Economia

A retomada do emprego

Thiago Lavado São 13 milhões de brasileiros sem trabalho, num desemprego que atinge 12,6% da população economicamente ativa. A taxa, alcançada em janeiro deste ano, é equivalente apenas à medida em 2003, quando chegou a 12,3%. Apesar do cenário crítico, o drama parece perto de terminar. Nessa quinta-feira, o medidor de desemprego do Ministério do Trabalho, o […]

EMPREGO: Novas vagas foram criadas em fevereiro, mas o desemprego só deve melhorar mesmo no ano que vem / Mario Tama/Getty Images

EMPREGO: Novas vagas foram criadas em fevereiro, mas o desemprego só deve melhorar mesmo no ano que vem / Mario Tama/Getty Images

DR

Da Redação

Publicado em 17 de março de 2017 às 19h41.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h14.

Thiago Lavado

São 13 milhões de brasileiros sem trabalho, num desemprego que atinge 12,6% da população economicamente ativa. A taxa, alcançada em janeiro deste ano, é equivalente apenas à medida em 2003, quando chegou a 12,3%. Apesar do cenário crítico, o drama parece perto de terminar. Nessa quinta-feira, o medidor de desemprego do Ministério do Trabalho, o Caged, mostrou que 35.612 novos postos foram criados em fevereiro.  O saldo positivo na geração de vagas não acontecia desde março de 2015, quando foram adicionados à economia 19.200 postos de trabalho. O dado foi tão importante para o governo que o próprio presidente Michel Temer realizou o anúncio, com uma coletiva de imprensa, algo que não acontece geralmente quando o ministério solta os dados.

Mas uma pergunta ecoa no ar: é realmente o começo da retomada do mercado de trabalho? Vários outros fatores já apontam nessa direção. A inflação está caindo e estabilizando o poder de compra da população; as taxas de juros também estão em queda; a confiança de investidores, empresários e consumidores apresenta sinais de melhora; e há perspectivas de crescimento do PIB no final do ano, com provável alta de 0,5%, segundo projeta o Boletim Focus. O desemprego, por sua vez, é o medidor que estabiliza por último em uma grave recessão – e uma virada positiva é normalmente tomada como o ponto concreto de que a economia voltou a se recuperar. As expectativas não são à toa.

Para Marco Maciel, economista sênior da Bloomberg Intelligence, braço de pesquisas da agência de notícias Bloomberg, a melhora já está à vista – mas é tímida, e só deve chegar com força no ano que vem. A perspectiva é de estabilização do desemprego nos primeiros três meses do ano, e de melhora em seguida. “Na minha estimativa, a taxa de desemprego deve terminar o primeiro trimestre estável, com cerca de 12,8% de desempregados, mas deve fechar o ano em 11,5%, caindo com mais força a partir do segundo trimestre de 2018 quando também deve vir uma recuperação mais robusta do PIB”, afirma.

Maciel explica que o dado do Caged deve ser visto com cautela, pois o grosso dos empregos gerados no índice veio do setor de serviços, que contribuiu com um saldo de 50.613 novos postos. Este setor está menos ligado ao ciclo econômico básico e pode apresentar elasticidade nos resultados. Setores mais sólidos e vinculados ao momento econômico, como o comércio e a indústria de transformação, continuam em queda ou com baixa geração de emprego. No dado do Caged, o comércio contabilizou perda de 21.194 vagas, e a indústria de transformação adicionou somente 3.949 postos de trabalho em todo o país.

Mais gente querendo trabalho

O desemprego pode não ter caído ainda, mas o que o número esconde tende a ser melhor do que no passado. A taxa de desemprego é medida pela população ocupada sobre a população economicamente ativa, ou seja, é uma relação entre os que têm emprego e os que estão procurando emprego. Segundo Maciel, com a melhora na economia, mais pessoas voltam a ter esperança no mercado de trabalho, diminuindo as taxas de desalento, que contabiliza as pessoas que ganham a vida com trabalhos informais ou autônomos. “É aquele fenômeno do ‘meu vizinho encontrou emprego, então vou procurar também’”, explica. É uma questão de peso na balança. “Isso faz com que a taxa de desemprego se mantenha estável mesmo que haja geração positiva de vagas, já que mais gente estaria entrando no mercado de trabalho formal.”

Embora a retomada esteja nos eixos, com reformas sendo encampadas pelo governo, queda da inflação e retomada da confiança, tudo ainda é muito frágil. “Uma volatilidade na taxa de câmbio seria mortal para a confiança e poderia abortar o plano de voo do Banco Central”, diz Maciel, que é temerário às eleições do ano que vem, com muitos candidatos que podem desestabilizar o mercado e reduzir a valorização do real. Para ele, até mesmo as polêmicas em torno da reforma da previdência são um sintoma da fragilidade atual. No Brasil, as tendências de longo prazo sempre foram difíceis de prever e, apesar de elas estarem delineadas no horizonte, o futuro ainda guarda muitas surpresas.

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