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Burocracia reflete vergonha do Brasil de ser capitalista, diz Franco

Para o ex-presidente do Banco Central, dificuldades para se tocar um negócio são sintomas de um país que é hostil à livre iniciativa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h24.

Cansada de pleitear, desde 1997, um financiamento do BNDES para ampliar sua produção, a fabricante brasileira de máscaras respiratórias Air Safety adotou uma solução radical. Abriu, no início do ano, uma filial no estado americano do Kentucky. O motivo? Foi mais fácil obter o crédito para a nova unidade nos EUA, onde a empresa nunca havia atuado, do que no Brasil ( clique aqui e leia a reportagem completa da revista EXAME sobre a Air Safety ). Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da corretora Rio Bravo, casos como este indicam que a burocracia representa algo mais do que a simples ineficiência da máquina pública. "A burocracia uma das manifestações da vergonha que o país tem de ser capitalista", diz Franco que participa como debatedor doEXAME Fórum Desburocratizar para crescer.

Segundo Franco, o emaranhado de leis, tributos, impostos e órgãos que cerca o empreendedorismo no país compõe um verdadeiro "ambiente hostil ao capitalismo". Essa mentalidade está presente até mesmo nas instituições que deveriam fomentar o desenvolvimento, como os agentes públicos de crédito. No Brasil, por exemplo, os bancos oficiais exigem que uma pequena empresa ofereça, como garantia de financiamento, um patrimônio equivalente a cinco vezes o valor do crédito pretendido. Nos EUA, a própria fábrica que será construída vale é hipotecada e serve como garantia.

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O resultado da aversão à livre iniciativa pode ser medida em termos práticos. Segundo um levantamento do Unibanco, a falta de um ambiente competitivo fez o Brasil crescer abaixo da média mundial nos últimos 20 anos. Entre 1985 e 1994, o país avançou cerca de 3% ao ano, enquanto o mundo caminhava a taxa média de 3,3%, com os países em desenvolvimento à frente (taxa média anual de 5,2%). De 1995 a 2003, a média de crescimento do Brasil foi de 2,2%, abaixo dos 3,6% da média mundial e dos 5,1% dos outros países em situação similar.

Paradoxo positivo

Mas há motivos para esperança, conforme Franco. "Basta ver o Leste Europeu", afirma. Hoje, na Rússia, que há 15 anos ainda era comunista, uma empresa demora 29 dias para ser aberta e 1,5 ano para ser encerrada, segundo relatório do Banco Mundial. No Brasil, os números são 152 dias e dez anos, respectivamente. As leis trabalhistas russas também são mais flexíveis que as do Brasil, conforme o mesmo estudo.

Franco afirma que o país precisa aproveitar o bom momento econômico para desatar os nós da burocracia e alcançar um novo nível de desenvolvimento. "É preciso jogar fora anos de preconceito contra a economia de mercado. Por mais paradoxal que pareça, é positivo que um presidente que já foi operário levante esta mensagem de que precisamos nos tornar capitalistas de fato", afirma.

EXAME Fórum

O problema da informalidade e do excesso de burocracia e tributos no Brasil será discutido no EXAME Fórum na próxima segunda-feira (23/8), em São Paulo. Empresários, economistas e autoridades irão debater as formas de se reduzir os obstáculos para o crescimento do país. Fará a abertura do fórum Desburocratizar para crescer o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita. Participam como conferencistas o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e o coordenador da Pesquisa Doing Business do Banco Mundial, Simeon Djankov. Do debate, participarão Alencar Burti, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP, que apóia o evento; Alcides Tápias, sócio-diretor da Aggrego Consultores; Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco Central, e José Pastore, professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo.

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