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O super-homem Elon Musk

Elon Musk é o mais surpreendente empreendedor do Vale do Silício desde Steve Jobs. Muitos já o chamam de novo Jobs. Steve foi o criador de revolucionários produtos e desbravador de novas industrias. Elon quer ser muito mais. Quer transformar o homem e a humanidade. É o exemplo mais acabado do que o filósofo Friedrich […]

Elon Musk (Danny Moloshok/Reuters)
Elon Musk (Danny Moloshok/Reuters)
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Silvio Genesini

Publicado em 13 de abril de 2017 às, 12h04.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h33.

Elon Musk é o mais surpreendente empreendedor do Vale do Silício desde Steve Jobs. Muitos já o chamam de novo Jobs. Steve foi o criador de revolucionários produtos e desbravador de novas industrias. Elon quer ser muito mais. Quer transformar o homem e a humanidade.

É o exemplo mais acabado do que o filósofo Friedrich Nietzsche chamou, em Assim Falava Zaratustra, de super-homem: o ser humano que ultrapassa suas próprias limitações. Disse ele: “O homem é algo que deve ser superado”. Disse também: “A grandeza do homem é ser uma ponte, não uma meta; o que pode se amar no homem é ser uma ascensão e um declínio”. Trocando em miúdos, Nietzsche pregava o fim do homem como o conhecíamos e o nascimento do além-homem, um homem para além de si mesmo, das suas possibilidades e limitações.

Imaginemos a possiblidade de implantarmos minúsculos eletrodos em nosso cérebro, que possam receber e transmitir pensamentos e permitam a comunicação direta entre homem e máquina. Essa invenção tem o nome de laços neurais. Vai ampliar nossa capacidade cognitiva e viabilizar que processemos volumes extraordinários de informações. Propiciará que nos relacionemos, de igual para igual, com os robôs e maquinas turbinados pela Inteligência Artificial. Será a chave para que continuemos controlando as máquinas e não viremos simplesmente subalternos dessas inteligências superiores futuras.

Pensemos também na possibilidade de colonizar Marte e criar uma alternativa para a vida na Terra, que corre cada vez mais risco de sofrer uma catástrofe global, ainda neste século. Consideremos a perspectiva de produção de vastas quantidades de energia solar, limpa e alternativa, para ajudar a controlar o aquecimento global. Da mesma maneira, projetemos a substituição integral dos nossos veículos a combustão por uma frota totalmente elétrica. Nessa mesma seara, analisemos a possibilidade de construir grandes baterias elétricas que resolvam problemas graves de suprimento de energia em regiões e estados inteiros, como aconteceu recentemente na Austrália.

Além disso, para melhorar a mobilidade na Terra, cogitemos da construção de um sistema de transporte de alta velocidade através de tubos de baixa pressão que carreguem capsulas tripuladas flutuando em colchões de ar. E que consiga fazer uma viagem entre Los Angeles e São Francisco em 35 minutos, com uma velocidade de 1.200 km/hora.

Cada uma destas histórias fantásticas daria um roteiro magnífico de livro ou filme de ficção científica. Neste tempo de propósitos transformadores massivos, estas são narrativas com a força transformadora digna de um novo homem que vai muito além de suas limitações percebidas e conhecidas. Supera, inclusive, seus limites físicos, psíquicos e cognitivos. É o super-homem em sua essência.

Tudo isto está acontecendo atualmente. Todos são projetos de múltiplas empresas que têm um elemento em comum: Elon Musk. São iniciativas de algumas empresas já conhecidas, como Tesla, Solar City e SpaceX e de outras novas como Hyperloop e Neuralink.

Como demonstração de que os astros estão alinhados com quem sonha com as estrelas, a SpaceX, anunciou recentemente que foi a primeira a reutilizar um foguete que já havia colocado um satélite em órbita e retornado inteiro e funcionando à terra firme. Objetivo perseguido há mais de 15 anos e que terá o dom de reduzir significativamente o custo de viagens futuras.

Para mostrar que também os deuses do mercado estão do seu lado, a Tesla, montadora de carros elétricos, vendeu um recorde de 25.000 carros, no primeiro trimestre. Com isso, seu valor de mercado passou de 51 bilhões de dólares ultrapassando a Ford que vale cerca de 45 bilhões e a GM com seus 50 bilhões. Só como comparação, a Tesla produziu 84.000 em 2016 (promete chegar a 500.000 em 2018) enquanto a GM fabricou 10 milhões de carros no mesmo período.

Em março, a Tencent, gigante da internet chinesa que é dona do serviço de mensagem WeChat, anunciou um investimento de 1.8 bilhão de dólares na Tesla. Reforça o caixa e, potencialmente, abre o gigantesco mercado interno chinês.

Elon Musk, como muitos dos empreendedores do Vale não nasceu no Estados Unidos. É Sul Africano e só chegou à América com mais de 20 anos de idade, depois de passar pelo Canadá. Tem atualmente 45 anos. Consta que foi a inspiração para a personagem Tony Stark da série Homem de Ferro. Promete chegar em Marte em 2024, seis anos antes da meta da NASA, e quer ser enterrado lá. Isso se antes não decidir que quer vencer a morte, como muitos dos seus pares do Vale.

Um artigo recente, de uma articulista chamada Karla Lant no portal futurism.com, põe fogo na comparação com Steve Jobs. Defende que a Apple deveria comprar a Tesla e colocar Elon Musk como seu CEO. Combinaria o bolso cheio da Apple com a liderança visionaria de Musk e resolveria o suposto marasmo inovador da Apple.

Nietzsche quando inventou o super-homem pensou que ele seria humanamente superior e superasse as restrições da moral religiosa e restritiva da época. Não imaginava, obviamente, o radical poder transformador da tecnologia. Nem mesmo o personagem da história em quadrinhos, que só foi criado por volta de 1930, existia.

O novo super-homem de Elon Musk mais parece um ciborgue que quer aprender com as máquinas, que por sua vez, com a Inteligência Artificial, estão aprendendo com os homens. Espero sinceramente que os algoritmos de aprendizado incorporem as imperfeições e incompletudes humanas e saibam onde colocar nosso desejo. “É sobre-humano amar”.

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