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Quais os riscos para o Brasil nos próximos dois anos?

Parece que foi ontem, mas agora em maio o presidente Temer completará um ano no cargo. Em que pese as condições em que se deu a transição, é inegável que muitas transformações na economia já foram feitas. Na verdade, grande parte das medidas foi voltar às boas práticas anteriores, ou seja, não foram necessárias grandes […]

HENRIQUE MEIRELLES E MICHEL TEMER: em que pese as condições em que se deu a transição, é inegável que muitas transformações na economia já foram feitas / Andressa Anholete / Getty Images (Andressa Anholete/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 15h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.

Parece que foi ontem, mas agora em maio o presidente Temer completará um ano no cargo. Em que pese as condições em que se deu a transição, é inegável que muitas transformações na economia já foram feitas. Na verdade, grande parte das medidas foi voltar às boas práticas anteriores, ou seja, não foram necessárias grandes inovações. A maior delas, e mais importante, certamente foi a regra do teto, base da boa expectativa na qual nos encontramos hoje.

Grande parte da dúvida em relação à capacidade de o governo conseguir avançar nas reformas também foi se perdendo ao longo do tempo e hoje a confiança para a aprovação das reformas da previdência e trabalhista é muito maior. Certamente, a reforma da legislação trabalhista está atrasada há décadas, mas a mudança mais importante agora é a previdência, maior risco deste primeiro semestre.

Aprovar a reforma é necessária especialmente quando se vê que o maior crescimento real do gasto público ano passado foi justamente na previdência, com elevação de 7,2% em termos reais, enquanto todas as outras rubricas mais relevantes ou caíram ou tiveram crescimento muito baixo. Manter a regra do teto depende de mudar a previdência.

Um governo que se aproxima do fim de seu primeiro ano de mandato é mais fraco obviamente do que o de início, mas se coloca diante da reforma mais difícil, por mexer em questões sensíveis à população. Nossa aposta é que o governo conseguirá aprovar a reforma, mas não será fácil, pelo desgaste natural do governo e do tema e das negociações mais difíceis em relação a partes específicas da reforma, como o tempo de contribuição para aposentadoria no teto. O primeiro semestre deverá estar às voltas com os riscos da aprovação da medida que, a nosso ver, estará bem encaminhada até meados do ano.

Nesse período, estarão bem encaminhados também os desdobramentos das delações da Odebrecht, com outras possíveis como a Camargo Correa e agora Eike Batista. Se por um lado pode incriminar mais personagens do governo, por outro atrasa a apreciação por parte do TSE. A expectativa é que esse tema domine o segundo semestre, na expectativa da votação no tribunal sobre a perda do mandado de Temer. Dado o avançar da discussão, fica difícil imaginar que haverá espaço para uma troca presidencial a meses de uma nova eleição. Alguma solução salomônica como a feita na decisão sobre o senador Renan Calheiros em dezembro pode acontecer nesse caso. Continuamos achando que Temer irá até o final do mandato, mas será tema recorrente ao longo do segundo semestre deste ano.

Neste mesmo momento começará a discussão sobre a eleição presidencial de 2018. Deverá ser uma eleição à lá 1989, com vários candidatos e o risco de um novato conseguir destaque. Os pretendentes tradicionais estão às voltas com a Operação Lava-Jato e há riscos de que não consigam se viabilizar para a eleição. Quem se desincompatibilizar estará em um limbo jurídico e ao alcance da primeira instância da Justiça.

Dado o avançado das operações em andamento até aquele momento, não será difícil a inusitada situação de candidato que se desincompatibiliza ser preso ao longo dos seis meses que tem até a eleição. É um risco a se correr, mas com o prêmio maior de todas as acusações anteriores perderem o efeito caso um deles vença a eleição presidência, como aliás é o caso do atual presidente, sobre quem as denúncias da Lava-Jato não têm peso, a não ser no que se refere às interferências na campanha de 2014, que será julgada pelo TSE.

Além disso, dado o descontentamento geral da população com a classe política e situações como a eleição de Trump, não se pode descartar a possibilidade de alguém fora do padrão ganhar.

Esse risco não é trivial e impede que a volta do investment grade aconteça no ano que vem. Voltamos infelizmente a 2002 quando alguém com ideias heterodoxas poderia causar riscos à economia caso ganhasse. Dilma era um risco muito maior, mas não trouxe a incerteza que se viu naquela eleição. A de 2018 será mais parecida com 2002 ou 2010? Se surgirem candidatos muito fora do centro, podemos repetir as incertezas de 2002. Esse será o grande risco a ser acompanhado durante todo o ano.

De resto, os riscos internacionais são relevantes, especialmente se Trump causar estragos maiores que possam levar a algum conflito bélico mais grave. Isso é algo imprevisível, mas em dez dias já se vê que já entrará para a história como o pior presidente da história americana, pelos mesmos motivos que Dilma ganhou o infeliz prêmio: mudar políticas que deram certo reinventado a roda da economia merece o prêmio máximo de ruindade administrativa. Como não estamos falando de qualquer país, a chance de algum impacto mais complicado não está descartada.

Entretanto, vale sempre lembrar que o mais importante é a dinâmica doméstica, especialmente em um país ainda tão fechado para o comércio como o Brasil.

Não são poucos riscos que temos, mas pelo menos o bom jogo está sendo jogado agora.

SERGIO VALE

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Parece que foi ontem, mas agora em maio o presidente Temer completará um ano no cargo. Em que pese as condições em que se deu a transição, é inegável que muitas transformações na economia já foram feitas. Na verdade, grande parte das medidas foi voltar às boas práticas anteriores, ou seja, não foram necessárias grandes inovações. A maior delas, e mais importante, certamente foi a regra do teto, base da boa expectativa na qual nos encontramos hoje.

Grande parte da dúvida em relação à capacidade de o governo conseguir avançar nas reformas também foi se perdendo ao longo do tempo e hoje a confiança para a aprovação das reformas da previdência e trabalhista é muito maior. Certamente, a reforma da legislação trabalhista está atrasada há décadas, mas a mudança mais importante agora é a previdência, maior risco deste primeiro semestre.

Aprovar a reforma é necessária especialmente quando se vê que o maior crescimento real do gasto público ano passado foi justamente na previdência, com elevação de 7,2% em termos reais, enquanto todas as outras rubricas mais relevantes ou caíram ou tiveram crescimento muito baixo. Manter a regra do teto depende de mudar a previdência.

Um governo que se aproxima do fim de seu primeiro ano de mandato é mais fraco obviamente do que o de início, mas se coloca diante da reforma mais difícil, por mexer em questões sensíveis à população. Nossa aposta é que o governo conseguirá aprovar a reforma, mas não será fácil, pelo desgaste natural do governo e do tema e das negociações mais difíceis em relação a partes específicas da reforma, como o tempo de contribuição para aposentadoria no teto. O primeiro semestre deverá estar às voltas com os riscos da aprovação da medida que, a nosso ver, estará bem encaminhada até meados do ano.

Nesse período, estarão bem encaminhados também os desdobramentos das delações da Odebrecht, com outras possíveis como a Camargo Correa e agora Eike Batista. Se por um lado pode incriminar mais personagens do governo, por outro atrasa a apreciação por parte do TSE. A expectativa é que esse tema domine o segundo semestre, na expectativa da votação no tribunal sobre a perda do mandado de Temer. Dado o avançar da discussão, fica difícil imaginar que haverá espaço para uma troca presidencial a meses de uma nova eleição. Alguma solução salomônica como a feita na decisão sobre o senador Renan Calheiros em dezembro pode acontecer nesse caso. Continuamos achando que Temer irá até o final do mandato, mas será tema recorrente ao longo do segundo semestre deste ano.

Neste mesmo momento começará a discussão sobre a eleição presidencial de 2018. Deverá ser uma eleição à lá 1989, com vários candidatos e o risco de um novato conseguir destaque. Os pretendentes tradicionais estão às voltas com a Operação Lava-Jato e há riscos de que não consigam se viabilizar para a eleição. Quem se desincompatibilizar estará em um limbo jurídico e ao alcance da primeira instância da Justiça.

Dado o avançado das operações em andamento até aquele momento, não será difícil a inusitada situação de candidato que se desincompatibiliza ser preso ao longo dos seis meses que tem até a eleição. É um risco a se correr, mas com o prêmio maior de todas as acusações anteriores perderem o efeito caso um deles vença a eleição presidência, como aliás é o caso do atual presidente, sobre quem as denúncias da Lava-Jato não têm peso, a não ser no que se refere às interferências na campanha de 2014, que será julgada pelo TSE.

Além disso, dado o descontentamento geral da população com a classe política e situações como a eleição de Trump, não se pode descartar a possibilidade de alguém fora do padrão ganhar.

Esse risco não é trivial e impede que a volta do investment grade aconteça no ano que vem. Voltamos infelizmente a 2002 quando alguém com ideias heterodoxas poderia causar riscos à economia caso ganhasse. Dilma era um risco muito maior, mas não trouxe a incerteza que se viu naquela eleição. A de 2018 será mais parecida com 2002 ou 2010? Se surgirem candidatos muito fora do centro, podemos repetir as incertezas de 2002. Esse será o grande risco a ser acompanhado durante todo o ano.

De resto, os riscos internacionais são relevantes, especialmente se Trump causar estragos maiores que possam levar a algum conflito bélico mais grave. Isso é algo imprevisível, mas em dez dias já se vê que já entrará para a história como o pior presidente da história americana, pelos mesmos motivos que Dilma ganhou o infeliz prêmio: mudar políticas que deram certo reinventado a roda da economia merece o prêmio máximo de ruindade administrativa. Como não estamos falando de qualquer país, a chance de algum impacto mais complicado não está descartada.

Entretanto, vale sempre lembrar que o mais importante é a dinâmica doméstica, especialmente em um país ainda tão fechado para o comércio como o Brasil.

Não são poucos riscos que temos, mas pelo menos o bom jogo está sendo jogado agora.

SERGIO VALE
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