É assim que nós corremos o risco de uma guerra comercial?
Mesmo com práticas protecionistas, escolhas do governo Trump indicam para proteção negativa sob a produção
Publicado em 19 de março de 2018 às, 11h21.
Que raciocínio econômico foi aplicado às tarifas que o presidente Trump anunciou recentemente? Nenhum. Na verdade, os economistas (“economistas”?) que o presidente escuta atualmente parecem considerar que seu trabalho não consiste em nada além de confirmar a sabedoria do que quer que ele decida fazer.
Por exemplo, Peter Navarro, o assessor do Sr. Trump para questões comerciais, disse recentemente à Bloomberg: “Minha função como economista, na verdade, é tentar fornecer a análise oculta que confirme a intuição dele. E a intuição dele está sempre certa nestes temas.”
Tradução: O Sr. Navarro vê o papel dele como o de um propagandista, e não como uma fonte de conselhos independentes.
Mas o resto de nós não precisa aceitar a ideia de que Nosso Amado Líder está sempre certo. E, de fato, estas tarifas são coisas estranha e porcamente consideradas, mesmo que tudo o que se queira fazer seja criar empregos no setor de manufatura, deixando de lado todas as outras ramificações.
Por quê? Porque o aço e o alumínio não são bens finais; ninguém consome aço diretamente. Em vez disso, eles são bens intermediários, usados basicamente como insumos por outros setores de manufatura nos Estados Unidos. E ainda que as tarifas que aumentem os preços primários do metal possam ampliar a produção destes metais, elas tornam o resto da manufatura americana menos competitivo.
Economistas especializados em comércio costumavam falar bastante sobre este tipo de coisa. No tempo em que a maioria dos países em desenvolvimento estava tentando promover a manufatura com taxas e cotas de importação, nós costumávamos falar em “proteção efetiva”, que dependia da estrutura completa das tarifas. Às vezes os índices efetivos de proteção eram muito altos: Se, digamos, você impusesse uma taxa modesta sobre carros mas nenhuma sobre peças automotivas importadas, a taxa de proteção efetiva para a montagem de automóveis poderia facilmente chegar à porcentagem das centenas. Às vezes, porém, as taxas eram negativas; Se você aplicasse uma taxa sobre os componentes mas não sobre o carro, você na verdade estaria desestimulando a montagem de veículos.
Claramente, nós podemos aplicar este tipo de análise às tarifas de Trump. De fato, há pessoas lá fora tentando colocar números no plano, embora eu não apostasse muita coisa neles, por motivos que ficarão claros em um minuto.
O que eu quero fazer, principalmente para exercitar meus próprios músculos analíticos, é esboçar brevemente como esta história deveria se desenrolar neste caso. Para os propósitos deste artigo, eu vou tratar os Estados Unidos como uma pequena economia aberta lidando com os preços dados do mercado mundial; isso não está muito certo, mas não creio que mude o argumento básico se eu deixar a coisa mais realista.
Pois bem, vamos supor que nós impuséssemos uma tarifa sobre as importações de aço. O que isso faz é aumentar o preço que os produtores de aço podem cobrar, e deveria levar a uma alta na produção de aço. Contudo, o aço é usado por outros produtores, como fabricantes de automóveis, e os custos deles aumentam quando os preços do aço sobem, causando um recuo na curva de oferta deles e reduzindo sua produção.
Ou seja, qual é o efeito líquido na produção industrial e nos empregos neste segmento? Não é óbvio, porque tudo depende dos detalhes. Quão sensíveis ao preço são a produção e os índices de emprego no setor de aço? Quão sensíveis ao custo são a produção e o emprego em outros setores? As pessoas estão tentando estimar tudo isso, mas eu não colocaria fé demais nestas estimativas, simplesmente porque estas são perguntas difíceis de responder. E há mais complicações uma vez que, por exemplo, você leve em consideração os efeitos possíveis na taxa de câmbio.
Ainda assim, o ponto-chave é que, ainda que ele esteja abraçando o protecionismo, o Sr. Trump está impondo uma proteção negativa sob muito da produção. Dificilmente esta é a história que ele quer que as pessoas escutem, e quase com certeza ele está fazendo isso por acidente, fruto de pura ignorância (porque os “consultores” dele não trabalham no ramo de, veja você, fazer recomendações).
E é desse jeito que nós corremos o risco de uma guerra comercial?