Economia

Empreendedores brasileiros vivem novo contexto histórico

Para o professor da USP Jacques Marcovitch, o empreendedorismo brasileiro vive novos desafios e vê nascer uma nova geração de líderes empresariais 

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h49.

O contexto histórico que forjou os grandes empreendedores do capitalismo brasileiro não vai se repetir. Mas, para o ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), professor Jacques Marcovitch, a mudança de cenário não impossibilita o surgimento de uma nova geração de líderes, embalada por fronteiras recém-abertas de atividade econômica no Brasil.

Autor da série Pioneiros e Empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil (EdUSP/Saraiva), Markovitch foi instigado a compilar a trajetória pessoal e empresarial de referências do capitalismo brasileiro quando começou a lecionar na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). "Falávamos sobre grandes nomes europeus e americanos, sempre ignorando a história de empreendedores fundamentais para nosso desenvolvimento empresarial", diz.

O segundo livro da série foi lançado nesta quinta-feira (9/6) na USP, e aborda as realizações de Irineu Evangelista de Souza (o Visconde de Mauá), Luiz de Queiroz, Attilio Fontana, Valentim dos Santos Diniz, Guilherme Guinle, Wolff Klabin, Horácio Lafer, José Ermírio de Moraes e Johannes Heinrich Kaspar Gerdau. A terceira etapa vai tratar de empresários do Norte e Nordeste.

Leia a seguir entrevista concedida pelo autor ao Portal EXAME.

Portal EXAME O Brasil está formando novas gerações de grandes líderes empresariais, como os personagens de seu livro?

Jacques Marcovitch Não e sim. "Não" porque os novos empreendedores não vão vivenciar as adversidades que seus avós e bisavós enfrentaram. Boa parte dos pioneiros veio da Europa buscando refúgio dos grandes conflitos de seu tempo. Imigrar é abandonar raízes e ir sem perspectiva ao encontro do outro. Isso forjou a fogo líderes que começaram, na maior parte das ocasiões, do nada, movidos pelo instinto de sobrevivência. É algo que não se repete. "Sim" porque o Brasil está passando por uma fase de abertura de novas fronteiras. Nessa ampliação de horizontes, tanto em termos populacionais quanto em novos campos de atuação econômica, acabam formando-se novas lideranças.

EXAME O que chama a atenção na comparação dos grandes empreendores americanos e europeus com os pioneiros brasileiros?

Marcovitch As pessoas selecionadas para o livro construíram grandes empreendimentos em um Brasil marcado por epidemias e pela ausência total de infra-estrutura, em fins do século 19 e início do século 20. Nesse sentido, seus feitos são mais impressionantes do que de seus pares na Europa e nos Estados Unidos, que atuavam em ambientes já amadurecidos para os negócios.

EXAME Intuição pesa mais que formação? Indivíduos prevalecem sobre instituições?

Marcovitch Há um predomínio do instinto, porque esses homens foram sobreviventes. Então, há uma sensibilidade forjada na juventude. Mas não é uma intuição que não se sabe de onde veio, tem uma origem clara, que é um contexto adverso que põe no topo da agenda a necessidade de sobreviver, constantemente. Isso levou-os a desenvolver uma compulsão de auto-superação. Agora, mesmo os empreendedores de origem modesta logo perceberam a importância do conhecimento. Um dos exemplos é Luiz de Queiroz, pioneiro também do ensino superior, da ciência e tecnologia aplicadas à agricultura. Já o ambiente institucional é absolutamente exógeno. Pode atrapalhar ou ajudar na realização das metas e sonhos dos empreendedores, mas jamais é determinante.

EXAME Como surgiu a idéia do livro?

Marcovitch Num primeiro momento, quando comecei a dar aulas na FEA. Eu percebi que mencionávamos sempre pioneiros e empreendedores de outras culturas e outros países, jamais citávamos os nossos. Depois, verificando as listas de obras fundamentais para a compreensão do Brasil, vi que elas nunca incluíam livros na área de administração, no sentido de explicar as raízes do desenvolvimento empresarial brasileiro. Isso indica a carência de uma história sistematizada dos negócios e de seus grandes realizadores no país.

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