Bolsa lidera ranking dos investimentos mais rentáveis em 2009
Estabilidade econômica e inflação sob controle fazem das ações a melhor opção também para 2010
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
No ano em que as economias em todo o mundo concentraram esforços para se recuperar de uma das maiores crises das últimas décadas, a bolsa foi - de longe - a aplicação que trouxe as melhores oportunidades de ganhos para os investidores. De acordo com informações da Central do Investidor, do Portal Exame, a rentabilidade alcançada pelo Ibovespa, composto pelas ações de maior liquidez da bolsa brasileira, foi de 81,63% até o dia 30 de dezembro.
Tanto no Brasil quanto na maioria dos países emergentes, o mercado acionário teve uma recuperação considerada surpreendente, apoiada principalmente na intevenção dos governos e dos bancos centrais, com o afrouxamento das políticas monetária e fiscal. No caso do governo brasileiro, houve a atuação através de programas de incentivo como o Minha Casa, Minha Vida, voltado ao mercado imobiliário, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a injeção de recursos destinados a financiamentos de obras de infraestrutura. Com isso, o mercado interno foi estimulado, atuando como um dos protagonistas da boa fase da economia no país.
A estabilidade e a resiliência do Brasil se tornaram notórias rapidamente no mundo, atraindo não só os olhares como os recursos dos investidores internacionais, seja para a bolsa, seja por meio da compra de empresas. "Nossa alavancagem foi muito menor em comparação com outros países. Não estávamos expostos ao subprime, nem a um mercado hipotecário capaz de criar problemas. Estávamos muito mais protegidos e isso chamou os investidores", diz Hersz Ferman, economista da Um Investimentos.
Para 2010, os especialistas acreditam na continuidade da boa fase da bolsa como geradora de bons retornos para os investidores. O próprio Ferman acredita que o próximo ano ainda será marcado por uma economia "movida a estímulos fiscais e juros baixos", o que deve deixar a renda variável com larga vantagem, em termos de rentabilidade, sobre as demais aplicações.
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Entretanto, apesar de improvável, um risco para a bolsa em 2010, não apenas no Brasil, seria a retirada dos estímulos a um ritmo rápido demais, em um momento em que a economia, apesar de se recuperar com força, ainda mostra sinais de fragilidade. Para os economistas, não é um cenário esperado e a retomada do crescimento deve se manter cautelosa, principalmente no primeiro semestre do próximo ano.
Assim, investir em ações deve continuar sendo a melhor opção em 2010. Para o professor e educador financeiro Mauro Calil, ainda que não haja uma valorização como a observada em 2009, no ano que vem o Ibovespa deve crescer entre 20% e 30%, e exemplifica uma possibilidade de aplicação. "Se o investidor escolher uma boa empresa, pagadora de dividendos, em 2010 ela deve conseguir de 10% a 12% de rendimento do próprio papel, além dos 3% de dividendos. Isso dá 150% do CDI", diz.
Veja a rentabilidade de outros investimentos ao longo de 2009:
Poupança
Com uma rentabilidade de 6,76% até o dia 30 de dezembro, considerada normal para a aplicação, a poupança foi considerada uma boa alternativa de investimento para Manuel Lamas, diretor de renda fixa da corretora XP Investimentos. Apesar da rentabilidade considerada baixa a poupança é um título pré-fixado, que remunera 0,5% ao mês mais a taxa de referência (TR) -, a alternativa é adequada para quem não tem conhecimentos suficientes para aplicar no mercado de ações, e procura risco praticamente nulo. Em um ano com inflação sob controle, como é esperado para 2010, a tendência é que os rendimentos sejam menores.
CDI
Outra aplicação considerada praticamente livre de riscos, o Certificado de Depósitos Interbancários (CDI) obteve rentabilidade de 9,56% até a última quarta-feira (30). A razão do desempenho menor do que nos últimos dois anos (11,33% em 2007 e 11,63% em 2008) foi a queda nos juros. Como parte de uma política para aquecer a economia brasileira no período mais crítico da crise, o Banco Central (BC) iniciou uma trajetória de redução taxa Selic, a qual saiu de 13,75% em janeiro chegando aos atuais 8,75%. Ao longo do ano houve mais estabilidade econômica, a liquidez dos bancos aumentou, o que diminuiu a remuneração que as instituições estavam dando ao CDI. Para Manuel Lamas, a rentabilidade do CDI deve ser maior em 2010. "O BC pode querer ancorar as expectativas inflacionárias e moderar o provável crescimento de 6% do país no ano que vem, subindo um pouco a Selic", diz.
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Dólar
Uma das piores opções para os investidores. Quem comprou a moeda americana esperando alguma apreciação com a melhora dos fundamentos econômicos dos EUA obteve uma queda de 25,30% na rentabilidade da aplicação. Boa parte da desvalorização da moeda americana pode ser explicada pelo bom desempenho da bolsa no Brasil e as elevadas taxas de juros (para os padrões internacionais). Tais condições atraíram mais de 10 bilhões de reais em investimentos estrangeiros apenas nos sete primeiros meses de 2009. O apetite de investidores de todo o mundo por ações brasileiras foi tamanho que o ingresso de recursos se manteve intenso mesmo após o governo decretar a taxação à entrada de capital externo no país em outubro, por meio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Além disso, a própria debilidade da moeda americana, reflexo da crise, contribuiu para que a compra de dólar fosse uma desvantagem para investidores em todo o mundo.
Ouro
O preço do ouro segue o movimento da cotação do dólar e, como era esperado, também teve desempenho fraco no ano. Quem procurou no metal uma reserva de valor, teve uma perda de 4,11% na rentabilidade ao longo de 2009. Segundo explica Calil, apesar de uma ligeira valorização em outubro e novembro, puxada por investidores que acreditavam em uma realização mais acentuada na bolsa, a compra de ouro não foi vantajosa, tanto pela queda do dólar, quanto pela baixa liquidez do investimento.
Títulos públicos
Quando a crise se agravou, o temor de que os investidores estrangeiros pudessem retirar os recursos do país, tornando necessário um aumento nos juros para segurar a alta da inflação, intensificou a procura pelos títulos pré-fixados. Papéis como as Letras do Tesouro Nacional (LTN), cuja rentabilidade é baseada na marcação a mercado, obtiveram bom desempenho, principalmente durante a fase de elevada percepção de risco por parte do mercado, com uma curva de juros garantindo prêmios elevados. As LTNs registraram, em 2009, rentabilidade entre 12% (para aquelas com vencimento em janeiro de 2010) e 14,3% (para os papéis com vencimento em janeiro de 2011). Já a rentabilidade dos títulos pós-fixados, indexados à Selic, acompanhou as decisões do Banco Central. Com a redução da taxa básica, com o intuito de aquecer a economia, papéis como as Letras Financeiras do Tesouro (LTF) terminou o ano com um rendimento entre 9,89% (vencimento em janeiro 2013) e 10,03% (vencimento em março de 2010). No próximo ano, essas aplicações tendem a ter rentabilidade maior, uma vez que é esperado um aumento da Selic para manter ancoradas as expectativas quanto à inflação.