Exame.com
Continua após a publicidade

Bem-vindo à Grande Rendição

Na sexta-feira passada, títulos de 10 anos fecharam a 1,36% nos Estados Unidos, quase 100 pontos-base abaixo do registrado em dezembro de 2015, quando o Federal Reserve realizou aquela que seria a primeira de muitas subidas da taxa de juros. O índice de títulos de 10 anos está de novo abaixo de zero, a -0,98%, […]

LEHMAN BROTHERS: oito anos após colapso do banco, não há sinais de uma recuperação forte em lugar algum, e as percepções de oportunidades de investimento no setor privado continuam fracas / Bloomberg / Getty Images
LEHMAN BROTHERS: oito anos após colapso do banco, não há sinais de uma recuperação forte em lugar algum, e as percepções de oportunidades de investimento no setor privado continuam fracas / Bloomberg / Getty Images
P
Paul Krugman

Publicado em 18 de julho de 2016 às, 11h44.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 17h55.

Na sexta-feira passada, títulos de 10 anos fecharam a 1,36% nos Estados Unidos, quase 100 pontos-base abaixo do registrado em dezembro de 2015, quando o Federal Reserve realizou aquela que seria a primeira de muitas subidas da taxa de juros. O índice de títulos de 10 anos está de novo abaixo de zero, a -0,98%, e as taxas nominais da Alemanha tiveram forte queda ao valor de dez anos atrás, a -0,19%. É impressionante. Mas o que isso quer dizer?

As pessoas ainda culpam os bancos centrais por impor taxas “artificialmente baixas”, o que é de certa forma surpreendente e deprimente. Artificialmente baixas comparadas a quê? Se os bancos centrais estivessem comprometidos com uma flexibilização monetária excessiva, os resultados seriam visíveis na forma de inflação crescente – de fato, foi o que os críticos do alívio quantitativo disseram que aconteceria. Porém, não foi o que houve, e agora eu não faço ideia de quais são os critérios deles para taxas não-artificialmente baixas.

Mas por que os retornos estão tão baixos – e por que eles caíram tanto neste ano?

Um ponto-chave é que não há um indicativo desta vez de que haverá um pouso seguro, já que os investidores querem taxas de retorno maiores nos ativos de alto risco e estão cultivando ativos seguros. Nada mais está acontecendo com os spreads em títulos corporativos mais arriscados.

Também é interessante notar que, apesar do Brexit e de toda a conversa sobre as preocupações com os bancos e atritos quanto à austeridade na área do euro, os spreads de títulos de risco do euro de 10 anos da Alemanha deram uma acalmada.

Desta forma, não parece que estejamos diante de uma situação de risco zero, ou que os títulos do governo representem um porto seguro. Em vez disso, o que se mostra consistente com os dados é a ideia de que os investidores estão jogando a toalha e aceitando estagnação secular como o novo normal.

Quase oito anos depois do colapso do Lehman Brothers, não há sinais de uma recuperação forte de verdade em lugar algum, e as percepções de oportunidades de investimento no setor privado continuam fracas. As ações e preços de terras estão um tanto altas, mas provavelmente porque o desconto é baixo, e não porque haja uma expectativa de grandes retornos.

Chame isso de Grande Rendição.

ficha_krugmann

© 2016 The New York Times