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EUA podem precisar de um novo pacote de estímulo, diz Nobel

Eric Maskin diz que as atuais medidas para reaquecer a economia americana podem não ser suficientes

Eric Maskin, professor de Princeton e Nobel de Economia de 2007 (--- [])
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Para Eric Maskin, professor de Princeton e Nobel de Economia de 2007, as medidas de estímulo econômico adotadas pelo governo americano podem ser insuficientes. Ele teme que o impacto da crise continue a inibir o consumo - o que impedirá o governo de tomar medidas para reduzir o déficit público. "É desejável ter um déficit alto numa hora dessas pois a economia precisa de estímulo". Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva a EXAME:

EXAME - As bolsas do mundo inteiro seguem em disparada, e a opinião dominante indica que o pior já passou. O senhor concorda?
Maskin -
Para mim, está claro que a crise ainda não acabou. É verdade que há sinais de que passamos pelo fundo do poço. Mas, a rigor, muitas coisas estão apenas começando a piorar. Houve uma dramática perda de riqueza, e isso trará efeitos dramáticos para a economia. Se você fica mais pobre, poupa mais. É bom para você. Mas, se todos decidem poupar ao mesmo tempo, é ruim para a economia como um todo. Agora estamos nessa fase. A poupança, que era zero, passou para 5%. Com as pessoas gastando menos, a economia cresce menos. Então ainda falta muito para dizer que a crise passou.

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EXAME - Quando tempo vai levar até que esse efeito passe, ou seja, até que os americanos se sintam ricos de novo e voltem a consumir?
Maskin -
Eu espero que os preços das casas não voltem ao patamar anterior à crise. Os preços estavam loucos. Então é bom que isso não aconteça tão cedo.

EXAME - Por que os americanos pararam de poupar?
Maskin -
Se você acha que o preço da sua casa vai subir para sempre, não precisa poupar. A casa vira sua poupança. Foi isso que aconteceu nos Estados Unidos. O preço das casas só subia. Além disso, as pessoas esqueceram que as crises acontecem. À medida que o tempo passa, as pessoas tendem a esquecer que um desastre pode acontecer, e que é preciso se preparar para eles.

EXAME - Como a atual recessão vai mudar a cara das maiores economias do mundo?
Maskin -
É simples. No caso do país que consumia, os Estados Unidos, as exportações terão de crescer. Isso já vem acontecendo. O balanço de pagamentos, por exemplo, já está muito melhor que estava antes da crise. E, enquanto o consumidor americano continuar retraído, outros países terão de consumir mais. A taxa de poupança chinesa, por exemplo, terá de cair para que o consumo cresça. (Continua)


EXAME - O pacote de estímulo está ajudando?
Maskin -
Esses são tempos especiais, que requerem medidas especiais. É desejável ter um déficit alto numa hora dessas, pois a economia precisa de estímulo. O pacote foi necessário, e temo que não seja suficiente.

EXAME - O senhor defende um segundo pacote, então?
Maskin
- Acho que pode ser necessário, em razão do impacto da crise no consumidor. Essa não é a hora de se preocupar com o déficit. Durante a Grande Depressão, o governo (Franklin) Roosevelt cortou gastos públicos e aumentou impostos. Foi uma decisão errada, que piorou a situação da economia.

EXAME - Olhando para a economia americana daqui para a frente, muitos economistas afirmam que o país não conseguirá repetir os saltos de produtividade dos últimos quinze anos. Para eles, os americanos estão perdendo a "corrida da inovação" para outros países, como China e Índia. O senhor compartilha esse temor?
Maskin -
Isso não deveria tirar o sono de ninguém. Somos os líderes em inovação há muito tempo. A inovação é a chave para o crescimento econômico, mas, ao contrário do que muitos pensam, não importa de onde ela surge, mas como é usada. Aqui, é mais fácil que avanços tecnológicos se transformem em aumentos de produtividade.

EXAME - Falando em inovação, mas na inovação financeira. O senhor teme um excesso de regulação do mercado financeiro em resposta à crise?
Maskin -
Com certeza. O governo precisa encontrar uma maneira de criar a nova regulação do sistema financeiro, que é algo necessário, e ao mesmo tempo não impedir o florescimento da inovação. A falta de regulação foi, sem dúvidas, uma das mais importantes causas da atual crise. Mas regular demais seria um erro. E esse é um risco muito grande, dado o clamor popular contra os bancos.

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