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ARTIGO - Violência urbana: depende de nós

Depois de sofrer seis assaltos, ainda dá para acreditar que São Paulo tem jeito

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.

Recentemente, fui assaltado pela sexta vez no trânsito de São Paulo. E ainda devo me considerar um cara de sorte: depois de tantas vezes sob a mira de uma arma, estou aqui, vivo e inteiro, para contar minha história. Amigos de outras cidades me perguntam por que não abandono São Paulo de uma vez por todas. Respondo que, apesar dos pesares, adoro esta cidade. E acredito que ela tem jeito. Só depende de nós.

Não sou especialista em segurança, mas estou convencido de que há duas vertentes em que você e eu podemos agir para diminuir a criminalidade. Uma é trabalhar para reduzir a desigualdade social. A outra é usar nosso poder de eleitores, contribuintes e cidadãos para exigir que se instaure um sistema implacável de gestão de conseqüências para os bandidos.

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Quanto à primeira, minha equipe e eu temos trabalhado com diversas ONGs e aplicado nossos conhecimentos em franchising e outras estratégias de canais para replicar, com qualidade e consistência, nos mais diferentes locais, iniciativas como os centros de formação profissional Formare, da Fundação Iochpe, as Escolas de Informática e Cidadania, do Comitê para Democratização da Informática (CDI), as creches da Comunidade Inamar, em Diadema, os pontos de venda de artesanato da Comunidade Solidária e mais de uma dezena de ações. Sem que tivéssemos planejado, acabamos por nos tornar especialistas naquilo que se convencionou chamar de franquias sociais.

Você também pode usar seus conhecimentos, contatos, recursos, tempo e talento em prol de alguma atividade social que contribua para reduzir a miséria e gerar oportunidades para jovens que, do contrário, têm uma grande chance de cair no crime. Não deixe para amanhã, não fique só nos planos: aja agora mesmo.

Quanto à segunda vertente, depende fundamentalmente da nossa capacidade de sensibilizar autoridades, imprensa e órgãos de classe. E também certas entidades que, acreditando lutar pela defesa dos direitos humanos, muitas vezes agem como se apenas os bandidos os tivessem.

Cabe aqui uma abordagem empresarial do crime. Estou convencido de que, organizado ou não, o crime, do ponto de vista puramente empresarial, é um negócio como outro qualquer. Um criminoso, como qualquer empresário ou executivo, depara todos os dias com inúmeras situações que requerem uma decisão baseada na avaliação, consciente ou não, da relação risco versus recompensa. Ou seja: "o que arrisco" X "o que levo nisso".

O problema, para nós, cidadãos comuns, é que, por força da impunidade, o risco está cada vez menor para o meliante. Isso contribui para o crescimento e para a banalização do crime, com assaltos e seqüestros até em pontos de ônibus, em troca de somas irrisórias. Afinal, se o risco é baixo ou nulo, qualquer recompensa se torna atraente.

Para reduzir a atratividade do crime, é vital elevar o risco (e a percepção de risco) para quem o pratica. Para isso, precisamos da ação firme das autoridades, com o respaldo da sociedade civil. Enquanto não contarmos com um sistema efetivo de gestão de conseqüências, com tolerância zero para quem praticar qualquer tipo de delito, voltar para casa vivo e inteiro continuará sendo basicamente uma questão de sorte, para quem mora em São Paulo e em muitas outras cidades deste país.

Marcelo Cherto é especialista em estratégias de canais e presidente do Instituto Franchising.

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