Economia frágil e Lava Jato levam bancos a ciclo desafiador
A recessão e os efeitos da operação se aprofundam, e a avaliação do mercado sobre a habilidade dos bancos em manter qualidade da carteira tende a crescer
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2015 às 17h42.
São Paulo - O ciclo de lucro crescente apoiado no crédito de baixo risco acabou para os maiores bancos brasileiros no primeiro trimestre, e o escrutínio do mercado sobre a habilidade deles em manter a qualidade da carteira tende a crescer, à medida que a recessão do país e os efeitos da Operação Lava Jato se aprofundam.
Os indicadores antecedentes de inadimplência subiram de forma generalizada. Os bancos argumentam que a alta foi sazonal e que não deve reverberar em piora do índice acima de 90 dias, para o qual a previsão é de estabilidade
O discurso, no entanto, contrasta com a prática. O Santander Brasil foi o único a provisionar menos para calotes no primeiro trimestre.
Já Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco provisionaram juntos mais de 15 bilhões de reais, um aumento de 33,6 por cento ano a ano.
Para analistas, em linhas gerais os resultados do primeiro trimestre foram protegidos pelo mix de crescimento forte das linhas de crédito consideradas mais seguras, que exigem menos provisões, e a alta da taxa básica de juro Selic, que os beneficiou duplamente, tanto nos ganhos robustos com tesouraria quanto nos spreads maiores nos empréstimos.
"Os bancos estão vivendo o final de um ciclo benigno, de redução do risco da carteira e alta da Selic, e começando outro, cuja extensão dos problemas nós não sabemos", disse à Reuters o analista Carlos Macedo, do Goldman Sachs.
"Os modelos de crédito nunca foram submetidos ao que enfrentarão agora", adicionou Macedo, mencionando a conjuntura de desemprego em elevação e a reverberação da Lava Jato, que investiga denúncias de sobrepreço em contratos da Petrobras com empreiteiras.
Desde o começo do ano, quatro grandes construtoras já pediram recuperação judicial e várias outras têm reclamado de atrasos nos pagamentos da petroleira estatal.
No começo de 2015, em entrevista à Reuters, o diretor de Controladoria e de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel, afirmara que o banco estava acompanhando os possíveis reflexos da Lava Jato na cadeia de fornecedores.
Em outra frente, o crédito crescendo menos provocará um efeito matemático negativo sobre as carteiras, porque a geração de novas operações de boa qualidade perde força.
O Itaú Unibanco revisou sua previsão para alta da carteira em 2015, de 6 a 9 por cento para entre 3 e 7 por cento. O Bradesco considerou mais provável atingir o piso da faixa de expansão para o ano, que vai de 5 a 9 por cento.
Como resultado, a despesa com provisão para calotes deve seguir alta, disse o analista Samuel Torres, da Fator Corretora. "Pode não ficar nos mesmos níveis do primeiro trimestre, mais vai continuar alta", afirmou.
Esse cenário se dá num momento em que os bancos procuram proteger seus níveis de rentabilidade, tanto para remunerar o capital de seus acionistas num momento de maiores incertezas econômicas, que implicam aumento dos prêmios de risco, quanto para fortalecer o patrimônio líquido, principal componente do Índice de Basileia.
A fase Basileia 3, conjunto global de regras prudenciais, tem parâmetros mais exigentes de capital para proteção contra riscos, e será implementado integralmente no Brasil até 2019.
São Paulo - O ciclo de lucro crescente apoiado no crédito de baixo risco acabou para os maiores bancos brasileiros no primeiro trimestre, e o escrutínio do mercado sobre a habilidade deles em manter a qualidade da carteira tende a crescer, à medida que a recessão do país e os efeitos da Operação Lava Jato se aprofundam.
Os indicadores antecedentes de inadimplência subiram de forma generalizada. Os bancos argumentam que a alta foi sazonal e que não deve reverberar em piora do índice acima de 90 dias, para o qual a previsão é de estabilidade
O discurso, no entanto, contrasta com a prática. O Santander Brasil foi o único a provisionar menos para calotes no primeiro trimestre.
Já Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco provisionaram juntos mais de 15 bilhões de reais, um aumento de 33,6 por cento ano a ano.
Para analistas, em linhas gerais os resultados do primeiro trimestre foram protegidos pelo mix de crescimento forte das linhas de crédito consideradas mais seguras, que exigem menos provisões, e a alta da taxa básica de juro Selic, que os beneficiou duplamente, tanto nos ganhos robustos com tesouraria quanto nos spreads maiores nos empréstimos.
"Os bancos estão vivendo o final de um ciclo benigno, de redução do risco da carteira e alta da Selic, e começando outro, cuja extensão dos problemas nós não sabemos", disse à Reuters o analista Carlos Macedo, do Goldman Sachs.
"Os modelos de crédito nunca foram submetidos ao que enfrentarão agora", adicionou Macedo, mencionando a conjuntura de desemprego em elevação e a reverberação da Lava Jato, que investiga denúncias de sobrepreço em contratos da Petrobras com empreiteiras.
Desde o começo do ano, quatro grandes construtoras já pediram recuperação judicial e várias outras têm reclamado de atrasos nos pagamentos da petroleira estatal.
No começo de 2015, em entrevista à Reuters, o diretor de Controladoria e de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel, afirmara que o banco estava acompanhando os possíveis reflexos da Lava Jato na cadeia de fornecedores.
Em outra frente, o crédito crescendo menos provocará um efeito matemático negativo sobre as carteiras, porque a geração de novas operações de boa qualidade perde força.
O Itaú Unibanco revisou sua previsão para alta da carteira em 2015, de 6 a 9 por cento para entre 3 e 7 por cento. O Bradesco considerou mais provável atingir o piso da faixa de expansão para o ano, que vai de 5 a 9 por cento.
Como resultado, a despesa com provisão para calotes deve seguir alta, disse o analista Samuel Torres, da Fator Corretora. "Pode não ficar nos mesmos níveis do primeiro trimestre, mais vai continuar alta", afirmou.
Esse cenário se dá num momento em que os bancos procuram proteger seus níveis de rentabilidade, tanto para remunerar o capital de seus acionistas num momento de maiores incertezas econômicas, que implicam aumento dos prêmios de risco, quanto para fortalecer o patrimônio líquido, principal componente do Índice de Basileia.
A fase Basileia 3, conjunto global de regras prudenciais, tem parâmetros mais exigentes de capital para proteção contra riscos, e será implementado integralmente no Brasil até 2019.