Quando os eleitores apoiam um partido que pode arruinar suas vidas
A versão do Senado do Trumpcare — a Lei de Reconciliação com a Melhor Saúde — saiu. O conteúdo é terrível: Dezenas de milhões de pessoas irão passar por dificuldades financeiras se essa proposta for aprovada, e dezenas (para não falar em centenas de milhares) vão experimentar mortes prematuras, tudo em nome de cortes tributários […]
Publicado em 4 de julho de 2017 às, 12h03.
A versão do Senado do Trumpcare — a Lei de Reconciliação com a Melhor Saúde — saiu. O conteúdo é terrível: Dezenas de milhões de pessoas irão passar por dificuldades financeiras se essa proposta for aprovada, e dezenas (para não falar em centenas de milhares) vão experimentar mortes prematuras, tudo em nome de cortes tributários para um punhado de pessoas ricas.
O que é mais impressionante é que os republicanos quase não estão fazendo esforços para justificar essa significativa distribuição de renda para cima. Eles estão agindo assim porque eles podem – porque eles acreditam que o tribalismo dos eleitores deles é tão forte que eles vão continuar a apoiar os políticos que estão arruinando as vidas deles.
Nesse sentido — e só nesse sentido —, o que nós estamos vendo hoje é um abandono das práticas republicanas do passado.
No passado, leis que tirassem das classes pobres e trabalhadores ao mesmo tempo em que davam para os ricos vinham com desculpas. Cortes de impostos, declaravam seus patrocinadores, liberariam um dinamismo de mercado e tornariam todo mundo mais próspero. A desregulamentação aumentaria a eficiência e diminuiria os preços.
Era tudo vudu; as promessas nunca se concretizaram.
Mas pelo menos havia algum fingimento no sentido de se trabalhar para o bem comum.
Agora nós não temos nada disso. Essa proposta não faz nada para reduzir os gastos com a saúde. Ela não faz nada para melhorar o funcionamento dos mercados de seguros-saúde — de fato, ela vai mandá-los para espirais da morte ao reduzir subsídios e eliminar o mandato individual. Não há absolutamente nada no projeto que irá tornar a cobertura de saúde mais acessível àqueles que hoje têm dificuldades para pagar por ela. E ele irá gradualmente espremer o Medicaid, eventualmente destruindo qualquer possibilidade de cobertura para milhões.
Quem se beneficia disso tudo? Tem tudo a ver com os cortes fiscais, dos quais quase metade irá para pessoas com rendas acima de US$ 1 milhão, a maior parte para gente com rendas superiores a US$ 200 mil.
E então, esse projeto é bom para você? Sim, se você se enquadrar nos seguintes critérios:
- Sua renda é de mais de US$ 200 mil ao ano.
- Você tem um emprego que vem com um bom plano de saúde.
- Você não consegue imaginar nenhuma situação em que você perderia esse emprego ou nível de renda.
- Você não tem familiares ou amigos que não se enquadram nos critérios acima.
- Você tem zero empatia pelas outras pessoas.
O conjunto de pessoas que pode marcar todas essas caixas não é uma coalizão política vencedora. Mas as lideranças republicanas acreditam que os eleitores delas são tribais o bastante, e suficientemente isolados de informação a ponto de ignorarem o ataque às vidas deles e continuarem votando nos republicanos. De fato, elas acreditam que, assim que esses eleitores perderem os planos de saúde, forem atingidos com contas que exijam gastos próprios esmagadores e verem seus amigos e vizinhos encararem a ruína, eles vão botar a culpa nos democratas.
Eu queria ter certeza de que essa crença é falsa.