Trump reproduz na política suas táticas ousadas de negociação
Mesmo após as nomeações do seu secretariado que corroboram várias das ideias que Donald Trump defendeu durante a corrida presidencial, ainda não está claro o quanto de seu estilo é tática e quanto é estratégia. É fato que alguns absurdos prometidos em campanha viraram medidas provisórias logo nos primeiros dias de mandato. Entretanto, parte delas […]
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2017 às 10h15.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.
Mesmo após as nomeações do seu secretariado que corroboram várias das ideias que Donald Trump defendeu durante a corrida presidencial, ainda não está claro o quanto de seu estilo é tática e quanto é estratégia. É fato que alguns absurdos prometidos em campanha viraram medidas provisórias logo nos primeiros dias de mandato. Entretanto, parte delas dependem da aprovação do Congresso ou mesmo de governos estaduais, outras são contrárias à Constituição e às leis vigentes ou afetam acordos internacionais assinados e ratificados pelos Estados Unidos. Ou seja, não são de competência exclusiva do presidente.
É difícil acreditar que essas medidas, ou ameaças, iniciais tenham como objetivo sua implementação de fato, no formato e intensidade com que foram anunciadas. Seria imaginar que Trump – mesmo com a vitória apertada – é capaz de capturar todas as demais instâncias decisórias do país. Não parece ser o caso já que mesmo a maioria republicana nas duas casas do Congresso não é garantia de sucesso.
Trump pode estar tentando reproduzir na política suas táticas de negociação de mercado. Atira alto para poder barganhar com margem mais ampla. Blefa para deixar o oponente na defensiva. Ameaça para obrigar o outro lado a sentar à mesa de negociação. E ainda o faz de forma espalhafatosa para atrair atenção, motivar possíveis beneficiários e cativar os desatentos.
Sua carreira nos negócios privados mostra esse estilo, que mistura negócios com comunicação, tática com estratégia. Trump testa ideias lançando-as de maneira prematura e medindo a temperatura das reações. Se atrair interessados, aliados e potenciais beneficiários a ponto de viabilizar o projeto, ele segue em frente e se coloca na posição de negociar o projeto em condições favoráveis de quem já conta com um volume razoável de apoiadores. Caso contrário, finge que a proposta nunca foi de fato aventada. No seu currículo figuram vários projetos divulgados com exagero, mas que não saíram do papel, como o megaprojeto de torres triple A, no Rio de Janeiro.
É natural que Trump também tenha tido fracassos retumbantes e que deixaram pendências até os dias de hoje, como a Trump University e alguns de seus investimentos em cassinos e na indústria de carne.
Seguindo a mesma fórmula na política, se as reações o favorecerem, ele seguirá em frente. Como já deu certo na durante a campanha eleitoral, Trump busca manter o tom elevado em alguns temas polêmicos para seguir arregimentando aliados. Bravatas funcionam para mobilizar parte do eleitorado, mas perdem a eficácia quando se lida com instituições e com interesses concretos ou valores arraigados na sociedade. Decisões que afetam a coletividade dependem de processos de pesos e contrapesos.
Trump se elegeu dizendo que o governo norte-americano nas últimas décadas perdeu a capacidade de negociação internacional que teve no passado. O país teria se tornado demasiadamente fraco na defesa de seus interesses, pelos seus recuos e pelas concessões feitas. Ainda em campanha, mencionou que não lembrava de um acordo com a China em que os Estados Unidos tenha saído vitorioso.
A retirada dos EUA das negociações Acordo Transpacífico (TPP), cuja elaboração é parte de uma estratégia de longo prazo dos principais conglomerados empresariais do país, trará consequências consideráveis no jogo político, além de impacto comercial de centenas de bilhões de dólares. O acordo seria resultado um esforço de vários anos para contornar o crescimento da influência da China em mercados importantes na Ásia e fora dela.
O mesmo se aplica à relação política e econômica com o México, já que o NAFTA é basicamente a expansão regional das empresas dos Estados Unidos e está vinculado à capacidade de concorrência delas mundo a fora. Qualquer medida contra o NAFTA serão outras centenas de bilhões de dólares. Sem contar a interferência da OMC no caso de não cumprimento das regras estabelecidas. Nesse cenário, é impossível sobretaxar um país em 35% fora dessas regras.
São poucos os políticos em democracias maduras que sobreviveram adotando estratégias de negociações como as de Trump – a exceção talvez seja Berlusconi. O atual presidente parece subestimar a resiliência da sociedade e das instituições norte-americanas. O risco dessa forma de negociar é a criação de uma enorme resistência não apenas política, mas nas agências reguladoras, no poder judiciário, com inúmeros grupos da sociedade civil ou empresariais, além da mídia, uma inimiga já consagrada.
Dado que apenas 60% do eleitorado foram às urnas em 2016 e que Trump conquistou menos de 50% do total de votos, tem-se que, de fato, menos de 30% dos cidadãos norte-americanos votaram nele. Seria um equívoco – se não for apenas uma tática negocial – supor que essa margem de votos o autoriza a redesenhar de forma monocrática princípios constitucionais, políticas públicas e acordos internacionais. O risco, além dos ruídos permanentes no funcionamento do país e no ambiente de negócios interna e externamente – é de um desgaste político prematuro do presidente recém-empossado. Ou até, como já se chegou a cogitar, a possibilidade de abertura de processo de impeachment.
Mesmo após as nomeações do seu secretariado que corroboram várias das ideias que Donald Trump defendeu durante a corrida presidencial, ainda não está claro o quanto de seu estilo é tática e quanto é estratégia. É fato que alguns absurdos prometidos em campanha viraram medidas provisórias logo nos primeiros dias de mandato. Entretanto, parte delas dependem da aprovação do Congresso ou mesmo de governos estaduais, outras são contrárias à Constituição e às leis vigentes ou afetam acordos internacionais assinados e ratificados pelos Estados Unidos. Ou seja, não são de competência exclusiva do presidente.
É difícil acreditar que essas medidas, ou ameaças, iniciais tenham como objetivo sua implementação de fato, no formato e intensidade com que foram anunciadas. Seria imaginar que Trump – mesmo com a vitória apertada – é capaz de capturar todas as demais instâncias decisórias do país. Não parece ser o caso já que mesmo a maioria republicana nas duas casas do Congresso não é garantia de sucesso.
Trump pode estar tentando reproduzir na política suas táticas de negociação de mercado. Atira alto para poder barganhar com margem mais ampla. Blefa para deixar o oponente na defensiva. Ameaça para obrigar o outro lado a sentar à mesa de negociação. E ainda o faz de forma espalhafatosa para atrair atenção, motivar possíveis beneficiários e cativar os desatentos.
Sua carreira nos negócios privados mostra esse estilo, que mistura negócios com comunicação, tática com estratégia. Trump testa ideias lançando-as de maneira prematura e medindo a temperatura das reações. Se atrair interessados, aliados e potenciais beneficiários a ponto de viabilizar o projeto, ele segue em frente e se coloca na posição de negociar o projeto em condições favoráveis de quem já conta com um volume razoável de apoiadores. Caso contrário, finge que a proposta nunca foi de fato aventada. No seu currículo figuram vários projetos divulgados com exagero, mas que não saíram do papel, como o megaprojeto de torres triple A, no Rio de Janeiro.
É natural que Trump também tenha tido fracassos retumbantes e que deixaram pendências até os dias de hoje, como a Trump University e alguns de seus investimentos em cassinos e na indústria de carne.
Seguindo a mesma fórmula na política, se as reações o favorecerem, ele seguirá em frente. Como já deu certo na durante a campanha eleitoral, Trump busca manter o tom elevado em alguns temas polêmicos para seguir arregimentando aliados. Bravatas funcionam para mobilizar parte do eleitorado, mas perdem a eficácia quando se lida com instituições e com interesses concretos ou valores arraigados na sociedade. Decisões que afetam a coletividade dependem de processos de pesos e contrapesos.
Trump se elegeu dizendo que o governo norte-americano nas últimas décadas perdeu a capacidade de negociação internacional que teve no passado. O país teria se tornado demasiadamente fraco na defesa de seus interesses, pelos seus recuos e pelas concessões feitas. Ainda em campanha, mencionou que não lembrava de um acordo com a China em que os Estados Unidos tenha saído vitorioso.
A retirada dos EUA das negociações Acordo Transpacífico (TPP), cuja elaboração é parte de uma estratégia de longo prazo dos principais conglomerados empresariais do país, trará consequências consideráveis no jogo político, além de impacto comercial de centenas de bilhões de dólares. O acordo seria resultado um esforço de vários anos para contornar o crescimento da influência da China em mercados importantes na Ásia e fora dela.
O mesmo se aplica à relação política e econômica com o México, já que o NAFTA é basicamente a expansão regional das empresas dos Estados Unidos e está vinculado à capacidade de concorrência delas mundo a fora. Qualquer medida contra o NAFTA serão outras centenas de bilhões de dólares. Sem contar a interferência da OMC no caso de não cumprimento das regras estabelecidas. Nesse cenário, é impossível sobretaxar um país em 35% fora dessas regras.
São poucos os políticos em democracias maduras que sobreviveram adotando estratégias de negociações como as de Trump – a exceção talvez seja Berlusconi. O atual presidente parece subestimar a resiliência da sociedade e das instituições norte-americanas. O risco dessa forma de negociar é a criação de uma enorme resistência não apenas política, mas nas agências reguladoras, no poder judiciário, com inúmeros grupos da sociedade civil ou empresariais, além da mídia, uma inimiga já consagrada.
Dado que apenas 60% do eleitorado foram às urnas em 2016 e que Trump conquistou menos de 50% do total de votos, tem-se que, de fato, menos de 30% dos cidadãos norte-americanos votaram nele. Seria um equívoco – se não for apenas uma tática negocial – supor que essa margem de votos o autoriza a redesenhar de forma monocrática princípios constitucionais, políticas públicas e acordos internacionais. O risco, além dos ruídos permanentes no funcionamento do país e no ambiente de negócios interna e externamente – é de um desgaste político prematuro do presidente recém-empossado. Ou até, como já se chegou a cogitar, a possibilidade de abertura de processo de impeachment.