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BC prefere errar pelo conservadorismo, diz Gustavo Franco

Para ex-presidente do Banco Central no governo FHC, não adianta ir à China se investidores locais não confiam no governo

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h00.

A decisão de manter a Selic em 16% ao ano, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na semana passada, não deveria causar surpresa. É a opinião de Gustavo Franco, presidente do Banco Central entre agosto de 1997 e janeiro de 1999, que concedeu entrevista à imprensa nesta terça-feira (25/5) durante evento promovido pela SAS Institute, da área de software de gestão estratégica. A decisão, segundo ele, "não discrepa do espírito da política monetária dos últimos tempos". Para Franco, o BC acaba sendo mais radical em seu convervadorismo do que seria em condições normais, compensando as resistências de outros setores do governo.

Franco afirma que, ao definir o nível dos juros básicos da economia, o BC caminha em terreno necessariamente subjetivo. "Não é assunto de modelos econométricos e equações, mas de julgamento, de confiança. A autoridade monetária pode errar nesses julgamentos, mas prefere errar sendo conservadora, sempre. É assim no mundo todo."

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O ex-presidente do BC defendeu que o Brasil pratique superávits primários grandes o suficiente para zerar o déficit nominal. "É a opção estratégica que o governo deveria seguir: ter um superávit primário significativamente maior do que já tem." Mas Franco aponta que a perspectiva em alguns setores do governo é de resistência a metas fiscais mais ambiciosas. "Trata-se de uma maneira juscelinista de ver que gasto maior do que a receita é bom."

A prioridade, disse Franco, deveria ser baixar o mais rápido possível a relação Dívida/Produto Interno Bruto (PIB). "Arrumou isso, fica mais fácil baixar os juros. Com contas de primeiro mundo, tem-se juros de primeiro mundo. Com contas de terceiro mundo, os juros praticados são de terceiro mundo." Ele ainda afirma ser importante a percepção de que um superávit primário alto não significa que as finanças estão em ordem. "O discurso contribui para que se ignorem os juros. Com juros, há déficit. A linguagem é enganosa."

Inflação, PPPs e China

Franco considera que as recentes variações da inflação não são alarmantes. "Não deveria fazer diferença nenhuma 1% a mais ou a menos na inflação anual. Entrei no BC com inflação de 40% ao mês e fico perplexo que uma discussão não relevante como essa assuma esse espaço." O verdadeiro desafio, em sua opinião, será daqui a seis meses, se prosseguir a safra de bons indicadores de produção. "Com uma economia realmente aquecida, o BC terá de lidar com inflação de demanda."

Neste ponto vai voltar com nova força a questão do investimento em infra-estrutura. Para Franco, as Parcerias Público-Privadas, em fase final de tramitação no Senado, "são uma tentativa de um modelo diferente" que ele não sabe se existe. "Não passam de uma privatização na margem." O desafio cultural do setor público, afirma, é incutir confiança, oferecendo segurança regulatória ao investidor. "Até agora, o que se vê neste aspecto são resultados ruins. Prevalece a insegurança no lado privado."

Franco minimiza a importância da atual missão comercial e diplomátca brasileira à China. "O investidor estrangeiro normalmente segue o investidor local, e o local está apreensivo. Assim, o esforço de convencimento deve ser aqui. Não precisa ir muito longe."

Eleições

Franco afirma não acreditar que os operadores atuais da política econômica sejam sensíveis ao calendário eleitoral. Mas de qualquer modo, diz, em ano eleitoral cresce o gasto público nos ministérios setoriais. "Um ministério pode gastar muito sem que Fazenda sequer tome conhecimento."

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