Exame Logo

Fraga volta ao jogo

O BC eleva o compulsório, reduz a possibilidade de os bancos comprarem dólares e, para analistas, pode elevar os juros

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h24.

Mal voltavam do tradicional almoço mais longo de sexta-feira, os operadores foram surpreendidos pela notícia de que o Banco Central (BC) estava de volta ao jogo. Após algumas semanas de atuação apática, que limitava-se a acompanhar as oscilações do mercado e a fornecer liquidez quando necessário, o BC voltou a atacar o fulcro da especulação. A autoridade monetária fez aquilo que só ela pode fazer: mudar as regras a seu favor. E sua atuação foi surpreendente, rápida e - pelo menos a curtíssimo prazo - mortal para a especulação do mercado.

O BC anunciou duas medidas. A primeira foi elevar os depósitos compulsórios sobre as cadernetas de poupança de 5% para 10%. O compulsório dos depósitos a vista e dos depósitos a prazo avançou de 3% para 8%. Pelas contas do mercado, essas medidas devem retirar de 14,0 a 14,7 bilhões de reais do sistema financeiro. "É como pisar no tubo de oxigênio dos bancos que estavam especulando com câmbio", disse um administrador de fundos cambiais. "O sistema vai ter muito menos dinheiro para comprar dólar."

Veja também

Além de reduzir a demanda, o BC voltou a atacar para aumentar a oferta de moeda americana. Repetindo uma decisão anunciada na segunda-feira, ele aumentou a exigência de capital mínimo dos bancos para a compra de dólares. Na segunda-feira passada, o BC havia elevado essa exigência de 50% para 75%. Agora, no início da tarde desta sexta-feira (11/10), voltou a elevá-la de 75% para 100%.

Isso quer dizer que um banco que tem 100 milhões de reais de capital poderia, na segunda-feira passada, comprar 200 milhões de reais em dólares. Pela primeira decisão, ele poderia comprar apenas 133 milhões. Agora, só pode comprar 100 milhões. Se o banco já comprou os dólares, terá cinco dias para vendê-los se não quiser ser punido pelo BC. "Agora, todo mundo que comprou vai ter de vender um pouco, o que vai deixar o mercado de dólares bem mais líquido", diz o tesoureiro de um banco internacional.

Tem mais. Essas medidas já foram anunciadas, mas o mercado não descarta a hipótese de o BC ir além na decisão de conter a especulação. Alguns analistas acreditam que a mesa do BC poderá anunciar ainda hoje ou na segunda-feira um aumento dos juros, para elevar o custo do dinheiro para os bancos e tornar mais cara - e menos rentável - a especulação com o câmbio.

A reação do mercado às decisões do BC foi imediata. O dólar literalmente desabou. A cotação da moeda americana recuou de 3,94 reais para 3,75 reais, uma queda de 5%, logo após o anúncio. Depois o dólar recuperou-se um pouco e está sendo negociado a 3,82 reais, uma baixa de 3%. A queda no mercado futuro foi ainda mais expressiva.

A expectativa de alta nas taxas de juros elevou os preços do dinheiro. As taxas dos contratos futuros de juros com vencimento em janeiro começaram o dia a 20,7% ao ano e, no início da tarde, haviam subido para 21,6%. Por isso, foi revertida a leve alta da manhã na Bovespa.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame