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Bolsas amargam bolha de telecomunicações

O fim da especulação financeira no setor, que teve crescimento explosivo entre 1996 e 2000, fez a relação entre preço e lucro de ações de empresas cair de 75 para 15 no último ano.

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

As bolsas de valores de todo o mundo estão sob o impacto do fim de uma bolha especulativa no setor de telecomunicações. Só de janeiro a outubro deste ano, o índice Nasdaq da Bolsa de Valores de Nova York, recheado de empresas de telecomunicações, perdeu 74% de seu valor. Analistas previam que em 2001 o Dow Jones chegaria a 36 000 pontos. Hoje, ele está em 7 700. O estouro da bolha das telecomunicações é uma das conclusões do estudo do IESE Business Scholl, departamento da Universidade de Navarra.

De acordo com o estudo, no início do ano 2000, a relação preço/lucro estava em torno de 45. Em outras palavras, uma ação era vendida pelo valor correspondente a 45 vezes da rentabilidade esperada da empresa. Em 2002, com algumas exceções, o PER (relação preço/lucro) está em 15.

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Veja abaixo o PER médio de alguns países:

  • Argentina - 22,1
  • Canadá - 21,1
  • Austrália - 20,4
  • Itália - 16,5
  • Suíça - 16,5
  • Espanha - 13,5
  • França - 12,1
  • Alemanha - 11,6
  • Brasil - 9,1

    No caso da bolha das telecomunicações nas bolsas, o investidor esperava uma rentabilidade de 25% quando o valor histórico de rendimento desse tipo de papéis era de 6,8%. Segundo o IESE, o mercado teria sido avisado pelo presidente do BC americano, Alan Greenspan, em dezembro de 1996, sobre a formação de uma bolha no setor de telecomunicações - 36 meses antes da cotação máxima dessas empresas.

  • Na vida real, o cenário das empresas do setor é quase trágico. Levantamento feito por EXAME, em reportagem publicada em agosto , mostra que as operadoras de telefonia de todo o mundo devem algo próximo de 1 trilhão de dólares. Parte desse dinheiro foi emprestada para deitar milhares de quilômetros de fibras ópticas ao redor do planeta. Mais de 90% dessas fibras estão ociosas ou, como se diz no jargão do setor, "apagadas", e ninguém se arrisca a dizer quando essa infra-estrutura toda vai gerar receitas e pagar o investimento inicial. Outro tanto daquele trilhão de dólares está financiando as redes da próxima geração da telefonia celular. Só que algumas operadoras estão desistindo no meio do caminho. A espanhola Telefónica é uma delas. Calculou que é melhor perder um pouco agora do que abrir um rombo maior no futuro. Há também os fornecedores de equipamentos, acuados diante de um mercado que só encolhe. Só no ano passado, 500 000 funcionários do setor de telecomunicações perderam o emprego nos Estados Unidos. E, para completar o elenco, os bandidos. As fraudes da WorldCom e da Enron, só para ficar nos dois casos mais conhecidos, estão ligadas às telecomunicações.

    A Deutsche Telekom deve quase 70 bilhões de dólares, e a France Telecom, outros 60 bilhões. Ambas entraram ferozmente em mercados estrangeiros, do Japão aos Estados Unidos. Terão, agora, de seguir o exemplo de quem já pôs ordem na casa. A British Telecom, do Reino Unido, reduziu pela metade sua dívida de 40 bilhões de dólares.

    No Brasil, segundo a Anatel, existem 10 milhões de linhas telefônicas instaladas que não são utilizadas. Descontada uma generosa reserva técnica para a garantia da qualidade do serviço, pelo menos 5 milhões de linhas aguardam comprador.

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