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Começaram as eleições de 2018

O fechamento do impeachment abriu a corrida para as eleições de 2018. Por motivos distintos, a performance de Dilma ao longo do processo e as ações recentes de Michel delineiam o que deve ser o posicionamento desses grupos políticos nos próximos dois anos. Assumindo que a votação a favor do impeachment já era perdida, Dilma […]

PALÁCIO DA ALVORADA: Dilma deu o tom do que deve ser a narrativa do PT até 2018: um golpe a tirou do poder e deu lugar a um governo elitista, fiscalista e contrário às políticas sociais / Mario Tama / Getty Images
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Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2016 às 12h02.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.

O fechamento do impeachment abriu a corrida para as eleições de 2018. Por motivos distintos, a performance de Dilma ao longo do processo e as ações recentes de Michel delineiam o que deve ser o posicionamento desses grupos políticos nos próximos dois anos.

Assumindo que a votação a favor do impeachment já era perdida, Dilma Rousseff mesclou, nas inúmeras falas de sua defesa, as bases do que deve ser o posicionamento do PT para as eleições de 2018. A ex-presidente perfilou cada uma das políticas que adotou ao longo do seu mandato e as comparou com as ações do governo interino de Temer. Como se já estivesse em campanha, Rousseff combinou com os quase 20 senadores que a apoiaram até o final do processo, que cada um deles levantasse um tema diferente de sua gestão, dando-lhe a oportunidade para comentar sua visão sobre o tema e suas políticas.

Obviamente Rousseff não se referiu aos erros de gestão ou ao aumento explosivo dos gastos e ao desequilíbrio das contas públicas. Além de não comentar se os seus mandatos foram capazes de produzir os resultados esperados, deixou de lado temas caros como ajuste fiscal, contenção de gastos, peso dos serviços da dívida interna explosiva. Também insistiu na tese de que a crise aguda pela qual passa o país deriva de uma inflada crise internacional, em particular da queda do preço do petróleo e da soja. A ex-presidente, que nas primeiras falas reconheceu que cometeu “alguns erros”, ao longo das várias respostas aos 66 senadores foi perdendo a postura inicial e exacerbando suas críticas às medidas de contenção de gastos do atual governo.

A estratégia envolveu se apresentar como a defensora dos pobres, dos sem-terra e dos sem-teto, mas também dos agricultores, das empresas nacionais, dos aposentados e dos trabalhadores, recuperando a agenda tradicional do PT antes de assumir o poder. Ao evidenciar que já tinha deixado de ser governo, Dilma Rousseff deu o tom do que deve ser a narrativa do PT até 2018: um golpe parlamentar derrubou um governo inteiramente preocupado com crescimento e políticas sociais, que foi substituído por um governo elitista, fiscalista e contrário às políticas sociais e de fomento econômico.

Temer também começa a se posicionar para as eleições de 2018. Tal qual Rousseff deve liderar a formação de um bloco político tanto para sustentar seu governo nos próximos anos, como para chegar competitivo nas eleições presidenciais, porém, sem lançar candidatura própria. Dispondo apenas de dois anos de mandato que deverão concentrar um número razoável de medidas impopulares, Temer parece ter poucos trunfos nas mãos para manter sua base de apoio. Nesse contexto, a estratégia passa pela sinalização de que pretende estender seu projeto político para além de 2018.

O principal articulador desse projeto é Moreira Franco, um defensor ferrenho da necessidade do PMDB de ter um projeto presidencial, que tem indicado a importância de consolidar um bloco abrangendo PMDB, DEM, PSD e a parte desgarrada do PSDB que não seguirá Alckmin. Esse núcleo duro seria parte estratégica do apoio parlamentar para os próximos anos e, ao mesmo tempo, a base para uma candidatura viável para 2018. Essa composição teria ainda a vantagem de fornecer não apenas importantes plataformas políticas nos vários estados da federação, mas um rol amplo de quadros políticos para gerir o estado ao longo desse ciclo.

Ao sinalizar ganhos para os próximos seis anos – pelo menos – Temer aumenta substancialmente sua capacidade de atrair apoios para a fase dura que se inicia, de ajustes fiscais e contenção de gastos. Vários grupos de interesse serão afetados e o desemprego ainda piorará antes de ganhar dinamismo novamente. No plano de governo, essas medidas são fundamentais para tentar chegar a 2018 com a economia em condições melhores e, assim, lançar as bases para as eleições presidenciais.

Em linha com a projeção de bancos importantes como o Itaú e o Bradesco, mesmo com um duro ajuste fiscal, o cenário ideal do governo ainda conta com retração da economia em 2016 (algo na linha de 3,1%). O país deve retomar um crescimento modesto em 2017 (cerca de 1,4%) e chegará a 2018 com crescimento de 4%. No mesmo período, e ainda no cenário positivo, a inflação deve chegar, no ano das eleições, a 4,4% a.a. Se Temer conquistar um nível de aprovação em torno de 35 a 40%, os índices esperados de crescimento econômico e de inflação serão suficientes para garantir uma candidatura de seu grupo político bastante competitiva.

Já a aposta de Rousseff e do PT vai exatamente no sentido oposto. Quanto maior o custo político dos ajustes econômicos e mais lenta for a recuperação econômica, maior o desgaste do governo Temer e menor suas condições de chegar a 2018 com projeto político robusto. Nesse cenário, o PT maximiza os ganhos do posicionamento anunciado pela ex-presidente, de oposição ferrenha ao novo governo e de responsabilização pelo desmonte das políticas do ciclo Lula-Dilma.

O último ato do processo de impeachment foi também o primeiro da campanha presidencial de 2018. Temer larga na frente, mas os desafios são enormes e suas chances de vitória ainda não convencem a maioria da população.

sennesficha

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O fechamento do impeachment abriu a corrida para as eleições de 2018. Por motivos distintos, a performance de Dilma ao longo do processo e as ações recentes de Michel delineiam o que deve ser o posicionamento desses grupos políticos nos próximos dois anos.

Assumindo que a votação a favor do impeachment já era perdida, Dilma Rousseff mesclou, nas inúmeras falas de sua defesa, as bases do que deve ser o posicionamento do PT para as eleições de 2018. A ex-presidente perfilou cada uma das políticas que adotou ao longo do seu mandato e as comparou com as ações do governo interino de Temer. Como se já estivesse em campanha, Rousseff combinou com os quase 20 senadores que a apoiaram até o final do processo, que cada um deles levantasse um tema diferente de sua gestão, dando-lhe a oportunidade para comentar sua visão sobre o tema e suas políticas.

Obviamente Rousseff não se referiu aos erros de gestão ou ao aumento explosivo dos gastos e ao desequilíbrio das contas públicas. Além de não comentar se os seus mandatos foram capazes de produzir os resultados esperados, deixou de lado temas caros como ajuste fiscal, contenção de gastos, peso dos serviços da dívida interna explosiva. Também insistiu na tese de que a crise aguda pela qual passa o país deriva de uma inflada crise internacional, em particular da queda do preço do petróleo e da soja. A ex-presidente, que nas primeiras falas reconheceu que cometeu “alguns erros”, ao longo das várias respostas aos 66 senadores foi perdendo a postura inicial e exacerbando suas críticas às medidas de contenção de gastos do atual governo.

A estratégia envolveu se apresentar como a defensora dos pobres, dos sem-terra e dos sem-teto, mas também dos agricultores, das empresas nacionais, dos aposentados e dos trabalhadores, recuperando a agenda tradicional do PT antes de assumir o poder. Ao evidenciar que já tinha deixado de ser governo, Dilma Rousseff deu o tom do que deve ser a narrativa do PT até 2018: um golpe parlamentar derrubou um governo inteiramente preocupado com crescimento e políticas sociais, que foi substituído por um governo elitista, fiscalista e contrário às políticas sociais e de fomento econômico.

Temer também começa a se posicionar para as eleições de 2018. Tal qual Rousseff deve liderar a formação de um bloco político tanto para sustentar seu governo nos próximos anos, como para chegar competitivo nas eleições presidenciais, porém, sem lançar candidatura própria. Dispondo apenas de dois anos de mandato que deverão concentrar um número razoável de medidas impopulares, Temer parece ter poucos trunfos nas mãos para manter sua base de apoio. Nesse contexto, a estratégia passa pela sinalização de que pretende estender seu projeto político para além de 2018.

O principal articulador desse projeto é Moreira Franco, um defensor ferrenho da necessidade do PMDB de ter um projeto presidencial, que tem indicado a importância de consolidar um bloco abrangendo PMDB, DEM, PSD e a parte desgarrada do PSDB que não seguirá Alckmin. Esse núcleo duro seria parte estratégica do apoio parlamentar para os próximos anos e, ao mesmo tempo, a base para uma candidatura viável para 2018. Essa composição teria ainda a vantagem de fornecer não apenas importantes plataformas políticas nos vários estados da federação, mas um rol amplo de quadros políticos para gerir o estado ao longo desse ciclo.

Ao sinalizar ganhos para os próximos seis anos – pelo menos – Temer aumenta substancialmente sua capacidade de atrair apoios para a fase dura que se inicia, de ajustes fiscais e contenção de gastos. Vários grupos de interesse serão afetados e o desemprego ainda piorará antes de ganhar dinamismo novamente. No plano de governo, essas medidas são fundamentais para tentar chegar a 2018 com a economia em condições melhores e, assim, lançar as bases para as eleições presidenciais.

Em linha com a projeção de bancos importantes como o Itaú e o Bradesco, mesmo com um duro ajuste fiscal, o cenário ideal do governo ainda conta com retração da economia em 2016 (algo na linha de 3,1%). O país deve retomar um crescimento modesto em 2017 (cerca de 1,4%) e chegará a 2018 com crescimento de 4%. No mesmo período, e ainda no cenário positivo, a inflação deve chegar, no ano das eleições, a 4,4% a.a. Se Temer conquistar um nível de aprovação em torno de 35 a 40%, os índices esperados de crescimento econômico e de inflação serão suficientes para garantir uma candidatura de seu grupo político bastante competitiva.

Já a aposta de Rousseff e do PT vai exatamente no sentido oposto. Quanto maior o custo político dos ajustes econômicos e mais lenta for a recuperação econômica, maior o desgaste do governo Temer e menor suas condições de chegar a 2018 com projeto político robusto. Nesse cenário, o PT maximiza os ganhos do posicionamento anunciado pela ex-presidente, de oposição ferrenha ao novo governo e de responsabilização pelo desmonte das políticas do ciclo Lula-Dilma.

O último ato do processo de impeachment foi também o primeiro da campanha presidencial de 2018. Temer larga na frente, mas os desafios são enormes e suas chances de vitória ainda não convencem a maioria da população.

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