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O Brasil não é nem para especialistas

Às vezes parece que o Brasil não passa nem no crivo de um especialista, para lembrar a frase de Tom Jobim de que nosso país não é para principiantes. O impossível tem ocorrido com certa frequência por aqui. As irresponsabilidades têm crescido de tamanha forma na condução econômica e política do país que já é […]

DILMA ROUSSEFF:  uma consequência desse mar de incertezas é a ampliação da imagem negativa do país lá fora  (Reuters/Reuters)
DILMA ROUSSEFF: uma consequência desse mar de incertezas é a ampliação da imagem negativa do país lá fora (Reuters/Reuters)
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Sérgio Vale

Publicado em 10 de maio de 2016 às, 11h57.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h15.

Às vezes parece que o Brasil não passa nem no crivo de um especialista, para lembrar a frase de Tom Jobim de que nosso país não é para principiantes. O impossível tem ocorrido com certa frequência por aqui. As irresponsabilidades têm crescido de tamanha forma na condução econômica e política do país que já é fácil ver o atual governo como pior que o período Collor, o que o coloca no desonroso primeiro lugar de pior governo da história. Não se sabe o que se passa na cabeça da presidente após ter o voto contrário de 367 deputados na Câmara. Ficaríamos dois anos e meio sem aprovar nenhuma legislação, mas isso não parece ter sido um sinal bem entendido pela presidente, o que só tem piorado o desarranjo.

A essa altura, não apenas a economia está em desarranjo, mas há uma guerra surda entre os três poderes que macula a capacidade institucional do país. Por mais que a decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, tenha sido anulada, o estrago de poder eventualmente atrasar ainda mais o processo e judicializar toda a decisão enfraquece a posição da Câmara em sua relação com o Executivo. A ideia de um poder judiciário moderador não é saudável para nenhuma democracia e apenas atrasa decisões que o Supremo deveria estar tomando sobre, por exemplo, a questão dos juros simples nas dívidas dos estados.

Uma consequência mais geral desse mar de incertezas é a ampliação da imagem negativa do país lá fora. Não apenas a incerteza jurídica é muito grande, mas a crise fiscal faz, por exemplo, que pagamentos que todos os países fazem aos organismos internacionais estão sendo atrasados há muito tempo. Isso não apenas afeta a capacidade de articulação de uma diplomacia que no passado era referência internacional, mas também afeta a percepção sobre a capacidade de investimento no Brasil. A falta de harmonia entre os poderes com sensação de falta geral de lideranças que possam pacificar o país nos próximos anos atrasa a possibilidade de uma recuperação mais rápida que poderia acontecer. Não impedirá que o crescimento venha, pois não é difícil ser melhor do que está aí hoje, mas infelizmente coloca mais um percalço nesse caminho.

Toda essa bagunça em que nos encontramos apenas reforça a imagem de um país que terá dificuldades para encontrar um ponto de equilíbrio. A necessidade de reformas para que se consiga aumentar a produtividade demandará esforços de conciliação entre Executivo e Legislativo e rapidez para que o futuro presidente não caia logo na malha da perda de popularidade que fatalmente ocorrerá. O trabalho a ser feito não é pequeno, pois simplesmente hoje nos encontramos em níveis de produtividade da década de 60 (gráfico abaixo), com ganhos muito pálidos nos últimos anos, que se perderam quase por inteiro em apenas três anos, quando a produtividade caiu 6,6%. Reverter essa tendência não é algo que Temer conseguirá fazer, mas seu trabalho será deixar a casa minimamente arrumada para quem vier em 2019. Para além do que seria apenas uma questão econômica, a bagunça política em que nos encontramos é mais um desafio para aumentar a produtividade do país.

Produtividade Total dos Fatores – Brasil (2005=1)

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