BC vê mais inflação em 2013; mercado diverge sobre juro
O Banco Central manteve seu duro discurso de combate à inflação nesta quinta-feira e indicou que dará continuidade ao ciclo de aperto monetário
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2013 às 16h45.
São Paulo/Brasília - O Banco Central manteve seu duro discurso de combate à inflação nesta quinta-feira e indicou que dará continuidade ao ciclo de aperto monetário, mas agentes econômicos seguem sem consenso sobre se virão altas maiores do juro básico ou se o ritmo atual será mantido.
Em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado logo cedo, o BC indicou que vê a economia brasileira crescendo menos em 2013 e piorou seus cenários de inflação para este e o próximo ano, citando também riscos trazidos pelo dólar mais elevado e repetindo que continuará "especialmente vigilante" na condução da política monetária.
Para o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, o relatório do BC indica que a autoridade monetária avalia que altas adicionais do juro são necessárias, mas que não há "pressa excessiva no ciclo de aperto, já que as previsões apontam para a estabilização da inflação numa perspectiva de médio prazo, embora ainda acima da meta".
Para este ano, o BC prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 2,7 %, abaixo dos 3,1 % estimados anteriormente e mesmo desempenho visto em 2011, primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff. Em 2012, a economia doméstica teve expansão de apenas 0,9 %.
A previsão do BC para este ano ainda é melhor do que a colhida na pesquisa Focus, que aponta alta de 2,46 % do PIB em 2013.
O BC argumenta que os indicadores de atividade já vistos no segundo trimestre sugerem continuidade da recuperação, como a retomada da indústria e a manutenção da expansão do consumo das famílias, apesar da estimativa de alta para esta variável ter sido reduzida a 2,6 %, ante 3,5 %.
A inflação elevada tem afetado a demanda dos consumidores, uma vez que atinge o poder de compra da população.
No relatório, o BC piorou suas expectativas e trabalha agora com IPCA de 6 % no fechado de 2013 no cenário de referência --que considera Selic estável no patamar de 8 % ao ano--, ante previsão anterior de 5,7 %. Para 2014, o IPCA deve ficar em 5,4 %, ligeiramente acima da estimativa anterior de 5,3 %.
Apesar disso, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, acredita que o IPCA fechará este ano abaixo do registrado em 2012, quando ficou em 5,84 %. Isso ocorrerá, segundo ele, porque o BC tem os instrumentos necessários para manter a inflação sob controle, mantra que repetiu várias vezes durante a entrevista coletiva para comentar o relatório de inflação.
"O cenário de inflação neste ano abaixo de 2012 está de pé", afirmou o diretor do BC, numa indicação clara de que o aperto monetário continuará.
Pelo conteúdo do relatório atual do BC, o IPCA voltará a estourar o teto da meta do governo neste trimestre no acumulado em 12 meses, chegando a 6,8 %, antes de recuar a 6,2 % no terceiro trimestre e a 6 % no quarto trimestre. A meta de inflação do governo é de 4,5 %, com tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
No Focus, os economistas consultados veem o IPCA a 5,86 % neste ano, com a Selic a 9 % em dezembro.
Câmbio
O BCdestacou, no relatório, que a maior volatilidade e "tendência de apreciação" do dólar são riscos considerados, mas defendeu que na última década o repasse da depreciação cambial para a inflação diminuiu. "Além disso, esse repasse tende a ser suavizado pelo ciclo de ajuste da política monetária ora em curso", segundo o BC.
O dólar acumulava alta de 2 % ante o real neste mês até dia 26. A moeda norte-americana chegou a subir mais de 5 % no pico em junho, quando ultrapassou 2,25 reais, diante da expectativa de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, possa reduzir seu programa de estímulos, o que diminuiria a liquidez internacional.
Segundo o diretor do BC, as projeções no relatório de inflação não levaram em conta a alta do dólar, que no cenário de referência está em 2,10 reais.
O documento já contempla, contudo, as reduções nos preços das passagens de transporte público definidas recentemente por diversos governos municipais e estaduais, em resposta às manifestações populares que tomaram as ruas do país nas últimas semanas.
Dúvidas
Apesar de o BC repetir no relatório o tom forte de combate à inflação adotado recentemente pela autoridade monetária, não há consenso sobre a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) acentuar mais o aperto monetário em julho, quando se reúne novamente.
Para o economista-chefe da banco Fator, José Francisco Gonçalves, o BC manter o ritmo de alta de 0,50 ponto percentual "é o mais provável", mas um eventual ajuste de 0,75 ponto na Selic não pode ser descartado.
O BC iniciou o ciclo de alta do juro em abril, quando tirou a Selic do piso histórico de 7,25 % ao ano, para 7,50 %. A autoridade acelerou o passo em maio, quando elevou a taxa básica para 8 %, informando que agiria de maneira tempestiva para conter a inflação.
"De certa forma, o BC sinalizou que pode aumentar para 0,75 ponto o ritmo de aperto da política monetária", afirmou o economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen.
Para o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Flavio Serrano, no entanto, "o relatório reforça o cenário que o atual ciclo de aperto terá mais duas altas de 0,50 ponto".
"Talvez o BC possa estender o ciclo, mas ainda não há indícios disso", observou Serrano.
Já no mercado futuro de juros, a maioria das apostas ainda é de que a Selic será elevada em 0,75 % na próxima reunião do Copom. Nesta sessão, o mercado não estava reagindo ao relatório do BC, com a leitura de que o documento não trouxe grandes novidades em relação ao discurso recente do BC.
São Paulo/Brasília - O Banco Central manteve seu duro discurso de combate à inflação nesta quinta-feira e indicou que dará continuidade ao ciclo de aperto monetário, mas agentes econômicos seguem sem consenso sobre se virão altas maiores do juro básico ou se o ritmo atual será mantido.
Em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado logo cedo, o BC indicou que vê a economia brasileira crescendo menos em 2013 e piorou seus cenários de inflação para este e o próximo ano, citando também riscos trazidos pelo dólar mais elevado e repetindo que continuará "especialmente vigilante" na condução da política monetária.
Para o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, o relatório do BC indica que a autoridade monetária avalia que altas adicionais do juro são necessárias, mas que não há "pressa excessiva no ciclo de aperto, já que as previsões apontam para a estabilização da inflação numa perspectiva de médio prazo, embora ainda acima da meta".
Para este ano, o BC prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 2,7 %, abaixo dos 3,1 % estimados anteriormente e mesmo desempenho visto em 2011, primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff. Em 2012, a economia doméstica teve expansão de apenas 0,9 %.
A previsão do BC para este ano ainda é melhor do que a colhida na pesquisa Focus, que aponta alta de 2,46 % do PIB em 2013.
O BC argumenta que os indicadores de atividade já vistos no segundo trimestre sugerem continuidade da recuperação, como a retomada da indústria e a manutenção da expansão do consumo das famílias, apesar da estimativa de alta para esta variável ter sido reduzida a 2,6 %, ante 3,5 %.
A inflação elevada tem afetado a demanda dos consumidores, uma vez que atinge o poder de compra da população.
No relatório, o BC piorou suas expectativas e trabalha agora com IPCA de 6 % no fechado de 2013 no cenário de referência --que considera Selic estável no patamar de 8 % ao ano--, ante previsão anterior de 5,7 %. Para 2014, o IPCA deve ficar em 5,4 %, ligeiramente acima da estimativa anterior de 5,3 %.
Apesar disso, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, acredita que o IPCA fechará este ano abaixo do registrado em 2012, quando ficou em 5,84 %. Isso ocorrerá, segundo ele, porque o BC tem os instrumentos necessários para manter a inflação sob controle, mantra que repetiu várias vezes durante a entrevista coletiva para comentar o relatório de inflação.
"O cenário de inflação neste ano abaixo de 2012 está de pé", afirmou o diretor do BC, numa indicação clara de que o aperto monetário continuará.
Pelo conteúdo do relatório atual do BC, o IPCA voltará a estourar o teto da meta do governo neste trimestre no acumulado em 12 meses, chegando a 6,8 %, antes de recuar a 6,2 % no terceiro trimestre e a 6 % no quarto trimestre. A meta de inflação do governo é de 4,5 %, com tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
No Focus, os economistas consultados veem o IPCA a 5,86 % neste ano, com a Selic a 9 % em dezembro.
Câmbio
O BCdestacou, no relatório, que a maior volatilidade e "tendência de apreciação" do dólar são riscos considerados, mas defendeu que na última década o repasse da depreciação cambial para a inflação diminuiu. "Além disso, esse repasse tende a ser suavizado pelo ciclo de ajuste da política monetária ora em curso", segundo o BC.
O dólar acumulava alta de 2 % ante o real neste mês até dia 26. A moeda norte-americana chegou a subir mais de 5 % no pico em junho, quando ultrapassou 2,25 reais, diante da expectativa de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, possa reduzir seu programa de estímulos, o que diminuiria a liquidez internacional.
Segundo o diretor do BC, as projeções no relatório de inflação não levaram em conta a alta do dólar, que no cenário de referência está em 2,10 reais.
O documento já contempla, contudo, as reduções nos preços das passagens de transporte público definidas recentemente por diversos governos municipais e estaduais, em resposta às manifestações populares que tomaram as ruas do país nas últimas semanas.
Dúvidas
Apesar de o BC repetir no relatório o tom forte de combate à inflação adotado recentemente pela autoridade monetária, não há consenso sobre a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) acentuar mais o aperto monetário em julho, quando se reúne novamente.
Para o economista-chefe da banco Fator, José Francisco Gonçalves, o BC manter o ritmo de alta de 0,50 ponto percentual "é o mais provável", mas um eventual ajuste de 0,75 ponto na Selic não pode ser descartado.
O BC iniciou o ciclo de alta do juro em abril, quando tirou a Selic do piso histórico de 7,25 % ao ano, para 7,50 %. A autoridade acelerou o passo em maio, quando elevou a taxa básica para 8 %, informando que agiria de maneira tempestiva para conter a inflação.
"De certa forma, o BC sinalizou que pode aumentar para 0,75 ponto o ritmo de aperto da política monetária", afirmou o economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen.
Para o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Flavio Serrano, no entanto, "o relatório reforça o cenário que o atual ciclo de aperto terá mais duas altas de 0,50 ponto".
"Talvez o BC possa estender o ciclo, mas ainda não há indícios disso", observou Serrano.
Já no mercado futuro de juros, a maioria das apostas ainda é de que a Selic será elevada em 0,75 % na próxima reunião do Copom. Nesta sessão, o mercado não estava reagindo ao relatório do BC, com a leitura de que o documento não trouxe grandes novidades em relação ao discurso recente do BC.