Diretor da OMC: "Não há guerra comercial, mas ela pode acontecer"
O brasileiro Roberto Azevêdo descartou o perigo iminente de uma guerra comercial por causa do protecionismo impulsionado por alguns países
EFE
Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 16h58.
Genebra- O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio ( OMC ), o brasileiro Roberto Azevêdo, descartou o perigo iminente de uma guerra comercial por causa do protecionismo impulsionado por alguns países, embora admita que ela "possa acontecer" e advertiu de um efeito dominó difícil de parar no caso de um aumento de medidas unilaterais e respostas recíprocas.
"Eu disse muitas vezes que uma guerra comercial seria um palco catastrófico para todos. Eu não vejo neste momento uma guerra comercial em curso. Mas pode vir e a guerra comercial começa, sobretudo, quando se começa com a adoção de medidas unilaterais", disse Azevêdo em entrevista à Agência Efe.
O presidente dos Estados Unidos , Donald Trump , descartou uma guerra comercial em represália à sua decisão de impor tarifas sobre importações de placas e células solares, entre outros produtos procedentes da Ásia, mas já há vozes, inclusive nas fileiras republicanas, que alertam desta possibilidade e pedem cautela.
Azevêdo destacou que as medidas de salvaguarda não são unilaterais, mas há "uma investigação e um processo que pode ser questionado na OMC e existem todo o tempo".
"O problema está em se vamos ver uma aceleração de medidas restritivas, uma quantidade de medidas unilaterais, voluntárias, arbitrárias que podem ser questionada aqui também, mas que podem estimular outros países a fazer o mesmo. Esse é o risco", destacou Azevêdo.
Segundo sua opinião, "isso sim pode levar a uma situação de efeito dominó que vai ser difícil de parar".
Azevêdo afirmou que, "apesar de toda esta discussão sobre protecionismo e medidas unilaterais, o comércio vai bem "e que desde 2008 todas as medidas restritivas que têm sido impostas até hoje afetam apenas 5% do comércio mundial.
Enquanto em 2016 o crescimento do comércio mundial foi de apenas 1,3%, a OMC espera confirmar em breve para 2017 uma expansão de cerca de 3,6%, e Azevêdo confia em um dado similar para 2018.
Diante da defesa dos EUA de um comércio justo com benefícios recíprocos e no qual se cumpram as regras, Azevêdo ressaltou que "todos querem um comércio justo e um comércio que seja equilibrado".
"O problema está em que a justiça do comércio, o equilíbrio do comércio depende da visão de cada um ", afirmou o diretor-geral da OMC.
Sobre o desejo dos EUA de reformar ou revitalizar a OMC, Azevêdo disse que a atualização da organização "é uma meta que tem objetivos diferentes de país para país, e que o que um país vê como uma avanço outro o vê como um retrocesso".
"Encontrar uma uniformidade de visão a respeito dos temas que precisam ser atualizados, aperfeiçoados, é um desafio muito grande", declarou o titular da OMC.
Azevêdo, que admitiu sua preocupação com o bloqueio dos EUA à nomeação de candidatos para cobrir as vagas no órgão de apelação da OMC, enfatizou que se está "reformando a organização a cada minuto".
"Em 2013 a reformamos, em 2015 a reformamos. O livro que tínhamos desde 1995 que não era trocado já se trocou. E a cada vez que chegamos a uma decisão importante se está reformando a organização. Não é uma estrutura imóvel", ressaltou Azevêdo.
O "livro" traz todas as emendas e retificações aos acordos da OMC e os seus anexos até setembro de 2017 e foi apresentado na reunião ministerial de Buenos Aires de dezembro do ano passado.
Na capital argentina os ministros não chegaram a acordos, mas Azevêdo minimizou a falta de resultados concretos.
"Não tínhamos acordos multilaterais de 1995 até 2013", ano no qual aconteceu o Acordo sobre Facilitação do Comércio, explicou, acrescentando que em 2015 se chegou a outro que elimina as subvenções às exportações agrícolas.
O titular da OMC defendeu que o importante é que houve um pronunciamento dos membros de "continuar falando e tentar conseguir resultados objetivos e práticos, por exemplo nas subvenções da pesca até o próximo ano".
Também houve disposição para abordar questões novas, como o comércio eletrônico, a facilitação de investimentos, as pequenas e médias empresas e o empoderamento das mulheres, explicou Azevêdo.
"Há muitas coisas que estão sendo acrescentadas agregando às discussões, além da disposição de avançar nos temas da Rodada de Doha que são muito difíceis e que já estão conosco há muito tempo, como a agricultura, mas também os serviços e outros", detalhou.
Segundo sua opinião, "é uma agenda importante a que há pela frente. Tudo vai depender do trabalho que vamos desenvolver".