Ciência x crenças: a necessidade do pacto coletivo contra a covid-19
As pessoas precisam sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem. Por isso, a ciência é tão importante contra o vírus
Leo Branco
Publicado em 15 de janeiro de 2021 às 17h31.
Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 17h02.
Em um momento que o mundo todo fala sobre a vacinação contra a covid-19 e o Brasil discute a eficácia da vacina produzida pelo Instituto Butantan , em parceria com o laboratório chinês Sinovac, precisamos retomar uma conversa necessária: a importância da ciência e a necessidade de união da sociedade, por meio de um pacto coletivo contra um vírus que tem transformado o mundo atual. As pessoas precisam sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem.
Conforme o mundo ultrapassa 90 milhões de casos confirmados da covid-19 e se aproxima de 2 milhões de mortes , campanhas de vacinação também começaram nos quatro cantos do planeta. Até o momento desta publicação quase 30 milhões de doses foram administradas , sendo 20 milhões só na China e nos EUA.
De acordo com o panorama da Organização Mundial da Saúde sobre as vacinas, que é atualizado duas vezes por semana, temos atualmente 63 vacinas em testes clínicos e 173 em testes pré-clínicos, sendo que 14% delas utilizam a mesma tecnologia empregada na fabricação da Coronavac, alvo de polêmica nessa semana após a divulgação de sua eficácia.
O fato de algumas informações não terem sido inicialmente providas pelo Instituto fez com que alguns especialistas questionassem os dados, que logo foram aclarados por um comitê de especialistas reunidos pelo Governo do Estado de São Paulo no último dia 12. A eficácia geral de 50,38%, de acordo com a comunidade científica presente, é o suficiente para conter a pandemia. Porém, as palavras de garantia dos cientistas não foram o suficiente para convencer os mais céticos.
O questionamento é um direito fundamental democrático. Contudo, é importante lembrar que ele é mais proveitoso quando ocorre de maneira orgânica, por parte dos que buscam informar-se, e não meramente ecoar manchetes sem que sequer hajam lido e interpretado seu conteúdo. Devemos também nos lembrar de que o sucesso de uma vacina não depende somente do número de sua eficácia, mas também da porcentagem da população que compra a ideia de que ela é segura.
Um dos grandes desafios do momento é convencer as pessoas de que uma vacina que foi desenvolvida em tão pouco tempo é segura, ao mesmo tempo, em que doenças que praticamente haviam sido erradicadas ressurgem, devido à desconfiança de vacinas que são administradas há décadas. Talvez por isso que uma boa comunicação e transparência diante da população seja mais necessário do que nunca por parte das instituições.
Para os que se preocupam com a rapidez com a qual as vacinas contra a COVID-19 estão sendo desenvolvidas, de acordo com Heidi J. Larson, antropóloga na London School of Hygiene and Tropical Medicine, hoje as vacinas são mais seguras do que nunca. O que existe é um paradoxo: ao mesmo tempo, em que há processos regulatórios mais seguros, a dúvida pública também cresce. Para Emily Brunson, antropóloga médica da Universidade do Texas, a criação de uma vacina é algo complexo, porém, fazer com que as pessoas a aceitem é igualmente complexo.
Durante a coletiva do dia 12, a microbiologista Natalia Pasternak afirmou que o Instituto Butantan mostrou uma “atitude científica de dividir esses dados." Isso me remeteu à obra de Lee McIntyre The Scientific Attitude. De acordo com o autor, ter uma atitude científica significa preocupar-se com evidências empíricas, e todos deveriam ter esse tipo de atitude, e não apenas cientistas. As pessoas devem sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem.
Devemos olhar para dentro e pensar se temos uma atitude científica ou se estamos sendo guiados puramente por nossas crenças. Essa atitude também deve partir dos governantes. Tomar e defender a vacina é uma das maiores provas de coletividade que poderíamos ter no momento. De acordo com cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, uma imunidade de rebanho não ocorrerá em 2021.
Arrisco afirmar também que apenas a vacinação não acabará com a pandemia, independentemente da eficácia-geral da vacina utilizada. As vacinas são apenas mais uma ferramenta a serem adicionadas a tudo aquilo que já temos feito. Por um tempo, deveremos manter o distanciamento, continuar a usar máscaras e lavar as mãos. Esse pacto coletivo se tornará muito mais fácil e eficiente caso façamos isso enquanto buscamos ter uma atitude científica.
Em um momento que o mundo todo fala sobre a vacinação contra a covid-19 e o Brasil discute a eficácia da vacina produzida pelo Instituto Butantan , em parceria com o laboratório chinês Sinovac, precisamos retomar uma conversa necessária: a importância da ciência e a necessidade de união da sociedade, por meio de um pacto coletivo contra um vírus que tem transformado o mundo atual. As pessoas precisam sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem.
Conforme o mundo ultrapassa 90 milhões de casos confirmados da covid-19 e se aproxima de 2 milhões de mortes , campanhas de vacinação também começaram nos quatro cantos do planeta. Até o momento desta publicação quase 30 milhões de doses foram administradas , sendo 20 milhões só na China e nos EUA.
De acordo com o panorama da Organização Mundial da Saúde sobre as vacinas, que é atualizado duas vezes por semana, temos atualmente 63 vacinas em testes clínicos e 173 em testes pré-clínicos, sendo que 14% delas utilizam a mesma tecnologia empregada na fabricação da Coronavac, alvo de polêmica nessa semana após a divulgação de sua eficácia.
O fato de algumas informações não terem sido inicialmente providas pelo Instituto fez com que alguns especialistas questionassem os dados, que logo foram aclarados por um comitê de especialistas reunidos pelo Governo do Estado de São Paulo no último dia 12. A eficácia geral de 50,38%, de acordo com a comunidade científica presente, é o suficiente para conter a pandemia. Porém, as palavras de garantia dos cientistas não foram o suficiente para convencer os mais céticos.
O questionamento é um direito fundamental democrático. Contudo, é importante lembrar que ele é mais proveitoso quando ocorre de maneira orgânica, por parte dos que buscam informar-se, e não meramente ecoar manchetes sem que sequer hajam lido e interpretado seu conteúdo. Devemos também nos lembrar de que o sucesso de uma vacina não depende somente do número de sua eficácia, mas também da porcentagem da população que compra a ideia de que ela é segura.
Um dos grandes desafios do momento é convencer as pessoas de que uma vacina que foi desenvolvida em tão pouco tempo é segura, ao mesmo tempo, em que doenças que praticamente haviam sido erradicadas ressurgem, devido à desconfiança de vacinas que são administradas há décadas. Talvez por isso que uma boa comunicação e transparência diante da população seja mais necessário do que nunca por parte das instituições.
Para os que se preocupam com a rapidez com a qual as vacinas contra a COVID-19 estão sendo desenvolvidas, de acordo com Heidi J. Larson, antropóloga na London School of Hygiene and Tropical Medicine, hoje as vacinas são mais seguras do que nunca. O que existe é um paradoxo: ao mesmo tempo, em que há processos regulatórios mais seguros, a dúvida pública também cresce. Para Emily Brunson, antropóloga médica da Universidade do Texas, a criação de uma vacina é algo complexo, porém, fazer com que as pessoas a aceitem é igualmente complexo.
Durante a coletiva do dia 12, a microbiologista Natalia Pasternak afirmou que o Instituto Butantan mostrou uma “atitude científica de dividir esses dados." Isso me remeteu à obra de Lee McIntyre The Scientific Attitude. De acordo com o autor, ter uma atitude científica significa preocupar-se com evidências empíricas, e todos deveriam ter esse tipo de atitude, e não apenas cientistas. As pessoas devem sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem.
Devemos olhar para dentro e pensar se temos uma atitude científica ou se estamos sendo guiados puramente por nossas crenças. Essa atitude também deve partir dos governantes. Tomar e defender a vacina é uma das maiores provas de coletividade que poderíamos ter no momento. De acordo com cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, uma imunidade de rebanho não ocorrerá em 2021.
Arrisco afirmar também que apenas a vacinação não acabará com a pandemia, independentemente da eficácia-geral da vacina utilizada. As vacinas são apenas mais uma ferramenta a serem adicionadas a tudo aquilo que já temos feito. Por um tempo, deveremos manter o distanciamento, continuar a usar máscaras e lavar as mãos. Esse pacto coletivo se tornará muito mais fácil e eficiente caso façamos isso enquanto buscamos ter uma atitude científica.