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Brasil está perdendo competitividade, diz A.T. Kearney

Apesar de triplicar as exportações entre 1985 e 2003, o país perdeu participação no fluxo do comércio internacional

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.

O Brasil corre o risco de ser ultrapassado por outros países nas transações comerciais, mesmo batendo recordes de exportação e de saldo comercial. Caso o país não adote uma agenda abrangente de reformas que incentivem a competitividade no cenário internacional e seja capaz de atrair investimentos estrangeiros diretos (IEDs), outras nações emergentes, como a Índia e a Rússia, se consolidarão como opção dos investidores internacionais.

A avaliação é do presidente da consultoria A.T. Kearney no Brasil, Mark Essle. Entre 1985 e 2003, as exportações brasileiras praticamente triplicaram, saltando de 25,5 bilhões de dólares para 73,1 bilhões. Segundo Essle, seria uma boa notícia, se a participação do país no total das exportações mundiais não tivesse declinado de 1,31% para 0,98% no mesmo período. "Nós avançamos, mas outros países andaram mais rápido", diz.

Parte do problema é a crença do governo de que a gestão de uma boa política cambial basta para garantir a inserção brasileira no fluxo internacional, conforme Essle. O executivo afirma, porém, que o impulso que o câmbio pode dar para as exportações é limitado. Entre janeiro de 1994 e outubro de 2004, a cotação real média da moeda americana passou de 1 real por dólar para 1,52 real por dólar, em valores já deflacionados. Segundo Essle, esse é um exemplo de que não se pode confiar inteiramente na política cambial para estimular as vendas. "O câmbio nem se desvalorizou tanto quanto se imaginava. Não estamos numa relação de 3 reais para um dólar", diz.

Perdendo atratividade

O que está reduzindo a participação brasileira sobre o total de exportações mundiais, em parte, é a incapacidade do país de atrair novos investimentos estrangeiros. Segundo Essle, a percepção do país no exterior está se deteriorando devido à falta de combate efetiva contra a burocracia (veja reportagem de EXAME a respeito), a falta de soluções para a redução dos custos financeiros e operacionais das empresas que estudam se instalar no país e a taxa de crescimento da economia, que patina abaixo da média de outros países emergentes.

A falta de interesse dos investidores internacionais foi captada por uma pesquisa da A.T. Kearney divulgada há algumas semanas, o FDI Confidence Index, conforme Essle. No documento, o Brasil caiu de 9º para 17º país, entre 2003 e 2004, na lista das nações mais atraentes para o capital estrangeiro. Enquanto isso, a China manteve-se em primeiro lugar, seguida pelos Estados Unidos. A Índia foi um dos destaques da pesquisa, subindo de 6º para 3º.

Conforme Essle, parte da queda é explicada pelo mau desempenho da economia brasileira até 2003, ano em que o Produto Interno Bruto encolheu 0,2%. "Nos últimos 15 anos, a economia brasileira foi péssima e a taxa de crescimento não foi relevante, na comparação com outros países", diz.

Entraves

Baseada em consultas às 1 000 maiores empresas do mundo, responsáveis por 70% do total mundial de investimentos estrangeiros diretos, a pesquisa da A.T. Kearney mostra também que o país já foi o segundo na preferência internacional, em 1998. Para recuperar o terreno perdido no comércio internacional e na disputa por recursos externos, Essle, que também coordena o grupo de estudos de competitividade da Câmara Americana de Comércio (Amcham), propõe uma agenda com 12 pontos que devem ser atacados pelo governo e por empresários.

As propostas foram agrupadas em três categorias: redução dos custos do capital e aumento da oferta de recursos; aumento da competitividade fiscal e institucional; e redução dos custos operacionais das empresas. Entre as sugestões, estão a redução da carga tributária do país, o reforço dos marcos regulatórios e dos direitos de propriedade intelectual, a desburocratização da máquina pública e a promoção das reformas, como a trabalhista e a sindical.

"Não há novidades nesta agenda, mas, se todos fizermos nossa parte, teremos um Brasil bem melhor em dez anos", afirma. Conforme Essle, em bem menos tempo do que isso três anos os países emergentes devem superar os desenvolvidos em volume de investimentos estrangeiros atraídos. "Aumentar a competitividade da economia é um fator determinante, e os outros países estão mais avançados do que nós" diz. Essle participou nesta segunda-feira do Round Up 2005, promovido pela Amcham, em São Paulo. O evento analisou as perspectivas de negócios para as empresas brasileiras.

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