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Bolsa reflete bom momento do país, dizem economistas

Especialistas falam do que está puxando a bolsa de valores para perto dos 50.000 pontos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

O bom momento da economia brasileira é o principal responsável pelos sucessivos recordes apresentados pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A avaliação é de economistas consultados por EXAME. Veja, a seguir, o que dizem os especialistas.

Paulo Levy - diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

Levy lembra que já era esperado que o Ibovespa se aproximasse dos 50.000 pontos, mas ressalta que a novidade é a velocidade com que isso está ocorrendo. "Ela vai chegar mais rápido do que se esperava", diz. Mas não é um fenômeno brasileiro. "Várias bolsas internacionais também estão batendo recordes em razão do contexto internacional". O cenário externo, que há dois anos se mostrava nebuloso, agora aponta um horizonte positivo. "A economia americana crescia 4% ao ano. Agora vai crescer menos, mas continuará crescendo. Ao mesmo tempo, o Japão se recupera e a economia européia se mantém estável". Com isso, a média de crescimento mundial ficará na casa de 5%.

Some-se a isso a economia brasileira, que apresenta um desempenho favorável, principalmente depois da revisão dos números do PIB. "Não estamos mais falando de crescimento médio de 2,5%. O Banco Central continua tendo autonomia para decidir os juros. O superávit primário previsto para os próximos anos é de 3,8% do PIB. Todos são bons sinalizadores", diz Levy. "Tudo isso combinado traz eficiência à economia brasileira e atrai recursos para investimentos no mercado de capitais". Por isso, a bolsa de valores se torna um reflexo importante para o desenvolvimento econômico. "O mercado de capitais não é o motor da economia. O motor é o investimento, e o mercado de capitais viabiliza esse investimento", explica.

Antonio Corrêa de Lacerda - economista e professor da PUC-SP

"O capitalismo brasileiro está dando um passo à frente e o crescimento da bolsa é um fenômeno que mostra isso, pois alia uma economia caminhando bem e um setor privado vigoroso. O valor de mercado das empresas de capital aberto no Brasil atingiu o nível recorde de 1,5 trilhão de reais este ano, o equivalente a 74% do PIB, o que é um crescimento expressivo. No ano 2000, essa participação era de apenas 38%. A fase de liquidez da economia mundial contribui para o crescimento dos mercados de capitais, mas esse fenômeno não está restrito ao Brasil. Vários países emergentes ampliaram a participação de empresas de capital aberto no seu PIB. Só para citar dois exemplos, entre 2000 e 2005, essa participação cresceu de 32% para 70%, na Índia, e de 15% para 72% na Rússia. Já o México e a China não têm o mercado de capitais tão desenvolvido.

Houve uma forte valorização do mercado de capitais brasileiro, que no acumulado dos últimos quatro anos atingiu 265%. Apesar das recentes turbulências internacionais a partir da crise nas bolsas de Xangai, que afetaram o desempenho do início do ano, as perspectivas continuam bastante favoráveis. Também cresceram as captações no mercado, por conta das emissões de ações e debêntures, que atingiram 109 bilhões de reais em 2006. A tendência é haver a expansão do mercado no futuro, com a queda da inflação aliada ao prognóstico de crescimento da economia, à continuidade da queda de juros, ao ingresso de investimentos estrangeiros e à pressão do mercado por mais transparência e regras de governança das empresas. É claro que ainda existem desequilíbrios na área fiscal e uma agenda econômica a ser enfrentada, como as reformas da previdência, a tributária e a trabalhista. A boa notícia é que os problemas brasileiros dependem apenas dos brasileiros, e não mais de organismos internacionais e do cenário externo.

A bolsa está se tornando relevante para as empresas e a economia brasileira. A exemplo do que ocorre em muitos outros países, cada vez mais o mercado de capitais brasileiro será uma alternativa de diversificação de capitalização de empresas para viabilizar os seus projetos de investimentos. Ainda há, como alternativa, o BNDES e a captação internacional. Em 2006, o financiamento do BNDES atingiu 52,3 bilhões de reais, com um crescimento de 11,3% em relação ao ano anterior. As aprovações de pedidos de financiamento - importante indicador de demanda futura - chegaram a 74,3 bilhões de reais, com um crescimento de 36,3% em relação ao ano anterior. Outro fenômeno observado é a expansão das emissões brasileiras na Bolsa de Valores de Nova York (as ADR´s American Depositary Receipts), que, em 2006, atingiram 221 bilhões de dólares, praticamente o dobro do volume do ano anterior. A aceitação dos títulos das empresas brasileiras no exterior é um instrumento poderoso para viabilizar suas estratégias de expansão".

Alessandra Ribeiro - economista e analista da Tendências Consultoria Integrada

"O investimento privado é o principal responsável pelo desenvolvimento da economia e os dados dos últimos anos comprovam isso. Se as empresas estão investindo mais é porque estão acreditando no futuro e apostando no cenário positivo. Isso é importante, pois não há perspectiva de aumento de investimento público a curto prazo. Nesse sentido, o PAC (Plano de Aceleração da Economia) é muito pequeno e os investimentos públicos ali anunciados não resolverão a questão do crescimento do país.

Vários fatores foram importantes para facilitar esse processo de investimento privado, sendo que os básicos são os principais fundamentos da economia brasileira há sete anos: redução da inflação e câmbio flutuante. Eles tornam a economia previsível. Quanto menos incerteza, menor o risco e maior a taxa de investimento. Nunca houve um período tão longo em que a base da política econômica foi mantida sem alterações, o que dá segurança para os investidores. Isso é crucial, pois dá horizonte para o investidor. O governo atual também está fazendo seu dever de casa, reduzindo a dívida externa, mantendo o superávit primário e reduzindo a relação dívida/PIB, aumentando as reservas internacionais e reduzindo os juros, para citar algumas medidas. Tudo isso reduz o risco Brasil e faz com que as empresas captem recursos com taxas melhores do que antes."

Keyler Carvalho Rocha - ex-diretor da área de mercado de capitais do Banco Central e professor da Faculdade de Economia da USP

"Os preços das ações no Brasil ainda estão muito baixos e por isso são atraentes para os investidores. As empresas estão investindo bastante e ainda assim, o valor das suas ações não sobe. É o caso da Petrobras, cujo preço das ações estava em 50 reais em dezembro e agora está em 46,65 reais, mesmo tendo descoberto mais poços e feito acordos internacionais. As empresas brasileiras estão bem e a economia também.

Com o cenário internacional positivo, os investidores de fora também ingressam no mercado brasileiro. Isso gera uma espiral positiva: na medida que investir em ações é rentável, as pessoas se entusiasmam e passam a investir também. Com isso, vai aumentar o volume de investimentos das empresas nacionais, estimulando ainda mais esse ciclo. É um movimento sustentável, mas não é retilíneo. A bolsa anda em ziguezagues. Pode haver reduções amanhã, para haver nova alta depois. É preciso estar preparado para eventos que possam ocorrer no médio e longo prazo. A expectativa porém é positiva, principalmente porque o cenário interno é bastante favorável."

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