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Freada da economia chinesa é real, mas não atinge todos os setores

Enquanto Apple, Volkswagen e outras empresas assustam quando divulgam seus números no país, há quem traga otimismo, como marcas de vestuário e acessórios

Pequim, China, 5 de fevereiro de 2019: manifestações artísticas marcam o Ano Novo Lunar (Artyom Ivanov \ TASS/Getty Images)

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 18h41.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2019 às 18h46.

Se a economia chinesa está mesmo piorando, alguém precisa avisar Jasmine Wang.

“Meus pais não me pediram para gastar menos”, disse a universitária de 22 anos, que mora em Pequim e coleciona perfumes de edição limitada de marcas como Chanel e Guerlain, que chegam a custar US$ 300 cada.

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Ela conta que seus pais bancam suas despesas mensais, que variam de 6.000 a 8.000 yuans (US$ 1.186), e continuarão fazendo isso se ela não conseguir emprego.

Wang é apenas uma jovem da Geração Z que tenta encontrar seu próprio caminho em um país de 1,4 bilhão de habitantes. Mas a história dela reflete o enigma que investidores tentam destrinchar quando avaliam a segunda maior economia mundial.

Enquanto Apple, Caterpillar, Volkswagen e outras companhias assustam Wall Street quando alertam sobre o enfraquecimento dos negócios na China, há quem esbanje otimismo, incluindo marcas de vestuário e acessórios que atraem consumidores endinheirados, como Wang.

“Não estamos observando uma desaceleração”, disse Patrice Louvet, presidente da Ralph Lauren, que registrou aumento de 19 por cento da receita na China no trimestre passado.

O rápido crescimento que a China demonstrou durante anos está diminuindo e a guerra comercial com os EUA abalou negócios. Dezenas de multinacionais alertaram sobre a piora da demanda. No caso da Caterpillar, as vendas caíram inesperadamente no quarto trimestre do ano passado. Centenas de empresas chinesas também avisaram que os lucros estão aquém do previsto.

Outras estão animadas com os negócios no país asiático. A Toyota Motor está intensificando esforços naquele mercado e lançando uma versão completamente nova do Corolla, o veículo mais vendido do mundo. A gigante francesa de marcas de luxo LVMH e a fabricante britânica de bebidas destiladas Diageo apresentaram vendas robustas por lá.

“Os jovens filhos únicos de Pequim talvez não sintam os efeitos”, disse Sara Hsu, professora especializada na economia chinesa da Universidade Estadual de Nova York em New Paltz. “Mas esse não é o perfil de muita gente.”

Difícil interpretação

Sempre foi difícil avaliar a economia chinesa. O governo produz menos indicadores do que outros países grandes e a ajuda estatal complica o entendimento da demanda real. Por isso, especialistas consideram as informações das empresas mais reveladoras.

Os dados oficiais “não refletem o que está acontecendo em toda a economia chinesa”, disse Leland Miller, presidente da China Beige Book. “Há bem mais fraqueza agora e é um problema porque os investidores não compreendem.”

Uma das maiores preocupações dele é o fato de as empresas locais terem tomado empréstimos pesados nos últimos três trimestres sem que isso tenha impulsionado os investimentos ou o crescimento econômico.

Na semana passada, mais de 400 companhias com ações listadas em bolsa avisaram que os resultados de 2018 pioraram.

Um corte de impostos para pessoa jurídica, que foi colocado como possibilidade, não ajudaria tanto porque muitas empresas são estatais e já pagam pouco imposto. Juntando a isso a guerra comercial, é um quadro que pode se agravar rapidamente.

“O que realmente poderia piorar tudo é se as negociações comerciais fracassarem e isso se somar à fraqueza atual”, disse Miller. “Certamente haveria uma crise na China.”

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