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Inflação seguirá positiva nos próximos dois anos

A recente queda da inflação colocou em discussão sobre o porquê de ela ter começado a cair em ritmo mais intenso do que se imaginava. De fato, há apenas quatro meses a percepção de todos os analistas era de uma inflação terminando 2016 próximo de 7% com 2017 apontando para números acima de 5%. Isso […]

TEMER E DILMA: cassar a chapa vitoriosa em 2018 não interessa a PMDB, PT e PSDB / Valter Campanato/ Agência Brasil
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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 17h42.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.

A recente queda da inflação colocou em discussão sobre o porquê de ela ter começado a cair em ritmo mais intenso do que se imaginava. De fato, há apenas quatro meses a percepção de todos os analistas era de uma inflação terminando 2016 próximo de 7% com 2017 apontando para números acima de 5%.

Isso mudou rapidamente e 2016 encerrou com IPCA em 6,3%, abaixo do teto da meta, e sinalização para números em cima da meta este ano. No nosso caso, até um pouco menor (4,3%). O que aconteceu?

São várias as explicações, como em geral acontece em economia. Primeiro, e talvez mais importante de tudo, a troca de direção no Banco Central teve papel fundamental em mudar as expectativas de inflação. Desde o final de 2010 o banco havia tido dificuldade de sinalizar corretamente a inflação esperada para o ano seguinte. Invariavelmente, o banco cravava 4,5% quando a percepção da maioria dos analistas era que algo mais próximo de 6,5% era provável, como de fato acabou ocorrendo na maioria dos anos.

Desde a entrada da nova equipe ficou claro que o trabalho seria feito para que a meta fosse de fato alcançada, mesmo que isso prejudicasse o crescimento. Por exemplo, se a inflação ainda estivesse apontando para números próximos do teto, certamente o banco não estaria baixando a taxa de juros hoje. Esse ganho em credibilidade não é trivial e o crédito não é apenas de Ilan e sua diretoria, mas do próprio presidente Temer, que sabidamente se esquivou de tocar no assunto juros ou tentar influir nas decisões, como parecia ser o caso anteriormente. Dado que o BC trabalha com expectativas, ter um banco em que se acredita no uso dos instrumentos de política monetária ajuda em muito na tarefa.

Um segundo ponto, que diria igualmente importante, é o ajuste fiscal em andamento. Não apenas a regra do teto, mas o ajuste que foi sendo feito ao longo do ano também ajuda na sinalização de uma inflação mais baixa.

Um terceiro elemento ajudou o final do ano passado e deve continuar auxiliando neste primeiro semestre. Os preços de alimentos estão sendo beneficiados por uma safra forte, com aumento de produção de 17% este ano. Dado um cenário de taxa de câmbio e preços de commodities relativamente estáveis, o ganho de renda poderá ser significativo, auxiliando na recuperação da economia, mas ao mesmo tempo segurando os preços agrícolas. A inflação de janeiro, por exemplo, teve papel central da baixa da inflação de alimentos para ter sido tão baixo como foi.

Além disso, a forte queda de atividade ao longo de quase três anos tem seu papel para explicar a forte desaceleração, especialmente em componentes que tinham dificuldade de ceder, como os serviços. Durante anos esse componente do IPCA crescia entre 8% e 10%. Ao longo do segundo semestre do ano passado, esses números caíram para próximo de 6% e provavelmente chegará a números abaixo de 5% de expansão este ano.

Vale dizer que a atividade em queda teve seu papel em conter os preços de serviços, mas o governo também contribuiu com o ajuste com boas políticas começadas parcialmente com o Ministro Levy em 2015 e reforçadas em 2016 com a Fazenda e o BC. Esse comportamento se assemelha ao que se viu entre 2005 e 2007 quando a inflação de serviços caiu de 7,2% para 4,7% fruto em grande parte do ajuste de juros que havia sido feio ao longo de 2005. Essa normalidade das políticas fiscal e monetária serão essenciais para continuar sinalizando a queda da inflação de serviços ao longo do ano.

Não nos enganemos sobre o papel do atual governo em relação à inflação. Se não houvesse a troca presidencial ano passado muito certamente a inflação estaria em dois dígitos, com a política fiscal em franco descontrole e uma sinalização muito mais grave de aceleração inflacionária à frente. Nesse caso, a inflação viria menos de serviços, que seguiria em queda pela recessão, mas mais pela inflação de preços livres, que teria forte impacto da taxa de câmbio depreciada que teríamos hoje. Não foi pouco que se conseguiu evitar com a saída do governo anterior.

A preocupação que resta é com a recuperação da atividade. Se ela vier, pode jogar a inflação em cenário preocupante à frente? Talvez o cenário seja parecido com o da Argentina pós-crise de 2001. A forte queda de atividade, com enorme capacidade ociosa criada, levou à possibilidade de forte recuperação da economia nos anos seguintes, sem gerar inflação. A Argentina seguiu trajetória populista que matou essa política quando Roberto Lavagna deixou o Ministério da Fazenda, algo semelhante quando Palocci deixou de ser Ministro em 2006.

Manter essa trajetória positiva dependerá essencialmente agora da eleição em 2018. A possibilidade de um presidente que siga reformista permitirá que finalmente possamos ver números mais parecidos com os países desenvolvidos no que tange os números básico da economia, como juros e inflação.

SERGIO VALE

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A recente queda da inflação colocou em discussão sobre o porquê de ela ter começado a cair em ritmo mais intenso do que se imaginava. De fato, há apenas quatro meses a percepção de todos os analistas era de uma inflação terminando 2016 próximo de 7% com 2017 apontando para números acima de 5%.

Isso mudou rapidamente e 2016 encerrou com IPCA em 6,3%, abaixo do teto da meta, e sinalização para números em cima da meta este ano. No nosso caso, até um pouco menor (4,3%). O que aconteceu?

São várias as explicações, como em geral acontece em economia. Primeiro, e talvez mais importante de tudo, a troca de direção no Banco Central teve papel fundamental em mudar as expectativas de inflação. Desde o final de 2010 o banco havia tido dificuldade de sinalizar corretamente a inflação esperada para o ano seguinte. Invariavelmente, o banco cravava 4,5% quando a percepção da maioria dos analistas era que algo mais próximo de 6,5% era provável, como de fato acabou ocorrendo na maioria dos anos.

Desde a entrada da nova equipe ficou claro que o trabalho seria feito para que a meta fosse de fato alcançada, mesmo que isso prejudicasse o crescimento. Por exemplo, se a inflação ainda estivesse apontando para números próximos do teto, certamente o banco não estaria baixando a taxa de juros hoje. Esse ganho em credibilidade não é trivial e o crédito não é apenas de Ilan e sua diretoria, mas do próprio presidente Temer, que sabidamente se esquivou de tocar no assunto juros ou tentar influir nas decisões, como parecia ser o caso anteriormente. Dado que o BC trabalha com expectativas, ter um banco em que se acredita no uso dos instrumentos de política monetária ajuda em muito na tarefa.

Um segundo ponto, que diria igualmente importante, é o ajuste fiscal em andamento. Não apenas a regra do teto, mas o ajuste que foi sendo feito ao longo do ano também ajuda na sinalização de uma inflação mais baixa.

Um terceiro elemento ajudou o final do ano passado e deve continuar auxiliando neste primeiro semestre. Os preços de alimentos estão sendo beneficiados por uma safra forte, com aumento de produção de 17% este ano. Dado um cenário de taxa de câmbio e preços de commodities relativamente estáveis, o ganho de renda poderá ser significativo, auxiliando na recuperação da economia, mas ao mesmo tempo segurando os preços agrícolas. A inflação de janeiro, por exemplo, teve papel central da baixa da inflação de alimentos para ter sido tão baixo como foi.

Além disso, a forte queda de atividade ao longo de quase três anos tem seu papel para explicar a forte desaceleração, especialmente em componentes que tinham dificuldade de ceder, como os serviços. Durante anos esse componente do IPCA crescia entre 8% e 10%. Ao longo do segundo semestre do ano passado, esses números caíram para próximo de 6% e provavelmente chegará a números abaixo de 5% de expansão este ano.

Vale dizer que a atividade em queda teve seu papel em conter os preços de serviços, mas o governo também contribuiu com o ajuste com boas políticas começadas parcialmente com o Ministro Levy em 2015 e reforçadas em 2016 com a Fazenda e o BC. Esse comportamento se assemelha ao que se viu entre 2005 e 2007 quando a inflação de serviços caiu de 7,2% para 4,7% fruto em grande parte do ajuste de juros que havia sido feio ao longo de 2005. Essa normalidade das políticas fiscal e monetária serão essenciais para continuar sinalizando a queda da inflação de serviços ao longo do ano.

Não nos enganemos sobre o papel do atual governo em relação à inflação. Se não houvesse a troca presidencial ano passado muito certamente a inflação estaria em dois dígitos, com a política fiscal em franco descontrole e uma sinalização muito mais grave de aceleração inflacionária à frente. Nesse caso, a inflação viria menos de serviços, que seguiria em queda pela recessão, mas mais pela inflação de preços livres, que teria forte impacto da taxa de câmbio depreciada que teríamos hoje. Não foi pouco que se conseguiu evitar com a saída do governo anterior.

A preocupação que resta é com a recuperação da atividade. Se ela vier, pode jogar a inflação em cenário preocupante à frente? Talvez o cenário seja parecido com o da Argentina pós-crise de 2001. A forte queda de atividade, com enorme capacidade ociosa criada, levou à possibilidade de forte recuperação da economia nos anos seguintes, sem gerar inflação. A Argentina seguiu trajetória populista que matou essa política quando Roberto Lavagna deixou o Ministério da Fazenda, algo semelhante quando Palocci deixou de ser Ministro em 2006.

Manter essa trajetória positiva dependerá essencialmente agora da eleição em 2018. A possibilidade de um presidente que siga reformista permitirá que finalmente possamos ver números mais parecidos com os países desenvolvidos no que tange os números básico da economia, como juros e inflação.

SERGIO VALE
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