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Cana ocupa mais da metade das terras cultivadas em SP

O dado, divulgado pela Secretaria de Meio Ambiente de SP, é um sinal de que o etanol tira espaço de outros alimentos no campo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.

O sucesso da expansão do etanol no Brasil tem se refletido na geografia agrícola do Estado mais rico do país. A lavoura de cana-de-açúcar, matéria-prima para o combustível, já ocupa, em São Paulo, uma área de 4,4 milhões de hectares, maior do que a soma de todas as outras culturas, correspondente a 3,6 milhões de hectares. O território ocupado pelos canaviais eqüivale a 55% do total de 8 milhões de hectares utilizados para agricultura. Em terras paulistas, somente a área para pastagem ocupa mais espaço do que a cana, mas ainda assim ela começa a ceder espaço para o etanol. Hoje, são 9,9 milhões de hectares destinados à pecuária, ante os 12 milhões ocupados há pouco mais de uma década.

As informações foram apresentadas pelo secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Graziano Neto, durante o Simpósio Etanol e Biomassa, realizado nesta quarta-feira na sede do Instituto de Engenharia, em São Paulo.

Segundo o secretário, ainda que a realidade brasileira esteja distante do grau de disputa existente nos Estados Unidos, onde as lavouras de milho para produção de etanol reduzem diretamente as áreas cultiváveis de outros gêneros, essa invasão da cana em áreas onde antes não era predominante começa a tornar-se "preocupante" e pode servir de argumento para adversários do etanol no exterior

"Lá fora, tem gente que acha que esse é um problema. E quem não acha, aproveita para dizer que é", afirmou. Mais tarde, no mesmo encontro, Graziano reforçou que o tema merece atenção. "Quem afirma que a expansão do etanol não é motivo de preocupação está sendo ingênuo", opinou.

A posição do secretário, nessa questão, vai no sentido contrário ao dos executivos do setor. Pouco antes de o secretário paulista fazer sua apresentação, Alfred Szwarc, consultor que representou no encontro a principal entidade de produtores de etanol, no Brasil, a Unica (União Nacional da Indústria de Cana-de-Açúcar), havia afirmado que as críticas à expansão do território em que a cana é a cultura principal levantavam uma "falsa discussão".

"A questão da fome no país é relacionada à renda, e não à produção de alimentos. O Brasil tem fome, mas ainda é um grande exportador de alimentos", disse Szwarc.

A discussão sobre se o etanol rouba espaço do cultivo agrícola ganhou força nos últimos meses, com as críticas incisivas dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro, ao produto brasileiro. As críticas internas à expansão da lavoura canavieira, entretanto, até agora estavam restritas aos movimentos ambientalistas e sociais.

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