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BC baixa juro para 26% sem viés

Corte de 0,5 ponto percentual é o primeiro em 11 meses e é um sinal positivo para chegar a uma taxa de 21% no final do ano

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h49.

O Comitê de Política Monetária, do Banco Central, decidiu por unanimidade reduzir os juros de 26,5% ao ano para 26% ao ano. Em nota, o Copom afirma que a inflação passa por uma trajetória de queda, convergindo para a meta, e por isso foi possível cortar a taxa básica em 0,5 ponto percentual. Esse é o primeiro corte da taxa após oito meses consecutivos de ritmo de alta dos juros. O corte também é o primeiro em 11 meses, quando o governo FHC cortou em julho do ano passado os juros de 18,5% para 18%. Em janeiro, o governo Lula elevou a taxa de 25% para 25,5% ao ano. No mês seguinte, o Copom elevou os juros em um ponto percentual e a taxa se mantinha inalterada desde então.

"As projeções da inflação indicam convergência nas metas. Por essa razão, o Copom decidiu por unanimidade fixar a taxa básica em 26% sem tendência", explicou o Banco em uma nota. A ausência de viés significa que o juro ficará estável até a próxima reunião do Copom, marcada para 22 e 23 de julho.

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Para grande parte dos analistas, porém, a redução da Selic em apenas meio ponto é muito mais para mostrar ao país que o governo não quer uma política econômica recessiva do que efetivamente para estimular a economia por meio dos efeitos do corte. Isso porque, na prática, o corte de 0,5 ponto não ativará a economia efetivamente. "O corte não fará a economia entrar em processo de recuperação. É uma queda pequena, mas coerente com o nível de atividade e com os indicadores atuais", afirma Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB.

"É importante observar que, até o final do ano, a taxa de juros projetada pelo mercado é de 21%. Isso quer dizer que o governo terá seis meses para cortar mais cinco pontos percentuais", afirma o economista. "Com a percepção de uma inflação menor, a ata do Copom na próxima semana tende a ser mais moderada e flexível."

A opinião de Abate é compartilhada por outro analista de mercado. "Acreditamos que o Copom agiu corretamente ao afrouxar um pouco a política monetária. Os efeitos práticos da medida tendem a ser bastante modestos. O mercado futuro de juros tende a reagir elevando ligeiramente as taxas, em reação à postura conservadora do BC", afirma Vladimir Caramaschi, economista da corretora Fator Doria Atherino. "Dólar e bolsa devem fazer o movimento inverso. Mas, provavelmente, o maior efeito prático da medida será político e não econômico. Ao sinalizar que a temporada de corte de juros já começou, o BC ganha fôlego na briga com setores do governo que vinham clamando por cortes na Selic."

O pequeno corte foi previsto pela equipe do BBV, chefiada pelo economista Octavio de Barros. Na simulação feita pelo banco, o BBV pedia uma "ousadia responsável" e sugeria ao BC corte a Selic dos atuais 26,5% em 0,5 ponto percentual.

Ao ser informado sobre o corte, durante a reunião do Mercosul, no Paraguai, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse acreditar numa redução progressiva dos juros nos próximos meses. "Este é um primeiro sinal do Copom de que as futuras decisões do Comitê não dependem mais apenas do Copom, vão depender que o país e os agentes econômicos comecem efetivamente olhar para frente. Quando tomarem decisões econômicas, olhem para a inflação futura e a inflação passada, porque dessa maneira nós vamos conseguir uma redução permanente e consistente no Brasil", disse o ministro.

Para Palocci, só foi possível começar a reduzir juros porque grande parcela dos agentes econômicos entendeu que a política monetária vai atuar no grau que for necessário para controlar a inflação. "Dessa maneira eu acredito que nós podemos garantir que as próximas decisões do Copom confirmem essa tendência, baixem cada vez mais os juros", disse. "O Copom olhará nas próximas decisões se o país se coordena em torno dessas disposições. Se tudo isso acontecer, esse movimento econômico puxa os juros para baixo."

O ministro negou que a decisão tenha sido política. "Não acredito que o Copom pretenda calar a boca de ninguém. Vemos como salutar os agentes econômicos. As pessoas não podem só cobrar do Copom a redução dos juros, mas também agir nas suas áreas. As críticas são sempre bem-vindas, mas vamos continuar agindo com a firmeza que um combate à inflação como esse exige", afirmou.

Nesta quarta-feira (18/6), integrantes do governo faziam coro pela queda do juro, afirmando que a política econômica adotada já surtia efeitos desejados na economia. Além do vice-presidente da República, José de Alencar, e líderes do PT no Congresso, empresários pediam há alguns meses o corte na taxa básica. Nesta terça (17/6), o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que o esforço do governo, durante o primeiro semestre, foi importante para estabilizar a economia do país.

Repercussão

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), o a redução dos juros "frustra os empresários". "Frustra a expectativa do setor produtivo e, mais do que isso, nos coloca diante de um risco concreto de aprofundamento de um quadro recessivo que já está instalado, impondo sacrifícios adicionais absolutamente desnecessários", afirmou.

Para o presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia), Synésio Batista da Costa, o corte nos juros foi "pífio". "Nós queremos que o governo acredite no sistema produtivo e nas instituições, que provoque um choque nos juros e nós responderemos com um choque de ofertas e a inflação não ressurgirá. Nós queremos produzir, gerar riquezas e empregos e não estagnar e demitir nossos trabalhadores", disse.

Everton Gonçalves, economista-chefe do Banco BNL do Brasil, afirmou que, embora quase simbólica, o corte na taxa é positivo, devendo promover um alento nas expectativas dos agentes da economia real. "Apesar dos últimos indicadores do nível geral de preços e os sinais de paralisia da atividade econômica, o Copom provavelmente preferiu aguardar por sinais mais evidentes da tendência descendente da inflação para promover redução mais agressiva dos juros", disse.

Para Rogério Bonfiglioli, presidente da Associação das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc), a redução foi uma medida de caráter técnico que terá efeito psicológico favorável ao mercado de crédito, mas pouco irá influir, a curto prazo, no custo do dinheiro para o tomador de empréstimos ou na situação dos devedores. De acordo com a análise da Aserc, o crédito ao consumo será efetivamente estimulado com menor custo e prazos mais longos quando a economia puder contar com o impacto favorável das medidas estruturalistas de combate à inflação e da agenda programada pelo governo para o crescimento da economia.

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