Economia

Efeitos concretos do corte de juros nos EUA dividem especialistas

Economistas brasileiros concordam que medida do Fed sinaliza confiança na recuperação, mas divergem sobre o quanto ela afasta risco de desaceleração brusca

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h57.

Analistas de alguns dos mais importantes bancos de investimento do Brasil receberam como uma injeção de confiança na economia mundial a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de reduzir a taxa básica de juros nos Estados Unidos de 5,25% para 4,75%. Ainda não há consenso, porém, sobre o quanto a medida ajuda a afastar o temor de contaminação da economia real pela crise imobiliária americana.

O aspecto da confiança chamou atenção dos economistas em parte pela relativa surpresa com que o corte de meio ponto foi recebido. Até a tarde desta terça-feira (18/09), quando o Fed divulgou o resultado da reunião sobre os juros, a maior parte das previsões apostava em queda de 0,25 ponto.

Com o aprofundamento do corte, o banco central americano mostrou estar disposto a priorizar a proteção da economia real, na opinião do economista Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda.

"O fantasma que rondava os mercados, de uma desaceleração brusca e forte da economia americana, vai sair do cenário. Ninguém duvida que os Estados Unidos sofrerão uma desaceleração, puxada pelo mercado de imóveis, mas o que o Fed tentou evitar é que isso se torne uma crise mais grave e desnecessária", afirma Maílson.

O ex-ministro acredita que mesmo sob uma taxa menor de juros, a inflação americana permanecerá dentro das metas previstas, uma vez que a redução do ritmo de crescimento se encarregará de diminuir a pressão sobre os preços.

Mudança histórica no Fed

Essa ação enérgica do Federal Reserve ganhou destaque também na análise da economista-chefe do Banco Espírito Santo, Sandra Utsumi. Ela diz que a redução de 0,5 ponto nos juros foi assimilada positivamente pelas corretoras e pode ser vista como uma antecipação ao risco de recessão, atitude que segunda ela reforça a tendência de mudança na maneira de o banco central americano agir.

"Foi o segundo sinal em pouco tempo de que o Fed pode estar passando de instituição conservadora para instituição ativa e estrategista. O primeiro veio na semana de 17 de agosto e agora fizeram esse corte", ela diz, referindo-se à data em que o governo americano reduziu em 0,5% a taxa de juros de seus empréstimos a bancos, para aumentar a liquidez do sistema financeiro.

O sócio-diretor da Quest Investimentos, Paulo Miguel, concorda com o aumento de confiança na agilidade do banco central americano, mas ressalva que o corte desta terça-feira não é capaz de afastar a possibilidade de desaceleração pesada, especialmente nos próximos dois trimestres.

"Para o mercado imobiliário, a ação do Fed não traz impacto importante, o ajuste para baixo vai continuar, enquanto para os outros setores da economia, somente um afrouxamento sustentado vai garantir diminuição o risco", opina.

Efeitos para o Brasil

Os três analistas concordam que o Brasil tende a se beneficiar da redução dos juros nos Estados Unidos, à medida que fica mais improvável que a crise nos Estados Unidos afete o comércio global e a capitalização dos mercados financeiros internacionais.

"Embora o Brasil tenha se mantido forte mesmo diante desse teste da crise imobiliária, não está imune aos efeitos de uma desaceleração mundial, por isso, à medida que se distancia o risco de uma redução mais forte do nível econômico, também o Brasil fica mais protegido", resume Maílson da Nóbrega.

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