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Brasil não tem plano estratégico para 20 anos, diz economista

"A estratégia do BNDES é quase a estratégia do Brasil. O papel do BNDES pode ser estruturante para o futuro da economia", disse

Investimentos: O cenário é de aumento da volatilidade no mercado brasileiro (AndreyPopov/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de fevereiro de 2018 às 10h46.

São Paulo - Há cinco anos à frente da Roland Berger no Brasil, o português António Bernardo tem uma visão positiva do Brasil, apesar dos entraves políticos.

Responsável pela elaboração do Plano Estratégico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ), que será entregue em fevereiro, pelo projeto de melhoria de eficiência da Eletrobras e pelo novo desenho da Infraero , ele destaca que um dos maiores problemas do Brasil é a falta de planejamento de médio e longo prazo.

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"O país precisa de uma agenda estratégica para os próximos 20, 25 anos. Mas hoje isso não existe."

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele levanta alguns pontos que precisam ser atacados pelo próximo governo para destravar a economia, como a baixa produtividade, os elevados spreads dos bancos, baixo investimento e a pesada estrutura do Estado. A seguir alguns trechos da entrevista:

Vocês estão desenhando a nova estratégia do BNDES e estudando vários setores. Que conclusões vocês chegaram?

Somos positivos com o país. Acreditamos que há um potencial de desenvolvimento grande. Falo com investidores internacionais todas as semanas e vejo que há apetite para investir aqui. Mas percebemos que o país precisa de uma agenda estratégica para os próximos 20, 25 anos. Hoje esse é o problema do Brasil. Não existe planejamento estratégico. A gente vê uma oportunidade, pós eleições, de criar um consenso e visão estratégica para o país.

E o que deve ter essa agenda?

O mais importante é aumentar a produtividade. Nos últimos dez anos, vemos que os salários aumentaram mais que a produtividade. Isso reduz a competitividade. Para aumentar a produtividade, tem de investir mais. Mas o Brasil investe 17% do PIB e tem de chegar a, pelo menos, 22% ou 24% para estar num grau de desenvolvimento importante.

Isso melhora a produtividade?

Sim, mas não é só isso. O Brasil também precisa investir mais em pesquisa e desenvolvimento. Hoje isso representa 1,3% do PIB. A Coreia investe 4,2%; a China, 2,3%. O Brasil tem de investir no mínimo o dobro. Outro ponto: o Brasil tem uma economia muito fechada. As exportações e importações significam 18% do PIB. No México, 75%; na Alemanha, 80%; e na Colômbia, 105%.

A economia fechada dificulta trazer inovação e ser mais competitivo. É claro que os empresários preferem uma economia mais fechada, pois querem estar protegidos da concorrência internacional. Mas, no médio e longo prazos, é um problema para a competitividade da economia. O Brasil conta com 1% do comercio mundial. É nada. Uma economia de US$ 2 trilhões tem de ter um peso maior no mundo.

E qual o peso da questão fiscal na melhora da produtividade?

O setor público é muito pesado. O Estado tem a função de regular. Agora, tudo aquilo que o setor privado pode fazer melhor, o Estado não deve estar presente. Se não, o que ocorre? Lava Jato. Como é possível um déficit nominal de 9% do PIB e déficit primário de quase 3%? A União Europeia tem uma regra que o déficit nominal não pode ser superior a 3% do PIB. A questão das reformas não é ideologia. É um grande esforço necessário. A agenda estratégica do país precisa redirecionar o perímetro do Estado.

E qual será o papel do BNDES?

A estratégia do BNDES é quase a estratégia do Brasil. Temos dedicados dias e noites a esse projeto, que nos obrigou a estudar todos os setores do país e quais os fatores de desenvolvimento. O papel do BNDES pode ser estruturante para o futuro da economia.

Qual será o foco do BNDES?

Achamos que o futuro do Brasil está na média empresa. O País tem médias empresas que podem ser muito interessantes e podem se desenvolver bastante. Mas elas convivem com um problema: não há crédito. Gosto sempre de dar o exemplo da Alemanha. O país não vive só da Siemens e da Mercedes. Ele vive das médias empresas, que são internacionalizadas, investem muito em pesquisa e desenvolvimento. O peso das exportações no PIB na Alemanha é 80%. São essas empresas, muitas delas médias, que são proativas no mercado mundial. Então, achamos que o Brasil tem de olhar mais a média empresa. Esse é um dos segmentos que vai ser muito importante para a geração de trabalho e de emprego e maior internacionalização.

Nesse caso, tem de combinar com os bancos.

Os bancos ainda não conseguiram encontrar um modelo adequado para as pequenas e médias empresas. O setor bancário é muito forte no Brasil, mas vai passar por uma fase de mudanças porque os spreads são muito elevados e o custo de capital alto. Achamos que eles têm de melhorar a eficiência. Os bancos acham que são muito eficientes, mas quando comparamos com outros internacionais, a realidade não é assim. Os bancos têm eficiência porque têm receitas altas e spreads elevados. Para o bem da economia, esses spreads têm de ser reduzido.

Os bancos são ineficientes?

No Brasil, os custos operacionais sobre volume de ativos são 4,5% e na Europa e Estados Unidos, 2% e 2,5%.

Por que esse custo é alto?

Por vários motivos: tem muito pessoal, contingências trabalhistas e elevado peso das provisões para crédito. Isso quer dizer que os modelos de riscos dos bancos não são muito eficazes. Eles têm de provisionar muito. O modelo não é bom.

E o setor de infraestrutura?

Essa é uma área que será muito importante para elevar a produtividade e competitividade do País. Mas também precisará de plano estratégico para os próximos anos. É necessário ter um racional estratégico e prioridade porque não há recursos ilimitados. Em dez anos, calculamos que o País terá de investir R$ 300 bilhões por ano. É preciso criar disciplina e prioridades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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