Autor das privatizações russas fala em novos protestos
Chubais acredita que os avanços econômicos e a estabilidade conquistadas na etapa do atual presidente russo, Vladimir Putin, serão um assunto secundário para os cidadãos
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2012 às 15h20.
Moscou - O ex-ministro de Finanças russo, Anatoli Chubais, idealizador e executor das primeiras reformas econômicas da Rússia pós-soviética, falou em novos grandes protestos para exigir reformas políticas o país em entrevista publicada nesta segunda-feira pela revista "Itogui".
"Os últimos protestos terem reunido 30 mil pessoas em vez de 100 mil não significa que a chama tenha se apagado. Haverá outros dez comícios com 3 mil pessoas, mas depois haverá meio milhão. Tenho 100% de certeza", disse o homem que ocupou o cargo de vice-primeiro-ministro russo em três ocasiões.
Chubais, um dos políticos mais odiados na Rússia por coordenar no início dos anos 1990 a privatização das empresas estatais da URSS, a reforma mais polêmica do governo Boris Yeltsin, acredita que as demandas políticas da população não vão cessar.
"O trem não voltará atrás. Pode frear por múltiplos fatores, começando pelo clima ou a estação do ano e terminando pela crise econômica. Mas já é uma realidade, que embora possa se desenvolver muito lentamente já se movimenta", apontou o atual dirigente da empresa estatal de nanotecnologias.
Chubais acredita que os avanços econômicos e a estabilidade conquistadas na etapa do atual presidente russo, Vladimir Putin, serão um assunto secundário para os cidadãos.
"Os principais freios não estão na economia, mas na política. A corrupção, uma Justiça injusta e outras desgraças bem conhecidas. A Bolótnaya (praça que concentrou os protestos em Moscou) não é uma exceção, mas a manifestação de profundos mudanças sociais no país", acrescentou.
O "pai" da privatização, que sempre esteve ao lado de Yeltsin e nunca deixou de exercer cargos públicos, inclusive com Putin, explica a mudança com a aparição de uma classe média nas cidades mais cosmopolitas da Rússia.
Chubais não tem certeza, no entanto, que os atuais líderes dos protestos civis continuem sendo em um futuro próximo.
"Tudo é possível, desde uma evolução tranquila das instituições democráticas até as agitações sociais dos anos 1990. Apesar da clara aposta das autoridades na dureza, tendo a pensar que as possibilidades de uma evolução não estão esgotadas", concluiu.