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O futuro econômico do Brasil é mais promissor que o argentino?

Depois de anos de desajustes, a América do Sul parece ter entrado em modo de recuperação nos últimos anos, especialmente para Brasil e Argentina. Por outro lado, a Venezuela segue em processo de crise contínua em que uma solução pacífica parece estar fora de cogitação por hora. Por força de hábito do todo economista, parece […]

MACRI E TEMER: a transição via eleição na Argentina dá a impressão de que nossos hermanos do Sul estariam mais bem colocados que nós / Adriano Machado/Reuters
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Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2017 às 16h29.

Última atualização em 9 de agosto de 2017 às 17h05.

Depois de anos de desajustes, a América do Sul parece ter entrado em modo de recuperação nos últimos anos, especialmente para Brasil e Argentina. Por outro lado, a Venezuela segue em processo de crise contínua em que uma solução pacífica parece estar fora de cogitação por hora. Por força de hábito do todo economista, parece interessante fazer um exercício comparativo entre os três países para percebermos para onde podermos ir se desviarmos da rota nesse momento.

A Argentina tem sido um case de sucesso nos últimos anos, especialmente com um soft power mais robusto depois das eleições de Macri. O país será sede de encontros relevantes do G20 e da OMC, além de ter recebido lideranças políticas importantes, que passaram ao largo do Brasil. A economia segue em lenta recuperação, mas com sinais mais fortes de crescimento para 2018, na casa dos 3%. No mais, há a visão de que houve uma transição democrática em que o novo presidente não estaria envolvido em nada escuso.

Da Argentina em recuperação, vamos à Venezuela em ampla e profunda crise. Com queda de PIB acumulada em 45% desde o início do colapso, a solução não deverá ser pacífica, com um misto de guerra civil e/ou golpe a caminho. Uma velha tradição latino-americana que parecia ter ficado para trás.

Por fim, por aqui a saída da recessão está consolidada, mas os números ainda são parcos. Crescimento um pouco melhor ano que vem, mas uma instabilidade fiscal que coloca inúmeros riscos ao crescimento de longo prazo. A reforma da previdência, tão necessária, ficará para 2019, com toda a incerteza no meio do caminho de uma eleição que será, no mínimo, turbulenta.

Olhando os números frios, poderia ser que o país mais bem colocado seria a Argentina. Mas a política aqui pode enganar, tanto em tempos normais quanto em tempos de crise. A transição via eleição na Argentina dá a impressão de que nossos hermanos do Sul estariam mais bem colocados que nós. Mas quando se olha a economia, o que o futuro parece dizer? O contrário do que a política sinaliza hoje.

Por mais que a Argentina esteja politicamente mais estável, os dilemas econômicos do país seguem os mesmos. O crescimento mais favorável mascara um problema inflacionário muito mais grave que o nosso. A Argentina não conseguiu debelar o legado inflacionário do casal Kirchner, que se mantém sistematicamente na casa dos 25%. Trazer tal número para baixo demandaria um longo período recessivo, algo que o atual governo não sinalizou querer fazer.

O caso venezuelano é extremo. Inflação de 800% para ajustar precisará de um profunda reforma fiscal e longos anos de ajuste na política monetária para voltar à normalidade. Será uma saída traumática que certamente demandará mais instabilidade política nos próximos anos.

O Brasil, que politicamente se encontra fragilizado, tem a melhor política econômica sendo construída. Ela não traz resultados imediatos, mas tem tocado em questões centrais para melhoria da produtividade futura, como a reforma trabalhista. Sem força política para tais mudanças, a Argentina segue apenas evitando uma piora da crise inflacionária. Aqui, por hora, evitou-se a piora da inflação, que segue atrelada à continuidade da reforma fiscal para se manter controlada.

A inflação é um sintoma importante de se acompanhar para se ver os dramas que os países terão pela frente. Por essa ótica, fica clara a diferença entre Brasil, Argentina e Venezuela. Esta última em crise que perdurará por muitos anos. A Argentina ainda por passar pelo processo de controle inflacionário. E o Brasil, fazendo o ajuste necessário que os países vizinhos têm dificuldade de fazer.

Obviamente, nem tudo são flores. A eleição ano que vem será bastante arriscada e ajustes no próprio regime fiscal poderão ser necessários. Como temos salientado nessa coluna desde o ano passado, por mais que a regra do teto seja muito positiva como mudança de regime, sua rigidez fará com que mudanças acabem ocorrendo no futuro. O modelo chileno, mais flexível, já havia sido analisado aqui como um caminho menos turbulento.

Mas não parece haver dúvidas olhando de hoje que as escolhas que têm sido feitas, com erros e acertos, são francamente favoráveis para o crescimento futuro. O momento negativo do país na comparação internacional com a Argentina não parece ser algo a se sustentar nos próximos anos. A normalidade política que podemos alcançar a partir de 2019 coloca o país em rota mais positiva. Para as empresas, a preparação para um ciclo econômico mais positivo se sobrepõe, por enquanto, às visões negativas que pululam na imprensa. Mas é bom ver como um descontrole fiscal atrelado a uma crise política como na Venezuela pode destroçar o futuro de um país. Vale a lembrança para não desviarmos da rota ano que vem.

SERGIO VALE

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Depois de anos de desajustes, a América do Sul parece ter entrado em modo de recuperação nos últimos anos, especialmente para Brasil e Argentina. Por outro lado, a Venezuela segue em processo de crise contínua em que uma solução pacífica parece estar fora de cogitação por hora. Por força de hábito do todo economista, parece interessante fazer um exercício comparativo entre os três países para percebermos para onde podermos ir se desviarmos da rota nesse momento.

A Argentina tem sido um case de sucesso nos últimos anos, especialmente com um soft power mais robusto depois das eleições de Macri. O país será sede de encontros relevantes do G20 e da OMC, além de ter recebido lideranças políticas importantes, que passaram ao largo do Brasil. A economia segue em lenta recuperação, mas com sinais mais fortes de crescimento para 2018, na casa dos 3%. No mais, há a visão de que houve uma transição democrática em que o novo presidente não estaria envolvido em nada escuso.

Da Argentina em recuperação, vamos à Venezuela em ampla e profunda crise. Com queda de PIB acumulada em 45% desde o início do colapso, a solução não deverá ser pacífica, com um misto de guerra civil e/ou golpe a caminho. Uma velha tradição latino-americana que parecia ter ficado para trás.

Por fim, por aqui a saída da recessão está consolidada, mas os números ainda são parcos. Crescimento um pouco melhor ano que vem, mas uma instabilidade fiscal que coloca inúmeros riscos ao crescimento de longo prazo. A reforma da previdência, tão necessária, ficará para 2019, com toda a incerteza no meio do caminho de uma eleição que será, no mínimo, turbulenta.

Olhando os números frios, poderia ser que o país mais bem colocado seria a Argentina. Mas a política aqui pode enganar, tanto em tempos normais quanto em tempos de crise. A transição via eleição na Argentina dá a impressão de que nossos hermanos do Sul estariam mais bem colocados que nós. Mas quando se olha a economia, o que o futuro parece dizer? O contrário do que a política sinaliza hoje.

Por mais que a Argentina esteja politicamente mais estável, os dilemas econômicos do país seguem os mesmos. O crescimento mais favorável mascara um problema inflacionário muito mais grave que o nosso. A Argentina não conseguiu debelar o legado inflacionário do casal Kirchner, que se mantém sistematicamente na casa dos 25%. Trazer tal número para baixo demandaria um longo período recessivo, algo que o atual governo não sinalizou querer fazer.

O caso venezuelano é extremo. Inflação de 800% para ajustar precisará de um profunda reforma fiscal e longos anos de ajuste na política monetária para voltar à normalidade. Será uma saída traumática que certamente demandará mais instabilidade política nos próximos anos.

O Brasil, que politicamente se encontra fragilizado, tem a melhor política econômica sendo construída. Ela não traz resultados imediatos, mas tem tocado em questões centrais para melhoria da produtividade futura, como a reforma trabalhista. Sem força política para tais mudanças, a Argentina segue apenas evitando uma piora da crise inflacionária. Aqui, por hora, evitou-se a piora da inflação, que segue atrelada à continuidade da reforma fiscal para se manter controlada.

A inflação é um sintoma importante de se acompanhar para se ver os dramas que os países terão pela frente. Por essa ótica, fica clara a diferença entre Brasil, Argentina e Venezuela. Esta última em crise que perdurará por muitos anos. A Argentina ainda por passar pelo processo de controle inflacionário. E o Brasil, fazendo o ajuste necessário que os países vizinhos têm dificuldade de fazer.

Obviamente, nem tudo são flores. A eleição ano que vem será bastante arriscada e ajustes no próprio regime fiscal poderão ser necessários. Como temos salientado nessa coluna desde o ano passado, por mais que a regra do teto seja muito positiva como mudança de regime, sua rigidez fará com que mudanças acabem ocorrendo no futuro. O modelo chileno, mais flexível, já havia sido analisado aqui como um caminho menos turbulento.

Mas não parece haver dúvidas olhando de hoje que as escolhas que têm sido feitas, com erros e acertos, são francamente favoráveis para o crescimento futuro. O momento negativo do país na comparação internacional com a Argentina não parece ser algo a se sustentar nos próximos anos. A normalidade política que podemos alcançar a partir de 2019 coloca o país em rota mais positiva. Para as empresas, a preparação para um ciclo econômico mais positivo se sobrepõe, por enquanto, às visões negativas que pululam na imprensa. Mas é bom ver como um descontrole fiscal atrelado a uma crise política como na Venezuela pode destroçar o futuro de um país. Vale a lembrança para não desviarmos da rota ano que vem.

SERGIO VALE
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