
"A Acelen será um gatilho para a agregação de valor no Brasil e um gatilho para posicionar o país na vanguarda da descarbonização global", disse o diretor de Certificação e Descarbonização da Acelen Renováveis,Yuri Orse.