Economia

Brasol planeja fazer R$ 1 bilhão em aquisições em energia solar em meio a mudanças no mercado

Incerteza regulatória e fim de incentivos devem complicar investimentos nos próximos anos, diz o CEO Ty Eldridge

Produção de energia solar em São Paulo (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Produção de energia solar em São Paulo (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de maio de 2024 às 06h02.

Última atualização em 22 de maio de 2024 às 11h30.

No fim de 2023, a Brasol recebeu um investimento do fundo BlackRock. Neste começo de ano, a empresa brasileira de energia solar decidiu usar parte desse dinheiro para aquisições e planeja realizar em torno de R$ 1 bilhão em compras.

"Nos últimos seis meses, a gente formou um grupo para focar em aquisição. Conseguimos quase 2 bilhões de reais em propostas na mesa, e provavelmente 50% vai fechar", diz Ty Eldridge, CEO da empresa, em conversa com a EXAME, na sede da Brasol, na zona sul de São Paulo.

"O plano original deste ano era de comprar 500 milhões de reais em projetos em M&A. Hoje me parece que vai chegar mais perto de 700, 800 milhões de reais em projetos neste ano. E esse bilhão vai acontecer entre esse ano e ano que vem", prossegue.

A Brasol foi criada com a proposta de oferecer energia solar como um serviço. Ela fica responsável por negócios como a construção ou compra de usinas solares e busca atender grandes consumidores, como indústrias e varejistas. Em 2020, a Siemens adquiriu 49% da empresa, por meio de sua área de private equity.

Três anos depois, em outubro de 2023, o fundo BlackRock anunciou ter adquirido quase 50% da Brasol, por meio de um fundo para energia renovável, chamado Climate Finance Partnership (CFP). Os valores da transação não foram divulgados.

Ty Eldridge, CEO da Brasol (Divulgação)

Eldridge conta que o setor de energia solar foi impactado por mudanças regulatórias nos últimos anos, que aumentaram a insegurança jurídica e devem travar o avanço de novos projetos grandes nos próximos anos. Ao mesmo tempo, isso aumentou o interesse de donos de infraestruturas existentes em vender seus ativos.

"Teve uma lei em 2018 e uma lei de 2021. Essa lei mais recente ainda tem elementos que não são claros e abertos para interpretação. Temos muitos investidores com dinheiro de gringo, e é muito difícil falar 'temos um setor aqui que precisa de investimento de bilhões de dólares, porém o cenário regulatório não está claro'. Há casos de retroatividade, o TCU pode interpretar de outra forma. É difícil fazer um investimento de longo prazo quando as regras do jogo não estão claras. Machuca-se muito o mercado. A claridade é a coisa mais essencial para o investimento estrangeiro", diz.

A lei federal 14.300/2022, chamada de Marco Legal da GD (geração distribuída) mudou a forma de compensação de créditos para os consumidores que geram energia solar e a fornecem para as redes elétricas externas. Na prática, as mudanças reduzem o valor que os geradores recebem, de forma gradual, ao longo dos próximos anos.

"Anteriormente conseguiamos compensar tanto a geração de energia quanto a transmissão e distribuição de energia. Indo em frente, a gente vai ter como compensar quase zero da transmissão e distribuição de energia. ou seja, o gerador de energia solar está sendo tratado igual às usinas grandes e está perdendo o benefício", diz o CEO. "A continuidade da incerteza regulatória e a redução de valores que podemos compensar com as usinas vai virar o mercado, de greenfield para brownfield. Há uns seis meses, as pessoas começaram a perceber que não podiam seguir fazendo as coisas como estavam fazendo antes, e começaram a querer vender."

Eldridge diz ainda que a dificuldade de licenciamento em algumas cidades do país também atrasa o avanço do uso de energia solar. "Temos projetos que demorou dois, três anos para pegar um alvará de construção", comenta. Como exemplo positivo, ele cita Manaus que, além de ter trâmites facilitados, também possui boa demanda de energia.

"O sudeste e sul são interessantes, mas tem menos recursos solares e o preço de energia é mais baixo. Então nosso maior interesse hoje fica no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A gente vê o Nordeste com bons olhos agora, estamos construindo bastante lá", diz.

Para o futuro, a empresa busca investir também em outras áreas além de energia solar. "A próxima fase vai ser muito mais do lado de transmissão, distribuição e em tecnologia do lado da demanda do cliente, em vez da oferta. Vamos focar cada vez mais em como podemos reduzir o que o cliente está consumindo e melhorar a eficiência", planeja Eldridge.

Acompanhe tudo sobre:Energia solar

Mais de Economia

Haddad diz que Fazenda não tem plano 'B' para compensar desoneração; Senado assumiu responsabilidade

OPINIÃO: Vantagens e implicações da ampliação da autonomia do BC proposta pela PEC nº 65/2023

Câmara aprova taxação de compras em sites como Shein e AliExpress; texto segue para sanção

Exclusivo: o que pode mudar na PEC que amplia autonomia do BC e pode economizar R$ 5 bi

Mais na Exame