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Acordo Brasil-EUA sobre etanol só deve ter resultado em 2 anos

Ministério e produtores concordam que é preciso ampliar a área plantada de cana-de-açúcar antes de se pensar em aumentar o fluxo comercial

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h38.

George W.Bush, presidente da maior economia do mundo, já demonstrou formalmente interesse pelo etanol produzido no Brasil. Uma comitiva do governo brasileiro acaba de reunir-se com autoridades dos Estados Unidos para negociar um acordo entre as duas nações. Há interesse governamental e também da iniciativa privada a favor da exportação de etanol das usinas brasileiras. Apesar de todos esses fatores, os resultados de um acordo Brasil-EUA para aumentar o comércio do produto brasileiro não devem surgir antes de 2008.

Nos cálculos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a aprovação do projeto defendido por Jeb Bush, governador da Flórida e irmão do presidente americano, poderia gerar uma demanda nos Estados Unidos de 80 bilhões de litros de etanol. Jeb Bush defende que a mistura de etanol na gasolina chegue a um percentual de 15% até 2015. Hoje, os EUA consomem apenas 700 milhões de litros do produto brasileiro por ano, a um preço de 80 centavos de dólar por litro. Abocanhar esse mercado que se mostra tão próspero chega a ser tentador para os produtores brasileiros, mas eles simplesmente não têm como dar conta de tamanha demanda se ela se efetivasse hoje.

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Produção insuficiente

A estimativa para a produção total de álcool no Brasil nesta safra é de 17 bilhões de litros, dos quais somente 2,5 bilhões devem ser direcionados à exportação. Apesar de ser a maior parte da produção, a parcela destinada ao mercado interno parece cada vez menor diante da demanda crescente gerada pelos veículos bicombustíveis - 76% da frota nova vendida atualmente. Diante desses números, percebe-se o tamanho da dificuldade para o Brasil se tornar o grande fornecedor de álcool combustível para o vizinho norte-americano. Qual a saída para não perder essa oportunidade? Ampliar a área plantada, hoje de 6,2 milhões de hectares, dizem os especialistas.

"Temos 90 milhões de hectares livres no Brasil para plantação de cana, dos quais entre 18 milhões e 20 milhões têm condições boas para o cultivo, que não exigiriam muito investimento", diz o diretor em exercício do departamento de cana-de-açúcar e agroenenergia do Ministério da Agricultura, José Nilton de Souza Vieira. Estas áreas livres são hoje usadas para outros fins, como pastagem, e constituem a única porta aberta para o aumento das exportações de álcool para o mercado americano. "O que o Brasil quer é que se crie um grupo técnico para que os dois países localizem as melhores estratégias para atender essa demanda futura", declara Vieira.

Investimento

Qualquer estratégia, entretanto, exigirá recursos, que devem vir, se tudo ocorrer como o Mapa planeja, dos bolsos de empresários americanos e brasileiros. "Uma usina nova com capacidade de moagem de 2 milhões de toneladas, ou seja, de porte médio para grande, custa entre 100 milhões e 120 milhões de dólares e demora cerca de 18 meses para ser montada", diz Alfred Szwarc, consultor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Ele lembra que há 90 projetos de novas usinas prontos para serem implantados. Mesmo para esses casos, a safra exigiria pelo menos entre 18 e 24 meses até o primeiro corte e o início das vendas de cana - isso sem contar o tempo de moagem e produção do álcool. "Se hoje fosse assinado algum acordo entre Brasil e Estados Unidos, ele teria de estabelecer um programa de exportação; a partir desse programa, os produtores fariam seus investimentos", diz Szwarc. "Leva tempo."

O consultor da Unica também acredita que a busca por novas áreas de plantação de cana é imprescindível para a viabilização do aumento das exportações do etanol. Hoje a produção nacional de álcool está quase integralmente - 91,1% - concentrada no Centro-Sul (Sul, Sudeste e Centro-Oeste). Szwarc lembra que há ainda outro obstáculo a ser derrubado: as tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. Sobre o etanol brasileiro pesa uma tarifa de 2,5% e uma tributação de 0,54 centavos de dólar por galão, medida americana que equivale a 3,7 litros.

Para derrubá-la seria necessário convencer os americanos de que vale a pena comprar o produto brasileiro e rejeitar o lobby dos produtores do país, que vendem etanol a partir do milho por cerca de 3,30 dólares o galão."O que tem de vir é um tratamento comercial para que o produto chegue de uma forma mais competitiva", diz. Pelo menos com um aliado o Brasil já conta, o governador da Flórida Jeb Bush, que trabalha ativamente na propaganda do etanol produzido com cana e pediu ao Congresso dos Estados Unidos a redução das barreiras.

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