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Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2008 às 11h32.
"Nunca vi nada igual. Teremos grandes dificuldades financeiras, mas temos que garantir os empregos." A declaração é do presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina, Alcantaro Corrêa. Em entrevista ao Portal EXAME, o dirigente diz que somente em março de 2009 a situação deve ser regularizada na região atingida.
Qual é, até agora, a dimensão dessa tragédia para a economia catarinense?
Na região atingida mais fortemente, o Vale do Itajaí, em função do PIB que é gerado naquela área, as perdas já são calculadas em quase 400 milhões de reais em uma semana. E não é só isso. Mesmo fora daquela região, há perdas. Temos um setor de cerâmica que é o maior do Brasil, no sul do estado, na região de Criciúma, que não foi atingido pelas chuvas e por desmoronamentos, mas está parado por falta de gás natural. E vai ficar parado durante três semanas. São cerca de 8.000 funcionários parados ali. Não há como substituir rapidamente o gás por outro combustível. Fizemos uma reunião com os empresários do setor e optamos por férias coletivas, porque não queremos que haja demissões. Está todo mundo empenhado em buscar o alívio e a tranqüilidade para seus funcionários. Nunca vi nada igual. Agora só queremos dizer a eles que teremos muitas dificuldades financeiras, mas ninguém será demitido. Vamos garantir os empregos.
O senhor já tinha vivido uma situação parecida antes?
Eu sou de Blumenau e vivi a enchente de 1983. Minha própria casa ficou uma semana alagada. A água chegou a 1,80 metro. No final, tivemos que colocar quase tudo fora. Mas era apenas água. Agora é diferente. O volume de terra, barro e sujeira é tão grande, mas tão grande, que as conseqüências são muito piores. É algo que só vendo para acreditar. Há desmoronamentos por todos os lados. Morreu muita gente, outros perderam as casas e até o terreno.
Muitas empresas estão com funcionários desaparecidos?
O maior problema é esse. Muitas empresas não sabem onde estão alguns de seus funcionários. De alguns que não apareceram para trabalhar se desconhece o paradeiro. Muitos estão desaparecidos. Está todo mundo correndo, querendo achar soluções e encontrar as pessoas. Essa é a prioridade.
Qual é a situação do porto de Itajaí?
O porto deve levar até um ano para voltar a operar normalmente. O estrago foi tão grande que não temos como arrumar da noite para o dia. Dos quatro berços da atracação, em no máximo três semanas, teremos condições de colocar dois berços a funcionar. Os outros dois terão que ser reconstruídos e também todo o pátio de estocagem dos contêineres, que desabou. Simplesmente sumiu. É uma obra muito grande. E esse é o segundo porto mais importante do país, só perde para o de Santos em movimentação de contêineres.
Quais são as alternativas até que o porto seja reconstruído?
Chegamos à conclusão que somente com a utilização de outros portos como São Francisco, Navegantes, Imbituba, Rio Grande e Paranaguá será possível absorver a demanda. Concentrar num ou dois é impossível em função do volume de contêineres movimentado em Itajaí. Por ali escoa toda produção de proteínas (frango e suínos). Empresas como Sadia, Perdigão e Seara estão com um problema terrível.
Quais são os setores mais atingidos?
Os que estão concentrados na região de Blumenau, como têxteis, confecções, metal mecânico, elétrico. Mas é bom que se esclareça que as empresas não foram diretamente atingidas pela enchente. O problema maior é a ausência de funcionários para trabalhar, a falta de gás natural para funcionar, a falta de energia elétrica e água. A energia e a água já estão voltando aos poucos. A falta de matéria-prima é um problema também, em função da interdição de rodovias. Até domingo à noite a BR 101 será liberada para caminhões. Mas há previsão de novas chuvas para domingo. Não sabemos se o tempo vai colaborar. A BR 470 somente será liberada na próxima quarta-feira. A logística rodoviária é um gargalo, mas o problema do gás é pior. Só daqui a três semanas será solucionado e isso porque conseguimos que a Petrobrás faça um desvio provisório de 300 metros de tubulação.
Quanto tempo estima para economia voltar ao rumo normal?
Temos dezembro já comprometido. Janeiro e fevereiro devem ser de reconstrução. Somente em março do ano que vem estimamos que vamos voltar a rodar de forma regular.
O senhor tem empresa em Blumenau?
Tenho duas. Uma fundição de aço e uma fabricante de perfis de PVC para fabricação de janelas e portas. Tenho cerca de 1000 funcionários no centro de Blumenau. Estou rezando. Tenho reserva de matéria-prima, mas estão faltando pessoas. Nem eu nem os demais empresários de Santa Catarina sabem ainda quantos funcionários morreram. Estamos usando caminhões frigoríficos para deixar os corpos para reconhecimento. Esses corpos serão identificados ainda.