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Lições do passado populista da América Latina

Cardiff Garcia, do Financial Times, escreveu recentemente um artigo tentando entender o que pode acontecer com a economia sob o presidente Donald Trump, partindo da clássica análise de Dornbusch-Edwards sobre o populismo macroeconômico na América Latina. O Sr. Garcia destaca que o crescente gasto do governo e aumentos salariais por decreto tendem a produzir um […]

BOLSA DE NOVA YORK: até agora, a exuberante reação dos mercados à vitória de Trump – todos os índices de ações dos EUA atingiram vários recordes – não se refletiu em “dados concretos” / (Spencer Platt/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 12h46.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h01.

Cardiff Garcia, do Financial Times, escreveu recentemente um artigo tentando entender o que pode acontecer com a economia sob o presidente Donald Trump, partindo da clássica análise de Dornbusch-Edwards sobre o populismo macroeconômico na América Latina.

O Sr. Garcia destaca que o crescente gasto do governo e aumentos salariais por decreto tendem a produzir um “barato de açúcar” seguido de uma quebra. É uma ideia boa – mas eu desconfio que seja altamente enganosa, porque o Sr. Trump não é um populista de verdade, só interpreta o papel de um em reality shows de TV.

O ensaio de Dornbusch-Edwards focava os exemplos dos presidentes do Chile Salvador Allende e do Peru Alan García; uma atualização do estudo provavelmente incluiria Argentina, Venezuela e outros países. Mas quão relevantes são esses exemplos para a América de Trump?

O Sr. Allende, por exemplo, foi um populista real que de fato tentou elevar salários e reduziu gastos drasticamente. Confira as despesas de consumo na participação do produto interno bruto durante o governo dele no início da década de 70 no gráfico desta página.

É um aumento e tanto – nos Estados Unidos, seria o equivalente a aumentar os gastos em quase 1 trilhão de dólares a cada ano.

O Sr. Trump está em vias de fazer algo parecido? Ele montou uma equipe de plutocratas, com um secretário do trabalho que se opõe fortemente a aumentos no salário mínimo. Ele fala em infraestrutura, mas a única coisa que se assemelha a um plano nesse setor é um documento que propõe créditos fiscais para investidores privados, o que não envolveria muitos gastos públicos mesmo se levasse a novos investimentos (ao contrário de uma doação para investimentos que teriam acontecido de qualquer jeito).

O Sr. Trump parece determinado a detonar o déficit, mas somente por meio de cortes tributários para os americanos ricos. Os benefícios para as classes baixa e média parecem destinados a sofrer cortes severos.

Por que é, então, que alguém considera o Sr. Trump um “populista”? Tem basicamente a ver com afeto, com se deparar com alguém que vai bater de frente com os pretensiosos liberais elitistas (e, é claro, justificar o racismo da classe trabalhadora de bem). Talvez nós tenhamos algum protecionismo; mas não há indicativo algum de que o programa econômico do presidente irá se parecer com o populismo de outros países.

Nesse caso, por que é que nós sequer sentiríamos o “barato de açúcar” de populismos do passado? Uma explosão de crescimento causada por cortes fiscais é possível, eu imagino. Mas não vai haver muito estímulo do ponto de vista dos gastos.

ficha_krugmann

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Cardiff Garcia, do Financial Times, escreveu recentemente um artigo tentando entender o que pode acontecer com a economia sob o presidente Donald Trump, partindo da clássica análise de Dornbusch-Edwards sobre o populismo macroeconômico na América Latina.

O Sr. Garcia destaca que o crescente gasto do governo e aumentos salariais por decreto tendem a produzir um “barato de açúcar” seguido de uma quebra. É uma ideia boa – mas eu desconfio que seja altamente enganosa, porque o Sr. Trump não é um populista de verdade, só interpreta o papel de um em reality shows de TV.

O ensaio de Dornbusch-Edwards focava os exemplos dos presidentes do Chile Salvador Allende e do Peru Alan García; uma atualização do estudo provavelmente incluiria Argentina, Venezuela e outros países. Mas quão relevantes são esses exemplos para a América de Trump?

O Sr. Allende, por exemplo, foi um populista real que de fato tentou elevar salários e reduziu gastos drasticamente. Confira as despesas de consumo na participação do produto interno bruto durante o governo dele no início da década de 70 no gráfico desta página.

É um aumento e tanto – nos Estados Unidos, seria o equivalente a aumentar os gastos em quase 1 trilhão de dólares a cada ano.

O Sr. Trump está em vias de fazer algo parecido? Ele montou uma equipe de plutocratas, com um secretário do trabalho que se opõe fortemente a aumentos no salário mínimo. Ele fala em infraestrutura, mas a única coisa que se assemelha a um plano nesse setor é um documento que propõe créditos fiscais para investidores privados, o que não envolveria muitos gastos públicos mesmo se levasse a novos investimentos (ao contrário de uma doação para investimentos que teriam acontecido de qualquer jeito).

O Sr. Trump parece determinado a detonar o déficit, mas somente por meio de cortes tributários para os americanos ricos. Os benefícios para as classes baixa e média parecem destinados a sofrer cortes severos.

Por que é, então, que alguém considera o Sr. Trump um “populista”? Tem basicamente a ver com afeto, com se deparar com alguém que vai bater de frente com os pretensiosos liberais elitistas (e, é claro, justificar o racismo da classe trabalhadora de bem). Talvez nós tenhamos algum protecionismo; mas não há indicativo algum de que o programa econômico do presidente irá se parecer com o populismo de outros países.

Nesse caso, por que é que nós sequer sentiríamos o “barato de açúcar” de populismos do passado? Uma explosão de crescimento causada por cortes fiscais é possível, eu imagino. Mas não vai haver muito estímulo do ponto de vista dos gastos.

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