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Brasil tem condições inéditas para crescer

Enquanto contas brasileiras exibem o melhor estado em 35 anos, os fundamentos da economia americana são precários, diz economista, mas ainda sustentados por fome asiática de dólares

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.

Nunca em 35 anos o Brasil esteve na situação atual: apresenta baixa inflação e superávit em conta corrente, além de crescer moderadamente. A conclusão é de Dalton Gardimam, economista-chefe do banco Credit Lyonnais no país, em palestra realizada hoje (18/5) na sede da Câmara de Comércio França-Brasil. "O Brasil não será a bola da vez, porque seu ponto de partida é muito favorável superávit elevado da balança comercial e inflação ainda cadente , dando espaço para uma recuperação sem as pressões tradicionais."

Por outro lado, os fundamentos da economia americana, diz, são precários, com déficits em conta corrente caminhando para 6% do Produto Interno Bruto (PIB) e déficits fiscais enormes. O economista afirma que é o apetite por dólares dos bancos centrais da Ásia que vem permitindo que os ajustes inevitáveis nos EUA sejam postergados por mais alguns anos. "Enquanto houver gente que financie a farra de consumo americana, isso vai continuar." Segundo Gardimam, os fundamentos ruins geraram um acúmulo de dívida "de magnitude bizarra" as dívidas pública, pessoal, corporativa, bancária e de hipotecas acumuladas nos últimos oito anos nos EUA perfazem 300% do PIB.

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O economista também afirma que a desaceleração na China tem gerado temores infundados, e que falar em recessão global por causa do petróleo é exagero. "Vem ocorrendo um crescimento sincronizado nos EUA, Europa e Japão, e a desaceleração da China é bem-vinda. O país vem apresentando gargalos físicos, sobretudo na demanda por metais e commodities. A demanda por asfalto na China, por exemplo, foi multiplicada por dez, com a abertura de ruas em cidades do interior."

Voltando ao quadro interno, para o economista, só um grande erro de condução da política econômica poderia afastar o Brasil das condições que garantiriam um crescimento de 3% a 4%. "Tem de ser uma besteira monumental." A recuperação em curso, em sua avaliação, é de natureza cíclica e não estrutural, mas ainda assim tem tudo para continuar nos próximos trimestres. "Se o passado é algum guia, podemos sem grandes dificuldades ter mais quatro trimestres de crescimento."

Dívida pública

De todos os desafios, Gardimam destaca a dívida pública brasileira. "É o nó górdio. Dívida pública de 57% [do PIB] é ainda a vulnerabilidade de fato. O Brasil não fez o ajuste fiscal que deveria ter feito no primeiro mandato do Cardoso." Em sua opinião, o governo petista já implementou melhorias sensíveis como a redução da dívida indexada ao dólar de 36% em 2002 para 16% em março de 2004. Além disso, o atual superávit primário é compatível com a redução lenta e gradual da dívida pública. "Basta continuar o que está a", diz.

"O governo PT de fato tem sido fiscalmente mais rígido que o governo FHC", afirma, e assumiu o desgaste político de estabelecer um superávit primário de 4,25% do PIB e tocar a reforma da previdência. Ainda assim, a questão previdenciária terá de ser encarada como uma doença crônica, adverte. Mesmo com a reforma aprovada em 2003, o Brasil ainda gera déficit previdenciário anual de 80 bilhões de reais.

Quanto à estrutura tributária, o economista afirma que antes é preciso cortar gasto. "Mas todas as folgas do governo Lula foram empregadas em aumento de dispêndio. Portanto, acho que isso não será feito nesse governo. Não há plano estruturado no Executivo para diminuir gasto e assim reestruturar tributos." Essa insuficiência no plano institucional vai acabar reduzindo, conclui, a extensão e a sustentação da retomada. "O governo perdeu foco por causa de escândalos e até briga com jornalista, e foi prejudicado por péssimo marketing. Com todo o ônus político já assumido, o bônus do crescimento não foi aproveitado pela publicidade oficial."

Selic

Para Gardimam, variáveis como risco-país e taxa de câmbio se deterioraram da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para cá, o que deveria levar à manutenção da atual taxa básica de economia (Selic) em 16% ao ano. "Se o Copom cortar, vai ter de caprichar na retórica na hora de elaborar a ata, para explicar como é que tudo piora, e ainda assim decide aliviar." Quanto aos receios de que, caso mantenha a Selic, o Copom acabe reforçando o clima de pessimismo, Gardimam é taxativo: "O Copom não deve se preocupar com isso."

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