Depois de pressionar por uma negociação com o FMI, de se apavorar com as declarações do secretário do Tesouro dos EUA, de se assustar com o IGP-M a 1,95%, e de reclamar da falta da moeda, o mercado financeiro brasileiro começou a cair na real (sem trocadilhos) e a devolver à cotação do dólar o patamar de 3 reais nesta sexta-feira.
A semana conturbada do mercado de câmbio teve seu pior momento na quarta-feira (31/7), quando a moeda atingiu seu recorde e fechou a 3,47 reais. Neste mesmo dia, chegou a ser negociado até a 3,79 reais acima do valor do peso argentino.
Hoje, a moeda fechou cotada a 3,0100 reais para venda _queda de 4,14%. Pela taxa do Banco Central, o paralelo fechou negociado para compra a 3,0500 reais (queda de 3,17%). A falta de liquidez foi gerada pela grande quantidade de pagamentos que muitas empresas precisavam honrar em dólar, além de investidores interessados em trocar suas aplicações em dólar futuro por dinheiro vivo no final do mês, o que transformou a quarta-feira (31/7) num dos piores dias para o mercado desde o início do Plano Real.
Na quinta e nesta sexta-feira, a crise na campanha de Ciro Gomes (PPS) _abandonado por seu chefe de campanha e cujo vice é investigado por irregularidades, somada aos boatos de crescimento de José Serra (PSDB) nas pesquisas que sairão neste final de semana, serviu para acalmar o mercado, que pelo andar da carruagem já "declarou" voto no tucano.
Outro fator importante foi a retratação do secretário americano Paul O Neill (leia textos ao lado), que quase criou a um incidente diplomático, além da proximidade de um real acordo com o FMI.
Veja abaixo o resumo da semana de tantos altos e baixos:
26/7 - sexta-feira
Apesar de expectativas de acordo com o Fundo Monetário Internacional, o dólar encerrou a semana passada pela primeira vez acima de 3 reais e atingiu novo pico da história do Plano Real. Subiu 0,67% e fechou a 3,015 reais.O ministro da Fazenda, Pedro Malan, fez um pronunciamento no final do dia, o dólar chegou a recuar levemente, sob a expectativa de que alguma negociação concreta com o FMI fosse anunciada. O ministro começou a falar praticamente quando o mercado de câmbio encerrava os negócios e não oficializou nenhum tipo de acordo ou mudança na condução da política econômica. 29/7 - segunda-feira
O dólar comercial encerrou o dia com alta de 5,64%, cotado em 3,185 reais. Até então, acreditavam que seria a maior alta do ano. O Banco Central tentou intervir na cotação da moeda americana, mas as três tentativas foram frustradas. O dólar chegou a ser vendido por 3,280 reais durante a tarde, em alta de 8,79%. Próximo ao fechamento, a cotação cedeu, sob rumores de que o Banco Central voltava a intervir no mercado. A autoridade monetária já havia feito sua intervenção diária pela manhã, com a venda de 50 milhões de dólares.O dia foi de baixíssima liquidez para o câmbio, com volume de negócios de 966 milhões de dólares no mercado à vista. A falta de moeda foi conseqüência, segundo operadores, da saída do mercado dos bancos que costumeiramente exerciam o papel de financiadores de crédito em dólares. "Existe uma falta de credibilidade total. Não há linha no mercado e como o pessoal quer papel, todo mundo corre para o pronto (mercado à vista)", disse o gerente de câmbio do Banco Schahin, Daniel Szikszay, à agência de notícias Reuters. Havia também rumores de uma crescente demanda por dólares por pessoas que procuravam remeter dinheiro para o exterior, receosas quanto ao cenário eleitoral. Outros operadores falavam em remessas feitas por empresas, para o pagamento de dívidas. "Mas a liquidez foi muito fraca. Um mercado que gira em média 1,5 bilhões de reais ao dia, hoje não chegou a 1 bi", disse Szikszay.O governo brasileiro anunciou a ida na terça-feira de uma missão a Washington para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma tentativa de acalmar os mercados financeiros, depois de o dólar ter fechado em nível recorde pela sexta vez consecutiva. 30/7 - terça-feira
O dólar comercial fechou a 3,30 reais, o recorde histórico do dia do Plano Real, com alta é de 3,61% em relação ao fechamento de segunda, segundo a Enfoque Sistemas. A moeda norte-americana fechou negociada a R$ 3,30 para venda (R$ 3,285 para compra) pela taxa do Banco Central. No ano, a valorização acumulada do dólar sobre o real já é de 43,29%. O paralelo fechou a 3,20 reais, com alta de 3,23%. Durante o pregão, a moeda norte-americana chegou a atingir a máxima de 3,305 reais, quase um real mais caro do que na abertura do ano. Em apenas dois dias, a valorização foi de 9,29%, o que significa uma alta de 42,33% no acumulado do ano.Segundo analistas, faltou liquidez ao mercado de câmbio. As intervenções diárias do Banco Central, de cerca de 50 milhões de dólares, não estão conseguindo frear a escalada do dólar. Essa política de intervenção diária foi determinada pelo BC no início do mês e tinha previsão para acabar nesta quarta-feira. Nesta terça, o BC decidiu prorrogar essas "rações diárias".O Banco Central anunciou que oferecerá pelo menos 1,1 bilhão de dólares em venda direta no mês de agosto. Serão 50 milhões de dólares por dia. Adicionalmente, 735 milhões de dólares em linhas de câmbio poderão ser rolados integralmente ou também vendidos ao mercado diretamente. No caso de rolagem, os vencimentos serão dias 2/08 (300 milhões), 5/08 (335 milhões) e dia 26/08 (100 milhões). "Além disso, como fizemos em julho, em momentos de falta de liquidez o BC pode atuar no mercado de câmbio", disse Luiz Fernando Figueiredo, diretor de política monetária do BC. "O BC sempre pode lançar mão de outras ações, além do que já está definido."A missão brasileira chegou ao FMI, em Washington. 31/07 - quarta-feira
O Banco Central interveio no mercado com venda de dólares, mas não conteve a forte disparada da moeda. O dólar fechou a R$ 3,47 para compra. A alta em relação a terça-feira foi de 5,15%. Era, então, um novo recorde do valor da moeda no Plano Real. No ano, a valorização acumulada do dólar sobre o real já é de 51,10%. Apenas no mês de julho, a moeda se desvalorizou 23,4% de seu valor. É a maior alta desde 1999.As cotações do real se aproximavam das do peso argentino, a 3,605 reais por dólar, quando o Banco Central voltou a intervir no mercado, com a venda direta de moeda, segundo operadores. Com a injeção de recursos, que teria sido a segunda do dia, as cotações recuaram um pouco, mas ainda continuavam na estratosfera. Às 12h40, o dólar tinha forte alta de 3,79%, a 3,420 reais. Na máxima do dia, a alta foi de 9,41%, a 3,605 reais. O peso argentino, por sua vez, era vendido a 3,7 pesos por dólar. "Não há oferta de dólar, as companhias precisam deles e o panorama econômico ainda é negativo", disse um operador.Segundo a agência Reuters, o desespero pela compra de dólares e a falta de moeda disponível faziam as cotações explodir no mercado de câmbio nesta quarta-feira. Segundo operadores, as incertezas políticas brasileiras e a ansiedade por dinheiro novo do FMI eram amplificadas por uma tradicional especulação de final de mês. 1/8 - quinta-feira
O dólar despencou 9,5% na quinta-feira, a primeira queda após nove pregões de nervosismo. As cotações cederam devido a intervenções do Banco Central, em um cenário de maior otimismo quanto à vinda de dinheiro novo do FMI.A moeda norte-americana terminou vendida a 3,140 reais, um pouco abaixo da cotação da última segunda-feira, de 3,185 reais. Ainda assim, a alta acumulada no ano é de 35,64%. Pela manhã, o BC também "emprestou" 150 milhões de dólares ao mercado. A operação permitiu a rolagem de parte dos 335 milhões de dólares em linha externa que deve ser devolvida à autoridade monetária na próxima segunda-feira.As perspectivas de ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional foram impulsionadas por palavras positivas do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul ONeill. As perspectivas de ajuda financeira do FMI começaram a crescer depois que o porta-voz do Fundo, Tom Dawson, afirmou que a instituição está "trabalhando bastante intensamente" com a missão brasileira que visita Washington, em negociações para estender o atual pacote de ajuda financeira ao país até o final de 2003. 2/8 - sexta-feira
O dólar comercial registrou forte baixa pelo segundo dia seguido, depois de atingir recordes em oito fechamentos consecutivos. Depois de despencar 9,48% na quinta-feira, a moeda norte-americana caiu 4,6% nesta sexta e fechou cotada a R$ 3,005 para venda (compra a R$ 2,995) pela taxa do Banco Central.