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Bolsa e economia impulsionam empresas

Veja alguns exemplos de empresas que se beneficiaram da estabilidade econômica e do apetite dos investidores por ações e títulos de dívidas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

A economia estável e a liquidez internacional favorecem os planos de expansão de diversas empresas. Veja algumas companhias que souberam aproveitar bem essa conjuntura.

Apoio na internacionalização

A Perdigão se prepara para uma expansão no mercado internacional jamais vista na história da empresa - e essa guinada será feita com a ajuda do mercado de capitais. Ainda este ano, a Perdigão quer adquirir uma grande empresa instalada no exterior e construir fábricas na Europa e na Ásia, para ficar mais próxima dos mercados consumidores. Embora já tenha a marca reconhecida lá fora, atualmente, a Perdigão tem apenas escritórios comerciais em regiões como Inglaterra, Japão e Dubai. Para expandir, a Perdigão captou 800 milhões de reais em dezembro de 2006, com a emissão de ações na Bovespa e na bolsa de valores de Nova York. Do total, 480 milhões de reais (60%) são recursos de novos investidores. O apetite foi maior por parte dos estrangeiros, que desembolsaram 330 milhões desse valor. Os acionistas e fundos de pensão que controlam a empresa, liderados pela Previ, entraram com os outros 40%.

A entrada de recursos de investidores, sobretudo de estrangeiros, é uma novidade para a Perdigão, que cresceu nos últimos anos graças ao capital próprio, aos empréstimos bancários e financiamento do BNDES. "A melhora do ambiente do mercado de capitais propiciou às empresas brasileiras entrarem no radar dos investidores", diz o executivo paulista Nildemar Secches, presidente da Perdigão. "Com os recursos captados recentemente, a Perdigão aumenta a velocidade de investimento. É uma realidade diferente da que tínhamos no passado, em que a dificuldade de captação de recursos era muito grande". Secches sabe bem do que está falando. Quando assumiu o comando da Perdigão, em 1995, a empresa captou apenas 70 milhões de reais para expandir as operações. O grosso dos investimentos para a expansão de fábrica veio do BNDES e capital próprio, e do Banco do Brasil para os produtores. A aposta deu certo, mas levou tempo. Entre 1995 e 2006, as vendas saíram de 400 milhões de reais para 6 bilhões por ano. Com os novos recursos, a expansão deve ser mais rápida. "A Perdigão vai dobrar de tamanho até 2011", diz Secches. Para comandar essa nova fase, a Perdigão iniciou um processo de seleção planejada. Em até um ano, será escolhido o novo diretor-presidente que comandará a empresa. Até lá, Secches acumula a função de presidente do conselho de administração.

Expansão na classe C

Em dezembro de 2006, os sócios da Positivo Informática fizeram seu IPO na Bolsa de Valores de são Paulo (Bovespa) e captaram 600 milhões de reais. Desse valor, 65,8 milhões de reais serão usados em 2007 na expansão da fábrica, instalada em Curitiba, na informatização da empresa e na melhoria dos processos internos. O objetivo da Positivo é replicar o seu sucesso da expansão nos últimos anos, mas em ritmo mais acelerado. Em 2006, a Positivo vendeu 830.000 computadores, 35 vezes mais que o volume de 23.000 equipamentos comercializados em 2003.

"O crescimento ocorreu graças a incentivos do governo federal, que reduziu impostos e criou programas de inclusão digital nos últimos anos. Agora, queremos nos preparar para um mercado que continua em franca expansão, mas ainda é muito fragmentado", diz Hélio Rottenberg, presidente da Positivo Informática. As expectativas de Rottenberg estão fundamentadas nas atuais características do setor. Hoje, a Positivo é líder, mas detém apenas 12% das vendas de computadores no país. Quase 50% dos equipamentos são comercializados por empresas que atuam com algum grau de informalidade. Além disso, os computadores chegaram a apenas 18% dos consumidores da classe C, a de menor poder aquisitivo. "Nesse mercado, terão oportunidade as empresas mais profissionais".

Reconhecimento do mercado

A Ambev é uma das poucas empresas que podem ostentar o grau de investimento, concedido pelas agências de rating, espécie de certificado de que o país é seguro para os investimentos. A companhia conseguiu o conceito em dezembro de 2004 pela Standard & Poor';s, e, depois, em janeiro de 2006, pela Fitch Ratings. O Brasil é o principal mercado, com 62% do faturamento líquido de 17,6 bilhões de reais em 2006. América Latina e Canadá representam 38%. A internacionalização reflete a capacidade da Ambev fazer financiamento por meio da bolsa.

Para fazer a associação com a argentina Quinsa, em 2002, a Ambev captou 500 milhões de dólares. Com a aquisição, a empresa expandiu operações para Bolívia, Equador, Guatemala e Peru. Em 2003, a Ambev captou mais 500 milhões de dólares para adquirir a canadense Labatt no ano seguinte e expandir atuação na América do Norte. Em agosto de 2006, a Ambev lançou debêntures para captar 1,2 bilhão de dólares para a aquisição das ações da Quilmes Industrial S.A. Nessa operação, a Ambev pagou uma das taxas de juros mais baixas do mercado. "O grau de investimento é reconhecimento do trabalho da empresa, inserida numa economia mais estável", diz Fernando Tennenbaum, gerente de Relações com Investidores da Ambev.

Condições favoráveis

A redução do risco-país e a liquidez do mercado internacional ajudaram a Braskem a se lançar no mercado externo e a triplicar o faturamento em apenas quatro anos. Em 2006, a Braskem faturou 9,9 bilhões de dólares, 230% mais que em 2002. As exportações mantiveram a participação de 25% das receitas. A melhora das condições de captação de recursos no mercado nos últimos anos facilitaram a expansão. "Hoje, os prazos de emissões estão mais longos e os custos dos empréstimos são mais razoáveis", diz Carlos Fadigas, vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores da Braskem.

A operação mais recente da companhia é um bom exemplo. No início de abril, a empresa negociou a captação de até 1,2 bilhão de dólares via empréstimo-ponte para financiar a aquisição dos negócios da Ipiranga, feita em parceria com a Petrobras, e o futuro fechamento do capital da Copesul. A linha de crédito tem taxas de 0,35% acima da Libor no primeiro ano e de 0,55% no segundo. Em 2003, quando o risco-país estava em 900 pontos, as taxas eram de Libor mais 9% ao ano. "A captação foi feita num momento bastante favorável do mercado, com excelente liquidez, garantindo condições atraentes e flexibilidade financeira", diz Fadigas.

Impulso à tecnologia

Desde 2004, a operação brasileira da HP dobrou de tamanho, crescendo a uma média de 30% ao ano. O desempenho da subsidiária superou o crescimento do setor de tecnologia, que vem avançando a taxas de 6%. Também foi melhor que a HP mundial, que registrou crescimento anual médio de 7% desde 2004. A HP, que fatura no mundo 92 bilhões de dólares por ano, não divulga números por subsidiária, mas revela que passou a apostar mais no Brasil em razão da expansão do consumo no varejo e da disposição das empresas em modernizar suas instalações. "Até recentemente, mais de 70% do mercado de computadores operava na informalidade, o que dificultava nossa atuação. Com a redução de impostos e a exigência de modernização, o setor formal conseguiu se expandir e aumentar sua fatia para quase 50%, abrindo espaço para crescermos", diz Denoel Eller, diretor de Marketing e Soluções da HP Brasil.

A HP atribui seu crescimento ao melhor desempenho do varejo e à maior demanda das empresas brasileiras, algumas, puxadas pelas novatas na bolsa de valores. "Os IPOs na bolsa estão capitalizando as empresas, que perceberam a necessidade de se modernizar para serem cada vez mais competitivas. Isso permite às companhias também se expandir para o mercado internacional, o que é mais um empurrão para os nossos negócios", diz Eller. O executivo diz que, ao contrário do que ocorre em outros países emergentes, como China e Rússia, as empresas brasileiras estão terceirizando cada mais vez os serviços de consultoria, suporte, integração de sistemas, armazenamento de dados e até alugando computadores. "Isso libera as empresas para investir em seu core business, o que gera um círculo virtuoso", diz Eller. "No Brasil, 45% do mercado de tecnologia são serviços, enquanto 55% são venda de produtos, como software. Na China, os serviços respondem por apenas 15% dos negócios de tecnologia, o que mostra que o Brasil está à frente".

Novos consumidores

As empresas de consumo também estão colhendo os resultados da melhora da economia brasileira. A Procter & Gamble, uma das maiores fabricantes de produtos de higiene e limpeza do mundo, viu seu mercado se expandir nos últimos anos, sobretudo entre os consumidores da baixa renda. O principal indicador desse movimento são as vendas de fraldas Pampers, o carro-chefe da P&G no Brasil. A participação de mercado da P&G cresceu de 15%, em 2002, para 27% atualmente.

Essa expansão está ligada às vendas da linha mais popular da marca, historicamente uma das mais caras do país e voltada para o público de alta renda. A Pampers Básica foi criada há cerca de três anos, voltada para o consumidor de menor poder aquisitivo. A P&G não revela dados por segmento de mercado. Mas dados da Abihpec, que reúne os fabricantes de produtos de higiene e limpeza do país, mostram como esse mercado explodiu nos últimos anos. Em 2006, as fabricantes produziram 6,2 bilhões de unidades de fraldas descartáveis, o dobro do volume produzido em 1997, de 3,1 bilhões. Dez anos atrás, apenas 68% dos lares brasileiros com crianças de até dois anos de idade usavam fraldas descartáveis. Em 2006, esse índice evoluiu para 91%. "É incontestável que a melhora da economia permite a entrada de novos consumidores e a migração de outros para classes sociais com maior poder aquisitivo", diz Pedro Silva, diretor de Relações Exteriores da P&G no Brasil.

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