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Modismo? Acredito que não

Conceitos como ‘quiet quitting’ alertam sobre a importância de lideranças apoiarem times

Tudo começou com a great resignation, a “grande renúncia”, em português (Getty Images/Divulgação)
Tudo começou com a great resignation, a “grande renúncia”, em português (Getty Images/Divulgação)

Tudo começou com a great resignation, a “grande renúncia”, em português, termo surgido e disseminado durante o auge da pandemia de coronavírus. Em meio a perdas e incertezas daquele difícil período, aconteceram inúmeros pedidos de demissões em massa, especialmente entre os profissionais qualificados. Seja por excesso de pressão, falta de propósito, relações profissionais tóxicas, entre outros tipos de descontentamento, os trabalhadores talentosos desejavam seguir um caminho diferente e menos estressante.  O que parecia ser uma tendência associada à situação-limite em que vivíamos, permaneceu em alta, gerando novas expressões similares até hoje. Quiet quitting, grumpy staying e lazy girl jobs são as mais famosas. Mas, afinal, o que elas têm em comum? Todas nomeiam movimentos de trabalhadores qualificados que buscam, de alguma maneira, melhorar o equilíbrio entre as esferas profissional e pessoal, garantindo tempo e energia para cuidar de si mesmo, da casa, da família, entre outros. 

 Quiet quitting pode ser traduzido como “demissão silenciosa” e se refere a profissionais que defendem limites bem estabelecidos entre trabalho e vida pessoal, sem fazer nem mais nem menos do que o acordado no contrato. O lema é corresponder às obrigações e ponto final. 

 

Já o grumpy staying significa algo como “ficando, mas de mau humor” e vem sendo utilizado para designar profissionais que, apesar da insatisfação com as suas funções, continuam no emprego. A ideia é suportar a situação incômoda até que uma oportunidade mais interessante apareça.  O lazy girl jobs, ou “empregos para moças preguiçosas” (na tradução literal), embute o conceito de postos de trabalho que paguem bem, ofereçam flexibilidade e não sobrecarreguem os trabalhadores. A proposta, aqui, é zelar pela saúde física e mental, evitando os incontáveis episódios de burnout que foram desencadeados no período pandêmico e depois dele. 

É importante compreender que essas expressões são mais do que simples modismos. Enquanto uma moda vem e vai embora, os termos acima, mesmo que em outras roupagens, estão em cena há vários anos e batendo na mesma tecla: qualidade de vida, bem-estar e saúde. 

 Esses termos expressam uma tentativa de resolver a profunda sensação de cansaço e desgaste gerada por jornadas profissionais extenuantes, que se tornaram ainda mais críticas com a pandemia. 

 Os resultados da 23ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH) evidenciam essa questão. De acordo com o estudo, nos últimos seis meses, 52% dos executivos identificaram colaboradores da sua empresa aderindo ao quiet quitting e 57% acreditam que essa é uma tendência com duração de médio-longo prazo. 

 A motivação para os profissionais aderirem a esse movimento, conforme a pesquisa, seria: 1) a falta de reconhecimento/oportunidades de crescimento; 2) construir uma relação mais saudável com o trabalho e 3) insatisfação com o superior imediato. Essas respostas são um ótimo ponto de partida para os líderes refletirem e proporem mudanças sintonizadas com os anseios dos times.   Ainda segundo o estudo, há várias iniciativas que poderiam minimizar os impactos do quiet quitting e de movimentos similares. Para 69% dos entrevistados, a principal delas é a comunicação clara e direta entre líderes e liderados. Entre 49% dos participantes da pesquisa, o ideal seria apostar na promoção de oportunidades de crescimento profissional. E na opinião de 48% dos trabalhadores ouvidos seria fundamental estabelecer limites saudáveis de carga horária. 

 Líderes precisam de empatia e iniciativa 

 O desafio de liderar profissionais insatisfeitos não é nada fácil. No entanto, é muito comum que, em algum momento, liderados apresentem sinais de desânimo com o trabalho. Para tanto, é essencial ter em mente o que envolve o bom exercício da liderança diante de movimentos de insatisfação: 

- iniciativa – saber agir com autonomia e responsabilidade, sem perder o timing, é uma das principais qualidades de um líder frente a qualquer tipo de obstáculo; 

- empatia – escutar, dialogar e apoiar os funcionários em suas dificuldades ajuda a estreitar os relacionamentos e a criar boas soluções; 

- criatividade – problemas diferentes e específicos como o quiet quitting exigem respostas igualmente diferentes e específicas, que fujam do senso comum; 

- flexibilidade – em um mundo em constante transformação, ser flexível e adaptável é premissa básica para acompanhar os desafios trazidos pelos liderados. 

No fim das contas, é de interesse geral que o trabalho aconteça de modo saudável e positivo, pois funcionários doentes e exaustos faltam, erram e mudam mais de emprego. O esforço para ouvir e atender às demandas dos liderados sempre traz vantagens para todos. 

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks. 

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar