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Entenda o reflexo da alta na taxa de juros para os seus investimentos

Como a elevação dos juros impacta renda fixa, renda variável e o mercado brasileiro

Como a elevação dos juros impacta renda fixa, renda variável e o mercado brasileiro  (	Xavier Lorenzo/Getty Images)
Como a elevação dos juros impacta renda fixa, renda variável e o mercado brasileiro ( Xavier Lorenzo/Getty Images)

O ano de 2024 começou com expectativa de crescimento do PIB em 1,5% e de uma inflação na casa de 3,9%. Contudo, o desempenho econômico foi muito mais forte do que o esperado. Entramos no último mês do ano com expectativa de um crescimento do PIB de 3,2% e de um IPCA de 4,7% (acima do teto da meta). Esse ritmo mais forte da atividade econômica e da inflação elevou a curva de juros brasileira. 

Há um ano, logo após o início do ciclo de queda da taxa de juros, esperava-se uma taxa Selic de 9,0% no final de 2024. Esse cenário foi mudando ao longo do ano, conforme a inflação se mostrou mais alta. Atualmente, a poucos dias da última reunião do COPOM no ano, a expectativa é de continuidade e até aceleração do ciclo de alta da taxa básica de juros, encerrando 2024 provavelmente entre 11,75% e 12,0% a.a. 

Outros fatores que têm impactado a taxa Selic são a desconfiança com a saúde fiscal do governo brasileiro e a taxa de juros norte-americana. 

Na última semana do mês, foram anunciadas pelo governo as medidas de corte de gastos esperadas há algum tempo. O valor do corte ficou dentro do esperado, cerca de R$ 70 bilhões em dois anos e, segundo o governo, com impacto potencial de R$ 327 bilhões até 2030. Contudo, a surpresa ficou por conta do anúncio da isenção de imposto de renda para as pessoas físicas que recebem até R$ 5 mil/mês, que não era esperada pelo mercado e que tem potencial para impactar negativamente o equilíbrio das contas públicas. O governo afirmou que a medida será compensada pelo aumento na alíquota tributária para pessoas com renda acima de R$ 50 mil/mês. 

Como resultado da desconfiança do mercado em relação ao impacto da medida sobre as contas públicas, a curva de juros brasileira disparou e o real se depreciou frente ao dólar. Atualmente, os títulos públicos com taxa de juros prefixada e vencimento em 2027 estão remunerando 14,5% a.a. Já o dólar alcançou recordes históricos, ultrapassando os R$ 6,00, enquanto a bolsa de valores apresentou forte queda. No ano, o dólar valorizou 23,6% frente ao real, e o principal índice da bolsa de valores brasileira caiu 6,0%. 

Essa desconfiança do mercado ainda apresenta impacto moderado sobre o Credit Default Swap (CDS) dos títulos públicos brasileiros, que está em 161,5 pontos-base, acima dos 139,3 pontos-base do início do ano. É importante lembrar que, no início de 2023, o CDS brasileiro estava em 229 pontos-base e, em agosto de 2022, maior patamar dos últimos anos, chegou a 300 pontos-base. 

Nos Estados Unidos, a taxa de juros dos T-bonds (títulos públicos com vencimento em 30 anos) iniciou o ano em 4,1% a.a., chegando a 4,8% a.a. em meados de maio, e desacelerou nas últimas semanas para 4,3% a.a. Uma taxa de juros mais alta por lá impacta as taxas de juros no resto do mundo, especialmente em países emergentes como o Brasil. 

Em resumo, 2025 começará com taxas de juros acima do esperado até então, o que deve continuar impactando negativamente o preço dos ativos de risco e favorecendo a renda fixa pós-fixada no Brasil. Investidores com perfil de risco para renda variável e horizonte de investimento de médio e longo prazo podem encontrar bons preços para investir em empresas de qualidade. Por outro lado, a renda fixa também apresenta oportunidades, com destaque para os títulos indexados à inflação e os títulos pós-fixados. 

Os títulos Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029 vêm apresentando taxa real de juros acima de 7,0% a.a., o que é uma boa oportunidade para investidores conservadores. Já os títulos pós-fixados, como CDB, LCA, LCI e Tesouro Selic, podem contribuir com o portfólio do investidor para aproveitar a continuidade do ciclo de alta na taxa de juros nos próximos meses. 

Autor: Jorge Ferreira, economista, CFA charterholder, mestre em Ciências Contábeis, sócio fundador da Ostrya Investimentos e Ostrya Capital, além de professor de economia, finanças e gestão em cursos de graduação, MBA e Mestrado na Unisinos.