Os sete custos de viver em uma cidade grande
“É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”. Esta frase, atribuída ao jogador e técnico de beisebol americano Yogi Berra (que é uma espécie de “Vicente Matheus americano”), é frequentemente invocada quando alguém quer mostrar o grande exercício de futilidade e a perda de tempo que é tentar adivinhar o futuro (apesar de que, eu reconheço, é difícil fugir da tentação de bancar o vidente de vez em quando…). Nos […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2012 às 09h30.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h17.
“É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”. Esta frase, atribuída ao jogador e técnico de beisebol americano Yogi Berra (que é uma espécie de “Vicente Matheus americano”), é frequentemente invocada quando alguém quer mostrar o grande exercício de futilidade e a perda de tempo que é tentar adivinhar o futuro (apesar de que, eu reconheço, é difícil fugir da tentação de bancar o vidente de vez em quando…).
Nos anos 90, era muito comum ouvir que os grandes centros urbanos “desinchariam” no futuro. Que as novas tecnologias de comunicação, o trabalho à distância e coisas do gênero gerariam um incentivo para que famílias se mudassem dos grandes aglomerados urbanos para cidades menores, em busca de mais sossego, segurança e qualidade de vida.
Muitos projetos de desenvolvimento imobiliário foram criados antecipando essa tendência. Falava-se muito (de certa forma se fala ainda hoje) em “ edge cities ”, comunidades planejadas ao redor dos grandes centros urbanos. Havia, naquela época, razões para se acreditar que, de fato, haveria uma descentralização, com as pessoas se afastando da bagunça urbana, à medida que a tecnologia criava instrumentos que fizessem com que sua presença física no trabalho não fosse algo tão relevante.
Bem, como acontece com a maioria das previsões, as coisas acabaram “não saindo como previsto”. O movimento de pessoas rumo aos grandes centros urbanos se intensificou (em nível mundial) e, mais que isso, essa concentração é hoje vista por alguns como desejável, positiva e facilitadora do progresso e da inovação.
Nassin Taleb, em “A lógica do cisne negro”, fala sobre como viver em uma grande cidade pode nos expor mais facilmente a um evento aleatório positivo (uma “serendipidade”). O simples fato de estarmos em um local mais movimentado pode fazer com que tenhamos mais sorte… Faz sentido.
Outro livro recente, chamado “ Imagine – How creativity works ”, de Jonah Lehrer, que deveria ficar famoso como um grande best seller, mas acabou ficando famoso por ser pivô de um escândalo de fraude e autoplágio envolvendo o autor (essas previsões…), também faz uma longa defesa da vida nas cidades, a despeito das desvantagens e da qualidade de vida deficiente, alegando que conviver com grandes massas de pessoas acaba nos tornando naturalmente mais criativos.
O fato de as grandes cidades continuarem atraindo grandes massas de pessoas mostra que esses autores, entre outros que vêm defendendo a vida urbana em grandes conglomerados, talvez tenham alguma razão. Se o pessoal continua interessado em viver em grandes cidades, mesmo dispondo das mais modernas ferramentas de comunicação à distância, é porque deve haver alguma vantagem nisso.
Mas vamos falar um pouco sobre desvantagens, em especial financeiras. Que o custo dos imóveis em grandes cidades é infinitamente maior do que nas pequenas é indiscutível. Há poucos dias, a revista americana “US News & World Report” publicou uma matéria citando uma pesquisa do Urban Land Institute, que mostra quais são os sete custos (além do imóvel em si) “extras” que um típico cidadão urbano precisa fazer frente pelo simples fato de viver em uma cidade grande. A pesquisa foi feita tendo as grandes cidades americanas em mente, mas suas conclusões podem muito facilmente ser aplicadas aqui ou em qualquer outro lugar do mundo.
1- Entretenimento
Quando se está mais próximo de locais de entretenimento e eventos, acaba sendo mais “tentador” pagar para frequentá-los. Cidades em geral oferecem vários eventos de graça, mas a maioria é paga.
2- Roupas
Cidadãos de grandes metrópoles se sentem mais pressionados a “andar na moda”. Isso implica em maiores gastos com roupas e sapatos e também maior desgaste, considerando-se que numa cidade grande tipicamente se anda bastante e se usa transporte público.
3- Educação e cuidados com crianças
Esta categoria se aplica apenas a famílias com crianças pequenas, mas o custo dos cuidados com uma criança são normalmente maiores em grandes cidades do que em cidades menores ou regiões rurais. Escolas particulares em grandes cidades também costumam representar grandes custos.
4- Alimentação
Além do preço dos alimentos ser naturalmente maior nas cidades, há também as constantes “tentações” no caminho, como cafés, lojas de conveniência e afins. Quando se tem cinco cafés no caminho para o trabalho, pode ser bastante difícil seguir em frente sem fazer uma parada em algum deles.
5- Atividades físicas
Atividades físicas no meio do trânsito e da poluição podem ser um pouco complicadas e, frequentemente, as pessoas se sentem “empurradas” para academias, caso queiram fazer algo mais sério para manter a forma.
6- Estacionamento
Em uma grande cidade, se pode simplesmente abandonar o carro e virar usuário do transporte público (é fácil falar, mas na prática…). Mas aqueles que preferem continuar dirigindo acabam forçados a pagar um preço alto pelo privilégio (nota: em São Paulo, atualmente, não é incomum ir a um estacionamento e deixar o carro por apenas algumas horas em algum local movimentado da cidade e ser “agraciado” com uma conta de mais de 50 reais na volta…)
7- Taxas e seguros
Grandes cidades cobram impostos mais caros e o risco adicional de se viver em uma região densamente povoada acaba se refletindo nos preços dos seguros, especialmente os seguros patrimoniais.
Agora vamos fazer alguns comentários. Aqui entre nós, o instituto que fez esta pesquisa “forçou um pouco a barra” ao listar custos como entretenimento e roupas como se fossem algo “obrigatório” para quem vive em cidades. Gastos com atividades físicas também são questionáveis, mas quem quiser embarcar em algo mais “sério” sabe que vai acabar tendo que pagar (a propósito, aquela academia empoeirada em seu condomínio também tem custo…).
Mas, de qualquer forma, quem quiser desfrutar das vantagens e das desvantagens de se viver em uma grande cidade precisa fazer um planejamento financeiro um pouco mais agressivo que o usual. Em geral (não é uma regra), ganha-se mais dinheiro trabalhando em uma cidade grande, mas os custos e despesas são igualmente maiores (e isso, sim, é uma regra…).
Quem não vive em uma grande cidade, mas pretende viver, deve fazer um planejamento financeiro mais realista e também se questionar sobre os “porquês” da mudança. Quem quer tirar proveito do dinamismo urbano e exercitar a capacidade criativa deve se mudar sem pensar duas vezes. Agora quem não tem esse tipo de ambição precisa pensar muito para ver se os custos compensam.
“É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”. Esta frase, atribuída ao jogador e técnico de beisebol americano Yogi Berra (que é uma espécie de “Vicente Matheus americano”), é frequentemente invocada quando alguém quer mostrar o grande exercício de futilidade e a perda de tempo que é tentar adivinhar o futuro (apesar de que, eu reconheço, é difícil fugir da tentação de bancar o vidente de vez em quando…).
Nos anos 90, era muito comum ouvir que os grandes centros urbanos “desinchariam” no futuro. Que as novas tecnologias de comunicação, o trabalho à distância e coisas do gênero gerariam um incentivo para que famílias se mudassem dos grandes aglomerados urbanos para cidades menores, em busca de mais sossego, segurança e qualidade de vida.
Muitos projetos de desenvolvimento imobiliário foram criados antecipando essa tendência. Falava-se muito (de certa forma se fala ainda hoje) em “ edge cities ”, comunidades planejadas ao redor dos grandes centros urbanos. Havia, naquela época, razões para se acreditar que, de fato, haveria uma descentralização, com as pessoas se afastando da bagunça urbana, à medida que a tecnologia criava instrumentos que fizessem com que sua presença física no trabalho não fosse algo tão relevante.
Bem, como acontece com a maioria das previsões, as coisas acabaram “não saindo como previsto”. O movimento de pessoas rumo aos grandes centros urbanos se intensificou (em nível mundial) e, mais que isso, essa concentração é hoje vista por alguns como desejável, positiva e facilitadora do progresso e da inovação.
Nassin Taleb, em “A lógica do cisne negro”, fala sobre como viver em uma grande cidade pode nos expor mais facilmente a um evento aleatório positivo (uma “serendipidade”). O simples fato de estarmos em um local mais movimentado pode fazer com que tenhamos mais sorte… Faz sentido.
Outro livro recente, chamado “ Imagine – How creativity works ”, de Jonah Lehrer, que deveria ficar famoso como um grande best seller, mas acabou ficando famoso por ser pivô de um escândalo de fraude e autoplágio envolvendo o autor (essas previsões…), também faz uma longa defesa da vida nas cidades, a despeito das desvantagens e da qualidade de vida deficiente, alegando que conviver com grandes massas de pessoas acaba nos tornando naturalmente mais criativos.
O fato de as grandes cidades continuarem atraindo grandes massas de pessoas mostra que esses autores, entre outros que vêm defendendo a vida urbana em grandes conglomerados, talvez tenham alguma razão. Se o pessoal continua interessado em viver em grandes cidades, mesmo dispondo das mais modernas ferramentas de comunicação à distância, é porque deve haver alguma vantagem nisso.
Mas vamos falar um pouco sobre desvantagens, em especial financeiras. Que o custo dos imóveis em grandes cidades é infinitamente maior do que nas pequenas é indiscutível. Há poucos dias, a revista americana “US News & World Report” publicou uma matéria citando uma pesquisa do Urban Land Institute, que mostra quais são os sete custos (além do imóvel em si) “extras” que um típico cidadão urbano precisa fazer frente pelo simples fato de viver em uma cidade grande. A pesquisa foi feita tendo as grandes cidades americanas em mente, mas suas conclusões podem muito facilmente ser aplicadas aqui ou em qualquer outro lugar do mundo.
1- Entretenimento
Quando se está mais próximo de locais de entretenimento e eventos, acaba sendo mais “tentador” pagar para frequentá-los. Cidades em geral oferecem vários eventos de graça, mas a maioria é paga.
2- Roupas
Cidadãos de grandes metrópoles se sentem mais pressionados a “andar na moda”. Isso implica em maiores gastos com roupas e sapatos e também maior desgaste, considerando-se que numa cidade grande tipicamente se anda bastante e se usa transporte público.
3- Educação e cuidados com crianças
Esta categoria se aplica apenas a famílias com crianças pequenas, mas o custo dos cuidados com uma criança são normalmente maiores em grandes cidades do que em cidades menores ou regiões rurais. Escolas particulares em grandes cidades também costumam representar grandes custos.
4- Alimentação
Além do preço dos alimentos ser naturalmente maior nas cidades, há também as constantes “tentações” no caminho, como cafés, lojas de conveniência e afins. Quando se tem cinco cafés no caminho para o trabalho, pode ser bastante difícil seguir em frente sem fazer uma parada em algum deles.
5- Atividades físicas
Atividades físicas no meio do trânsito e da poluição podem ser um pouco complicadas e, frequentemente, as pessoas se sentem “empurradas” para academias, caso queiram fazer algo mais sério para manter a forma.
6- Estacionamento
Em uma grande cidade, se pode simplesmente abandonar o carro e virar usuário do transporte público (é fácil falar, mas na prática…). Mas aqueles que preferem continuar dirigindo acabam forçados a pagar um preço alto pelo privilégio (nota: em São Paulo, atualmente, não é incomum ir a um estacionamento e deixar o carro por apenas algumas horas em algum local movimentado da cidade e ser “agraciado” com uma conta de mais de 50 reais na volta…)
7- Taxas e seguros
Grandes cidades cobram impostos mais caros e o risco adicional de se viver em uma região densamente povoada acaba se refletindo nos preços dos seguros, especialmente os seguros patrimoniais.
Agora vamos fazer alguns comentários. Aqui entre nós, o instituto que fez esta pesquisa “forçou um pouco a barra” ao listar custos como entretenimento e roupas como se fossem algo “obrigatório” para quem vive em cidades. Gastos com atividades físicas também são questionáveis, mas quem quiser embarcar em algo mais “sério” sabe que vai acabar tendo que pagar (a propósito, aquela academia empoeirada em seu condomínio também tem custo…).
Mas, de qualquer forma, quem quiser desfrutar das vantagens e das desvantagens de se viver em uma grande cidade precisa fazer um planejamento financeiro um pouco mais agressivo que o usual. Em geral (não é uma regra), ganha-se mais dinheiro trabalhando em uma cidade grande, mas os custos e despesas são igualmente maiores (e isso, sim, é uma regra…).
Quem não vive em uma grande cidade, mas pretende viver, deve fazer um planejamento financeiro mais realista e também se questionar sobre os “porquês” da mudança. Quem quer tirar proveito do dinamismo urbano e exercitar a capacidade criativa deve se mudar sem pensar duas vezes. Agora quem não tem esse tipo de ambição precisa pensar muito para ver se os custos compensam.