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"Brasil deve proteger compras governamentais ao negociar Alca"

Para Antonio José Simões, assessor econômico do ministro Celso Amorim, quem;encarava a Alca ideologicamente eram os Estados Unidos. Ele afirma que as negociações podem acabar desembocando apenas em um acordo entre Mercosul e Estados Unidos, o chamado "4+1

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.

A estratégia brasileira de não negociar a abertura de suas compras governamentais no âmbito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) é um meio de conservar instrumentos para promover políticas industriais. "Não podemos transferir para o exterior nossa capacidade de regulação", afirma o diplomata Antonio José Simões, assessor econômico do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e coordenador da equipe negociadora brasileira para a Alca entre 1999 e 2003.

Em palestra realizada nesta quarta-feira (22/9) na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Simões explicou que a Alca não foi concebida, inicialmente, para gerar comércio ou abrir mercados, mas para consolidar as reformas econômicas dos anos 80 e 90 realizadas por diversos governos da região. Para ele, essa característica original da Alca está sendo superada só agora.

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"É perfeitamente possível negociar com os Estados Unidos, e é importante ter um acordo com eles, desde que não haja esse elemento ideológico que vê a Alca como Bush pai a encarava, como um mecanismo para evitar a reversão das reformas econômicas liberais implantadas na América Latina", afirmou.

Em sua avaliação, justamente por não carregar esse "elemento ideológico", Robert Zoellick, o representante comercial americano, facilita mais o avanço das negociações do que Peter Allgeier, representante adjunto de Comércio dos Estados Unidos, em visita ao Brasil para pressionar por maior proteção aos direitos de propriedade intelectual (leia reportagem sobre a visita). "O Allgeier está nisso desde o começo e tem um envolvimento mais emocional com a negociação, o que não minha opinião é um erro", disse Simões. "Negociação comercial não se ganha no grito, com slogans. É tudo muito técnico."

Em sua avaliação, as negociações comerciais para a criação da Alca serão retomadas alguns meses depois das eleições americanas, mas podem acabar apenas em um acordo entre Mercosul e Estados Unidos, o chamado "4+1". "Eu trabalho para assinar bons acordos, não trabalho para não fazer acordo nenhum. Se demora, não me incomoda, porque visão de Estado é de 20, 30 anos."

O diplomata apontou os avanços brasileiros na abertura da economia a partir do final da década de 80. Segundo ele, quando surgiram as primeiras discussões sobre a Alca a tarifa aduaneira praticada no Brasil era de 89% em média, e ainda havia uma lista com produtos cuja importação era proibida. "Hoje a tarifa média é de 13%, enquanto a aplicada efetivamente é de 10%."

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