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Brasil precisa ser mais agressivo em Copenhague, dizem empresários

Iniciativa privada apóia meta de redução de poluentes e alerta que o país pode perder a chance de liderar revolução verde

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

A cerca de um mês da conferência mundial sobre o clima, em Copenhague, os empresários brasileiros demonstram muito mais firmeza do que o governo sobre as posições que o Brasil deveria adotar no encontro. Durante o EXAME Fórum de Sustentabilidade, realizado nesta quarta-feira em São Paulo, a avaliação geral dos executivos e especialistas em meio ambiente foi de que não há mais espaço para timidez e hesitação do governo. Se adotar uma postura retraída durante a reunião de cúpula, o Brasil perderá a chance de liderar a revolução verde que se aproxima. "O Brasil está na defensiva, mas deveria jogar no ataque", afirma Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose.

Os especialistas afirmam que o Brasil está em uma posição privilegiada para ocupar um papel proeminente nos novos tempos. Além de uma matriz energética mais limpa que a dos países desenvolvidos – e de emergentes como a China -, os brasileiros dominam tecnologias estratégicas para o futuro, como a dos biocombustíveis – com destaque para o etanol, que além de não ser poluente, também permite o seqüestro de carbono da atmosfera, durante o cultivo da cana-de-açúcar. Enquanto o governo ainda reluta em fechar posições firmes para Copenhague, diversos setores já apresentam exemplos de que é possível cortar emissões. "O setor siderúrgico brasileiro já queima carvão de florestas plantadas, em vez de carvão mineral", afirma Fernando Reinach, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios.

Xico Graziano, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, atribui a relutância do governo brasileiro a "uma diplomacia pouco ousada", que não quer desagradar potenciais aliados como, a China, que resistiu por muito tempo a adotar metas formais de redução de poluentes, sob o argumento de que é uma nação emergente que necessita encurtar a distância das nações mais ricas. "Mas estamos perdendo oportunidades reais de ganhar com essa discussão", diz Graziano.

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Metas claras

Estabelecer uma meta clara de redução da emissão de CO2 é a primeira medida que o Brasil deveria adotar. A idéia de conter a emissão de poluentes não afugenta os empresários. Pelo contrário. Eles estão cada vez mais favoráveis às restrições. "O que você não mede, você não atinge", afirma Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak. Nigro observa que a iniciativa privada tomou a dianteira desse processo, ao propor suas próprias metas. Multinacional com sede na Suíça, a Tetra Pak lançou em 2005 a meta de cortar em 10% as emissões globais de dióxido de carbono até 2010. "As metas precisam ser desafiadoras, mas não podem ser irrealistas", diz.(Continua)


Não são apenas as empresas que estão adotando metas explícitas de corte de poluentes. Nesta semana, o governador José Serra assinou uma lei criando uma meta para o Estado de São Paulo. Até 2020, os paulistas deverão cortar em 20% a emissão de CO2. "É preciso ativismo do governo para tratar da questão ambiental", afirma Graziano, seu secretário do Meio Ambiente. Para incentivar as empresas, o governo paulista estuda abrir linhas de crédito para financiar a adoção de tecnologias limpas. "As metas são importantes, mas é preciso também dar os meios".

A tradição do Brasil em deixar boas idéias no papel preocupa. Para os especialistas, mais importante do que levar uma meta para Copenhague, é cumpri-la de fato. "É preciso que o país demonstre vontade de seguir suas metas", afirma Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar. Somente isso, segundo Jank, trará legitimidade para que o Brasil efetivamente se firme como líder da revolução verde. Além disso, algumas medidas não precisariam esperar pelo fórum do próximo mês para contribuir para melhorar o ambiente. Um exemplo seria o combate ao desmatamento da Amazônia. "Temos a lei, só falta vontade de aplicá-la", diz Jank.

As imposição de metas claras causa polêmica nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, muitos setores industriais resistem por temer que elas emperrem o desenvolvimento econômico. Num momento em que muitos analistas projetam uma expansão de 5% para o PIB brasileiro no próximo ano, a mesma preocupação poderia surgir por aqui. Mas, para o empresariado local, crescimento e meio ambiente podem combinar. "Uma meta clara não se choca com a arrancada econômica do Brasil", afirma Marcos Vaz, diretor de Sustentabilidade da Natura. "É preciso transformar as metas na chance de inserir o país na economia de baixo carbono", diz. (Continua)


Desafios

Para os empresários, não há dúvidas de que o Brasil pode tomar a dianteira na corrida pelas tecnologias verdes. Mas a hesitação do governo pode favorecer um concorrente até há pouco inusitado – a China. Reconhecido como um dos maiores poluidores do mundo por vários organismos internacionais, o país vem avançando rapidamente no campo das tecnologias limpas. "Os chineses deram um grande salto nos últimos três anos", afirma Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Hoje, por exemplo, o custo da energia fotovoltaica gerada pelos chineses já é menor do que o de pioneiros da área, como os americanos. "O governo brasileiro ainda não entendeu que a China está ganhando terreno", diz.

Mais cauteloso sobre o potencial de o Brasil liderar a revolução verde, Viola aponta problemas seculares que ameaçam o país nessa disputa. O principal é a debilidade de nosso sistema educacional. Sem formar pesquisadores, engenheiros e profissionais qualificados em várias áreas, os brasileiros correm o risco de perder o fôlego nas inovações tecnológicas necessárias para os novos tempos.

Outro problema é a necessidade de mudar a estrutura de transportes, ainda concentrada nas rodovias. "Este é o sistema mais atrasado e poluente do mundo. Temos de investir em outros meios", diz Viola, lembrando da grande malha ferroviária dos Estados Unidos e da Europa.

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