Arábia Saudita: neste ano, três emissões importantes da dívida aconteceram no Oriente Médio (Getty Images)
AFP
Publicado em 25 de outubro de 2016 às 14h58.
As políticas monetárias de muitos bancos centrais e as taxas de juros historicamente baixas estão tornando a dívida pública dos países emergentes cada vez mais atraentes para os investidores.
Em sua primeira operação nos mercados internacionais, a Arábia Saudita conseguiu colocar um nível recorde de 17,5 bilhões de dólares em dívida pública, com uma forte demanda.
"Esta claro que há um grande apetite dos investidores para a dívida emergente", explica Jean-Marc Mercier, co-diretor da divisão de mercados de capitais do HSBC, um dos bancos que implementou a operação saudita.
"Os bancos centrais vão todos mais ou menos na mesma direção, a de uma política monetária acomodatícia, e isso leva os investidores a se arriscarem", assegura Mercier.
O ano de 2016 está sendo "recorde" para esse mercado, com 130 bilhões de dólares de títulos em moeda estrangeira emitidos pelos governos dos países emergentes, destaca Regis Chatellier, um analista da Société Générale CIB.
"O mercado da dívida chegou a pontos extremamente baixos no que diz respeito aos juros", explica Romain Bordenave, gestor de dívida e divisas emergentes de Edmond de Rothschild Asset Management.
Por isso, os investidores buscam agora melhores rendimentos em países que não estavam até bem pouco tempo neste mercado. A título de comparação, os bônus de dívida a dez anos da França oferecem atualmente juros de 0,28%, em relação aos 3,25% dos mesmos bônus colocados na semana passada pela Arábia Saudita.
Os analistas destacam que o Brexit e a recuperação do petróleo também foram fatores-chave na atração da dívida emergente.
Neste ano, três emissões importantes da dívida aconteceram no Oriente Médio: no Catar (9 bilhões de dólares), Abu Dabi (5 bilhões de dólares) e os 17,5 bilhões da Arábia Saudita, lembra Jean-Marc Mercier.
Argentina volta aos mercados
A Argentina também voltou aos mercados internacionais com uma emissão de 16,5 bilhões de dólares, a segunda mais alta do ano. "Mas é um caso um pouco distinto, há um efeito de recuperação porque o país estava ausente dos mercados internacionais desde 2001", explica Regis Chatellier.
Apesar dessa relativa euforia, continua havendo riscos para os que investem na dívida dos emergentes, como a possibilidade de que o Federal Reserve (Fed) suba a taxa de juros.
Ao mesmo tempo, segundo Guy Stear, responsável mundial de pesquisa de crédito na Société Générale CIB, os países emergentes são "menos sensíveis" às previsões de política monetária do Fed do que foram durante a crise de 2008.
Também preocupa a evolução da economia chinesa, embora segundo Regis Chatellier se trate de "um risco controlado no momento".
Em geral os observadores são otimistas e pedem pelo menos outros quatro ou cinco meses de bons resultados para as emissões de dívida nos emergentes.
Mas ainda tendo em conta que, como ressalta Chatellier, "a dívida pública nos países emergentes é em média duas vezes inferior à dos países desenvolvidos".