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A insustentável imprevisibilidade dos seres do STF

Para o bem do país, a decisão acaba de ser vetada por José Dias Toffoli

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Sérgio Praça

Publicado em 19 de dezembro de 2018 às, 22h27.

Última atualização em 20 de dezembro de 2018 às, 09h03.

Uma decisão bisonha de Marco Aurélio Mello tomada há poucas horas permitiria que presos condenados em segunda instância sejam liberados. O timing da decisao foi estratégico. Não haveria mais tempo, neste ano, para que o plenário do STF se reunisse e reiterasse o entendimento a favor da prisão após condenação em segunda instância. Para o bem do país, a decisão acaba de ser vetada por José Dias Toffoli, o presidente do STF por rodízio.

As regras internas do STF favorecem iniciativas pontuais que frequentemente violam o que foi definido pelo plenário. Em artigo recente, Diego Werneck e Leandro Molhano dizem que o tribunal tem tido efeitos danosos por tomar decisões de modo individual e descentralizado. Segundo eles, “como os relatores dos processos combinam o poder de decidir liminares monocráticas e o poder de liberar ou não essas liminares para apreciação das turmas e do plenário, cria-se um espaço, politicamente relevante, de decisão individual sem controle coletivo”.

Já que os relatores são escolhidos de modo aleatório, os atores políticos e econômicos afetados por decisões do STF lidam com decisões imprevisíveis. (O texto “Ministrocracia: o Supremo Tribunal individual e o processo democrático brasileiro” foi publicado na revista Novos Estudos Cebrap.) 

É especialmente preocupante a possibilidade de tomar decisões individuais contra o entendimento do plenário, como no caso de hoje. Toffoli vetou a decisão individual de Marco Aurélio. Se outro dos onze juízes fosse presidente, poderia haver outro entendimento. Em suma: é tudo muito contingente e suscetível à mudança de humores e interpretações vagamente constitucionais. Os juízes parecem ignorar que, no fim das contas, é a reputação do tribunal que sofre.