Gente, como eu queria ser um dos Gs
Por que continuamos a promover reuniões como a do G7 e sua nova contrapartida, o G20, que inclui grandes economias em desenvolvimento?
Publicado em 4 de setembro de 2019 às, 14h54.
Antes do encontro do último fim de semana do G7, eu previ que o presidente Trump ia ter uma crise de nervos. Ele é, afinal de contas, um homem que vive à base de demonstrações de dominação, de “vencer” e de humilhar outras pessoas. No entanto, o G7 é, pelo menos em termos formais, um encontro de iguais, em que se espera que discutam ações conjuntas sobre interesses compartilhados, o que não tem absolutamente nada oferecer ao ego trumpiano.
Sem surpresa, o comportamento de Trump foi bizarro. À parte os pronunciamentos contraditórios que ele fez sobre a política comercial – Eu vou punir a China! Ou quem sabe não! Na verdade, sim! Apesar de eles terem pedido um acordo! -, ele pareceu simplesmente inventar uma realidade na qual as outras lideranças davam a ele a obediência que ele considera merecida. “Líderes do mundo”, tuitou ele, estavam perguntando “por que a imprensa americana odeia tanto o seu país?”
Mas afinal, por que é que nós promovemos essas reuniões? Do que se tratam os Gs – o G7 e sua nova contrapartida, o G20 (que inclui grandes economias em desenvolvimento, e é possivelmente mais importante hoje em dia)? E mais, faz diferença que este encontro tenha sido um fiasco?
A verdade é que eu tenho sentimentos mistos sobre todo o conceito dos Gs. Estas reuniões de cúpula são reflexivas e pretensiosas. O verdadeiro trabalho de diplomacia internacional é feito por autoridades de escalões mais baixos que de fato sabem sobre o que estão falando. O resultado final de um G7 ou de um G20 é, no melhor dos casos, um comunicado que basicamente confirma o que os profissionais já estavam debatendo, e um bocado de capital humano qualificado precisa ser gasto para cuidar dessa ratificação formal. Por outro lado, a ostentação pode servir para alguma coisa, dando a políticas econômicas sensíveis um nível de prestígio e talvez até de eficácia que um simples entendimento entre equipes não é capaz de proporcionar.
O primeiro G – um G6, na verdade – foi realizado em 1975, durante um período de crise global, embora o formato da crise (inflação em disparada e instabilidade cambial) fosse muito diferente do que nós vimos de lá para cá. Ainda assim, a ideia era que, ao reunir os líderes das economias mais importantes do mundo, os países poderiam cooperar para resolver ou, no mínimo, amenizar problemas comuns. No pior dos cenários, talvez eles pudessem concordar em adotar ações que tentassem conquistar ganhos às custas de outros países.
Na prática, as oportunidades para esse tipo de colaboração econômica estão sendo um tanto raras. O Acordo de Plaza de 1985 – em termos estritos, um acordo entre os ministros da Fazenda de cinco países, em vez de uma reunião do G7, mas que em geral é considerado parte desse processo – provavelmente ajudou a puxar para baixo um dólar supervalorizado, que estava perturbando o comércio mundial.
Além desse, em 2009, diante da crise financeira mundial, o grupo ampliado do G20 se encontrou em Londres e saiu de lá com um acordo que talvez possa ter feito a diferença. Os países concordaram em proporcionar “liquidez” (isto é, deixar o dinheiro circulando para que ninguém ficasse sem dólares ou euros); evitar políticas comerciais protecionistas; e oferecer incentivos fiscais por meio de aumentos de gastos e cortes de impostos. Tudo isso provavelmente ajudou a conter de fato a crise.
Mas, se Gs tão produtivos assim são cada vez mais raros, por que realizar reuniões todo ano? Uma resposta é que existem outras ideias, não estritamente econômicas, em que a colaboração pode ser importante: o aquecimento global é o exemplo mais óbvio, mas problemas como a sonegação fiscal global também importam. Além disso, quem defende os Gs argumenta que encontros regulares entre as principais lideranças tiram esses líderes de suas zonas de conforto – os subordinados próximos, que dizem a eles o que eles querem ouvir – e ajudam a criar uma base de confiança e entendimento que facilita adotar medidas coletivas quando realmente é preciso.
Ou seja, basicamente o processo G é uma boa ideia, e com líderes normais – pessoas como Barack Obama ou mesmo George W. Bush – ajuda a tornar o mundo o lugar um pouco melhor.
Porém, quando as lideranças mundiais incluem gente como Trump, eu não tenho tanta certeza assim. Todas as evidências indicam que tirar Trump de sua zona de conforto não abre a cabeça dele, só causa um chilique. O que quer que esse G7 tenha feito, não criou confiança e respeito.
Ainda assim, imagino que nós precisemos manter o processo. Quem sabe um dia desses nós tenhamos de novo um presidente para quem isso faz bem.